No fim das contas, ainda bem que Patty Jenkins não dirigiu Thor 2 | JUDAO.com.br

Por pouco, a diretora de Mulher-Maravilha não foi a responsável pelo segundo filme do Thor — que, para ela, teria uma pegada BEM diferente do tal do Mundo Sombrio.

A sinopse oficial de Thor: O Mundo Sombrio (2013), o segundo filme do Deus do Trovão, falava sobre como o herói “batalha para salvar a Terra e os Nove Reinos de um inimigo obscuro que ameaça todo o universo”. E também dizia que “após os eventos de Os Vingadores, ele luta para restaurar a ordem no cosmos mas uma raça antiga liderada pelo vingativo Malekith retorna para afundar a galáxia nas trevas”. E aí vem a frase de impacto: “Thor embarca em sua jornada mais perigosa e pessoal, forçando-o a sacrificar tudo para nos salvar”.

Sobre este lance de “jornada pessoal”, por muito pouco o filme não foi ainda mais PESSOAL, assim, de verdade mesmo. Porque a ideia para a continuação da saga do loirão teria uma abordagem BEM diferente caso a direção não tivesse ficado a cargo de Alan Taylor, mas sim da primeira opção da Marvel para substituir Kenneth Branagh, o responsável pelo primeiro filme (e que não quis voltar por ter relatado um processo relativamente bem difícil de pós-produção). No caso, tamos falando de Patty Jenkins.

É, ela mesma. A que acabou trocando a mitologia nórdica pela grega e a Casa das Ideias pela Distinta Concorrência. ;)

Anunciada oficialmente em Setembro de 2011, Patty seria a primeira mulher a dirigir uma produção da Marvel Studios (lembrando que o Justiceiro de Lexi Alexander NÃO é considerado parte do MCU) — e, justamente por isso, acabou sendo anunciada com toda a pompa e circunstância, em especial por seu excelente trabalho de direção de atores e caracterização de personagens, que garantiu o Oscar para Charlize Theron em Monster, de 2003. Tava todo mundo empolgadão.

Só que, apenas três meses depois, em Dezembro daquele mesmo ano, pimba, veio o anúncio de que ela estava fora do projeto. O motivo? As tais diferenças criativas, sempre elas.

Em entrevista ao THR, ela afirmou que o pouco tempo que trampou com a Marvel foi muito bom. “Chegamos a esta conclusão de maneira totalmente amigável e eu espero poder trabalhar com eles novamente. Eu amo filmes de super-heróis e venho dizendo pros meus agentes tem muito tempo que adoraria fazer um”, contou. “Esta é a verdadeira revolução. Os caras da Marvel são tão corajosos em termos das pessoas que eles escolhem — e não acho que eles tiveram qualquer dúvida sobre mim por eu ser uma mulher”.

Quem ficou mais puta da vida com tudo isso, no entanto, foi a Natalie Portman. Fontes do THR chegaram a afirmar que, caso não estivesse obrigada contratualmente a retornar ao papel de Jane Foster, a atriz teria pulado fora do projeto junto com a diretora. Questionando a continuidade da própria carreira depois que o filho nasceu, Portman foi uma das principais incentivadoras da contratação de Patty e afirmava estar orgulhosa de ter tido participação na abertura de uma porta como esta. Assim sendo, dá pra imaginar o descontentamento de Nat, com quem a Marvel prometeu trabalhar bem de perto para que ela inclusive tivesse participação na seleção do novo diretor.

Ainda de acordo com o THR, as tais “diferenças criativas” entre Patty Jenkins e o estúdio não foram tão “pacíficas” assim e tiveram um pouco a ver com a tal da gestão de tempo.

Eu poderia ter feito um grande Thor se tivesse feito a história que eu queria. Mas não acho que eu era a pessoa ideal para fazer um grande Thor a partir da história que ELES queriam

A Marvel estaria insatisfeita com os prazos e uma “falta de clareza nas escolhas”, levando-os a acreditar que talvez a diretora não tivesse pulso firme para manter tudo no prazo e que a data de estreia do filme, em Novembro de 2013, pudesse ser perdida. Por mais que ela ainda mantenha o argumento da separação em bons termos (“Eu sou grata a estes caras por terem pensado em uma mulher para o Thor. Por que eles fariam isso? Não precisavam e fizeram mesmo assim”, contou recentemente ao EW). Uma outra fonte, desta vez do lado de Jenkins, reforça que ela foi tão clara e explícita sobre sua visão para o filme desde o começo que nem imaginava que fosse ser contratada, em primeiro lugar.

A ideia era fazer uma space opera com foco na separação entre Thor e sua amada Jane Foster, ele em Asgard, ela em Midgard, com uma série de obrigações junto ao trono do pai Odin e aos Vingadores para separá-los. Essencialmente, seria explorar que os dois se amavam mas não estavam “destinados” a ficar juntos, com a devida oposição do monarca caolho pra complicar tudo. Um tom bem mais Romeu e Julieta, muito diferente do que acabou sendo O Mundo Sombrio, no fim das contas.

Bom... a ideia é bem diferente, isso é fato. Diferente de Thor 2 e diferente do que a Marvel como um todo já fez até o momento. E não deixo de achar que gostaria de tê-la visto acontecer, afinal de contas. Mas enfim.

“Eu nem acho que teria feito um bom filme, porque eu não era a diretora certa”, afirmou Patty ao Uproxx. “E acho que, como resultado, eu nem teria entrado na disputa para dirigir Mulher-Maravilha caso este fosse um filme ruim. Esta é uma das razões pelas quais fico satisfeita de não ter continuado. Porque eu poderia ter feito um grande Thor se tivesse feito a história que eu queria. Mas não acho que eu era a pessoa ideal para fazer um grande Thor a partir da história que ELES queriam”. E apesar de dizer que ficou “de coração partido” com a decisão na época, ela afirma que, em retrospecto, tudo faz sentido.

“É preciso ter certeza de que o filme que a gente quer fazer também seja o filme que o estúdio espera”, fechou ela, em um papo com o Indiewire.

Se eu faço algo, e isso é do jeito que eu quero, não posso deixar de pensar que isso representa um pouco das mulheres sentadas nas cadeiras de diretoras em todo lugar, e neste caso seria ruim para todo mundo

Outra de suas preocupações também foi de que este Thor 2 “equivocado” pudesse ser um filme que causasse um efeito negativo em outras diretoras. “Se eu faço algo, e isso é do jeito que eu quero, não posso deixar de pensar que isso representa um pouco das mulheres sentadas nas cadeiras de diretoras em todo lugar, e neste caso seria ruim para todo mundo”. Algo na linha “ah, viu, contrataram uma mulher pra dirigir aquele filme de super-herói e olha como ela cagou, isso é trabalho de homem” e tudo aquilo que você bem conhece das caixas de comentários por aí.

“Pensei que não poderia fazer algo no qual não acreditava e que tivesse uma escala destas. Eu sabia que ia pesar não só nas minhas costas, mas também nas costas de tudo quanto é diretora tentando mostrar trabalho”.

No fim, ela enxerga o copo meio cheio e acredita que os meses que passou com a Marvel foram essenciais para torná-la uma cineasta melhor e mais competente, mais preparada para lidar com as demandas da Mulher-Maravilha e da DC. “O aprendizado foi ótimo. Cada momento me ajudou no que estamos fazendo aqui”.

Patty Jenkins. MAS QUE MULHER. <3