Powerless é também bastante graçaless | JUDAO.com.br

Série ambientada no Universo DC se esquece que, muito mais do que um monte de referências e sacadinhas, uma comédia precisa ser antes de tudo engraçada, de alguma maneira

“A DC tem acertado muito mais na TV do que nos cinemas”, disse algumas vezes este mesmo site que você lê nesse momento. Estávamos falando de produções como Supergirl, por exemplo, que tem a capacidade de ser mais digna da herança de Krypton do que qualquer coisa dirigida por Zack Snyder. Não coloque Powerless nessa lista.

Pô, uma comédia sobre como os humanos se viram em Charm City, uma cidade povoada por heróis e vilões superpoderosos que destroem tudo em seu caminho e causam milhões em danos ao patrimônio público é um conceito divertido. Mas eles se esqueceram de cumprir uma regra essencial: uma comédia é, antes de tudo, uma comédia. E, antes de qualquer coisa na vida, uma comédia precisa pelo menos ser engraçada.

Powerless não chega nem perto disso.

O humor da série não consegue ser nem popularesco e direto como o de um Zorra Total da vida e tampouco entrega um humor mais sutil e satírico como o de um Tá no Ar. Não é pastelão que joga pra galera e nem te provoca ao sacanear sempre nas entrelinhas. Nem torta na cara e nem a fina arte do trocadilho. O resultado acaba ficando numa perigosa zona cinzenta, que não se decide, que não sabe se é uma coisa ou outra – por mais que, vá, nitidamente Powerless se venda (de maneira até meio arrogante) como a segunda opção. Mas vou reforçar aqui: não, não é.

Tem um monte de referências? Um bocado, do gás do riso do Coringa à aparição do cláááááááássico Starro, passando pela presença da heroína B Raposa Escarlate. A abertura, então, é lindíssima, posicionando os personagens como espectadores assustados no meio de capas clássicas dos gibis da DC. De encher os olhos de qualquer fã de quadrinhos. Mas eu trocaria tudo isso por um roteiro minimamente melhor estruturado.

As comparações com The Office, por exemplo, que surgiram na época em que a série foi anunciada, não fazem QUALQUER sentido aqui. Nem com a versão americana e muito menos com a inglesa, aliás. Powerless parece até ter um bom elenco de coadjuvantes, mas sofre com uma falta crônica de timing cômico. As piadas são óbvias, genéricas, do tipo que você adivinha como vão terminar antes mesmo que cheguem na metade. E pelo menos este primeiro episódio sofre de um problema gravíssimo de edição: basicamente, parece que pegaram um monte de esquetes separados, que têm começo, meio e fim por conta própria, e costuraram. Não parece uma história única, mas sim um amontoado feito às pressas de ideias que sobraram de uma reunião qualquer de uma sala de roteiristas.

Talvez parte da culpa esteja na mudança radical que a série sofreu em comparação ao episódio piloto exibido durante a San Diego Comic-Con do ano passado, antes que o criador da série, Ben Queen, abandonasse o projeto pelas já clássicas “diferenças criativas”. Antes, estávamos falando da rotina da Retcon Insurance, seguradora especializada em proteger pessoas comuns de danos causados pelas batalhas entre seres com superpoderes e que é regida com mão de ferro por um sujeito arrogante que quer um aumento de 25% nas negativas de pagamentos. Promissor, hein?

Mas não foi isso que Powerless se tornou. Saíram piadas que referenciavam, de acordo com as resenhas de sites como Nerdist e IGN, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, Aquaman, Brainiac, Lex Luthor, Liga da Justiça e até a onipresente lanchonete Big Belly Burger, aquela que os personagens do Arrowverse adoram, e o novo primeiro episódio agora nos apresenta a Wayne Security, subsidiária das Indústrias Wayne (AH VÁ) que desenvolve produtos para defender o cidadão comum da ameaça diária que é se tornar dano colateral de conflitos entre heróis e vilões.

Deu pra sacar onde, exatamente, ficou o abismo entre o pastelão e a sátira? Percebeu onde no meio do caminho ficou a chance de ser um The Office da vida? ;)

Enquanto Vanessa Hudgens, com um sorriso gracioso e um olhar bastante expressivo, até que se esforça como Emily Locke, a recém-chegada nova chefe do departamento de pesquisa e desenvolvimento, sobra para o ótimo Alan Tudyk a missão de roubar a cena como o primo menos famoso de Bruce Wayne. Ele está em excelente forma, isso não dá pra negar. Mas é impossível não pensar que, ao invés de um bobalhão com pouca inteligência que vive tentando agradar o primo de Gotham City, Alan poderia ter nos brindado com a performance de um canalha sem escrúpulos, tipo o DIMINUTO chefe do patriarca de Os Incríveis. Tentador.

De qualquer maneira, não adianta agora ficar chorando pelo que Powerless poderia ter sido. Agora, precisamos nos contentar com o que ela é de fato: uma piada muito da sem graça que não tem nem um pavê pra dar um embalo.

Vejamos apenas se, contada uma segunda vez, alguém muda o enredo ou aquela sacada no final pra que ela seja minimamente mais RÍVEL.