O curta, divulgado essa semana, mostrou uma visão totalmente sombria e interessante daquele mundo dos Power Rangers clássicos – e deveria ser muito levado em consideração pro reboot da franquia nos cinemas, mesmo que com eventuais ajustes
Memória afetiva. Não existe nada mais poderoso pra uma marca do que isso: ser uma parte tão importante da vida das pessoas que aquilo se torna inesquecível, bastando apenas uma fagulha, um detalhe, pra reviver tudo isso. Só que não é de fagulhas que se vive a vida. É preciso ir além.
De certa forma, foi essa fagulha que se acendeu essa semana. Sim, tou falando de Power/Ranger, aquele curta totalmente independente produzido por Adi Shankar, que, além de ter trabalhado no filme Dredd, já tinha feito fan films do Venom e do Justiceiro – além de ser dirigido por Joseph Kahn. Nesse novo curta, Shankar e Khan revisitam os Rangers originais e nos traz algo sensacional não só porque ativou a nossa memória afetiva, daquele pessoal que viu os Power Rangers quando era criança, mas também porque CRESCEU conosco.
E foi justamente esse PASSO A MAIS que fez tudo valer a pena – e que deveria ser, nem que seja em parte, o caminho a ser usado pelo futuro reboot da franquia nos cinemas.
Pensa comigo: Power Rangers estreou em 1993, utilizando como base um Super Sentai japonês produzido pouco antes. Aquilo funcionou muito também, sendo uma das maiores sacadas na vida do empresário Haim Sabam – que até tentou repetir a fórmula, mas não conseguiu (Oi, VR Troopers!). Mais de uma geração foi impactada por aquele sucesso, os Power Rangers foram expandidos, ganhando um esquema de temporadas, e Saban encheu ainda mais o bolso de dinheiro quando vendeu tudo para a Disney, em 2001.
Só que o mundo mudou. Aquelas crianças dos anos 90 cresceram – e as crianças de hoje possuem outras preferências. A franquia ainda tá lá, mas foi repassada novamente para a Saban depois que a Disney achou que não lhe era mais interessante. Não há mais frenesi, modinha, nem nada disso.
Até houve uma evolução nos roteiros e tudo mais, mas sempre ficou meio que aquele ar ~Malhação. Recentemente, aproveitando os 20 anos da franquia, homenagearam as encarnações anteriores em Power Rangers Megaforce. E, bom, tirando as participações do Jason David Frank, o eterno Ranger Verde, ninguém comentou TANTO essa temporada quanto falaram do vídeo dessa semana.
O motivo? Não é a participação do também eterno Dawson (James Van der Beek) e da Katee Sackhoff. Quer dizer, até é, um pouco. Mas é justamente por abordar os Rangers originais crescidos, fodidos, num mundo que deu errado depois que os terráqueos se entregaram pro Império das Máquinas, aqueles vilões da fase Zeo. É como se eles tivessem perdido a inocência, como se o mundo não fosse tão fácil, tão simples quanto “bem e mal”.
Exatamente como aconteceu nas nossas vidas.
Agora, aquela coisa que fica é “PORRA, é assim que deveriam fazer o filme!”. Bom, não exatamente. E digo isso não por conta das inconsistências do curta (que, por exemplo, usa o elenco original, quando sabemos que eles estavam separados quando chega o Império das Máquinas), isso pouco importa. Tou querendo dizer que simplesmente um reboot depois de mais de 20 anos precisa ser acessível para quem viu o original e para quem não viu. Um exemplo bom? Star Trek.
É possível sim botar um pé no original, com participações especiais dos Rangers clássicos, pra ativar aquela coisa de memória afetiva. Só que a história precisa usar isso pra construir uma nova mitologia, novos enredos, algo mais moderno e palpável pra toda a família – começando por aquele ex-moleque que viu tudo em 1993 e chegando no FILHO desse cara. O próprio Jason David Frank já se ofereceu pra algo assim. “Eles não me deram detalhes específicos porque estão na correria. [...] Mas eles acham que eu farei parte disso, porque não existe filme, ao menos, sem mim’”, disse o ator em entrevista ao ComicBook.com em janeiro, afirmando também que as gravações começariam ainda em 2015.
Em 2012, aliás, Frank já tinha dado a dica de que esse era o caminho a seguir. “Eu acho que Haim Saban é um idiota por não pegar estes Rangers do passado e fazer uma série [no tom de] Batman – O Cavaleiro das Trevas pra vocês. Seria interessante se fizéssemos algo assim, algo mais dark, usando estes personagens; trazendo o Ranger Branco de volta, fazendo-o como o Batman ou algo assim. Isso seria legal se pudesse socar alguém na cara”.
Não que um novo filme dos Power Rangers precise ser estrelado pelo Ranger Branco – não acho que aguentaria todo o peso de um filme grandioso, se é esse mesmo o foco da Saban e da Lionsgate, a parceira na coisa toda — ou seguir a já batida forma da Nolanificação das coisas. Mas seria sensacional ver que o tão sonhado futuro do Zordon deu errado, que a Terra está um caos, e que o Ranger Branco (Verde, Vermelho ou qualquer outra cor que ele queira ter) é o nosso último guardião.
Roberto Orci, que inicialmente foi anunciado como produtor do reboot, também fez coro a essa pegada nostalgica no ano passado, depois de um logo trabalho de pesquisa. “Parte disso é ver o que nós lembramos; nossa geração e quais memórias são. Parte disso é ver os fãs de hoje. Há muitas crianças que amam a franquia atualmente, então nós estamos fazendo o nosso dever de casa”, disse o cara ao IGN. “Há uma continuidade com aquele mundo. Eu não posso falar o que é, mas tem uma continuidade”.
Orci saiu do projeto ainda no ano passado, mas tá aí o recado de que a produção sabe o que está fazendo. O curta só serviu pra provar que esse é o melhor caminho
Power/Rangers se torna o primeiro gancho pro retorno dos verdadeiros Power Rangers... Por mais que a Saban não queira (e faça de tudo pra tira o vídeo do ar). Malfeito, feito. ;)