Preferiram vender Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores 4 como algo que os filmes, definitivamente, não são | JUDAO.com.br

Era melhor ter mantido a coisa de Parte 1 e Parte 2 como títulos, ou não tentar dizer que as coisas eram diferentes sendo que, nossa, tão muito longe de ser.

Você sabia que uma galera morreria em Vingadores: Guerra Infinita. Se não por ter lido os quadrinhos e imaginar que algo daquele nível aconteceria, ou porque muitos contratos estão se encerrando e, bem, as pessoas envelhecem, pelo simples fato de que as motivações do Thanos são explicadas logo no começo do filme.

Ele é tipo você quando tem de encarar aquele ônibus lotado ou a fila daquele restaurante com temática australiana ridiculamente caro: e se você pudesse sumir com metade daquelas pessoas? Seu lugar estaria garantido, em qualquer um dos locais. O que difere você de um monstro gigante e roxo é o poder sobre tudo e todas as coisas que LITERALMENTE poderia acabar com metade dos seres vivos do Universo com um estalar dos dedos AND o fato de fazer isso ou não.

Desde 2014 sabemos que, nesse ano e no próximo, teríamos dois novos filmes dos Maiores Heróis da Terra que, inicialmente, se chamavam Vingadores: Guerra Infinita – Parte 1 e Vingadores: Guerra Infinita – Parte 2. Era um recado: os dois filmes não só se completariam, como seriam o mesmo, com um intervalo de um ano entre eles... até que os Irmãos Russo assumiram a bronca da direção e, depois de Capitão América: Guerra Civil, informaram ao mundo que as coisas não eram exaaaatamente assim, não.

“Os filmes são bem diferentes”, disse Joe Russo ao Uproxx, em Maio de 2016. “A ideia é que a gente mude, nós só não pensamos nos títulos ainda. Mas, sim, vamos mudar”. Anthony Russo, na mesma entrevista, chegou a afirmar que a ideia de “Parte 1” e “Parte 2” era “enganosa”. Dois meses depois, a Disney anunciou Vingadores: Guerra Infinita pra 2018 e Vingadores Sem Título, ou simplesmente Vingadores 4, pra 2019.

Os Irmãos Russo e Chris Evans no set de Vingadores: Guerra Infinita

Faltando poucas semanas para a estreia, a Disney anunciou a mudança de data de estreia nos EUA, fazendo assim com que o filme estreasse simultaneamente na maior parte do mundo; com duas cartinhas, os diretores pediram silêncio sobre o que acontece no filme AND que quem não tivesse assistido ainda ao filme ficasse fora da internet.

Não deu outra: Vingadores: Guerra Infinita não estava nos cinemas ainda e nem tinha sido exibido para a imprensa e um milhão e oito posts pela internet à fora trazia uma lista de mortes e sumiços de Vingadores: Guerra Infinita — e a discussão sobre o título do quarto filme parece ser tão grande quanto o que é ou não spoiler ou como o filme da Capitã Marvel vai se encaixar nessa folia.

“A ideia era não falar sobre isso para que o foco ficasse em Guerra Infinita”, disse essa semana o chefão da Marvel Studios, Kevin Feige, assumindo a cagada que essa onda de segredos acabou sendo. “Acabou fugindo do nosso controle. E agora não vai conseguir atender às expectativas do que vai ser. O tiro saiu pela culatra, serei honesto com você”.

A verdade é que, como já tinha acontecido de uma certa maneira com Vingadores: Era de Ultron, o marketing acabou se sobressaindo ao conteúdo, à história. Essa é a raiz de todos os problemas de Vingadores: Guerra Infinita.

SPOILER! Os Irmãos Russo podem dizer que são filmes diferentes e que dividir em Partes 1 e 2 é algo “enganoso”, mas Vingadores: Guerra Infinita claramente depende de sua sequência pra funcionar totalmente. Ver personagens tão queridos por muita gente sumindo é realmente chocante e assustador. Mas, ao mesmo tempo, sabemos que, por mais que esse seja de fato o fim de uma fase que já durava dez anos, não é como se tudo fosse recomeçar do zero — ou que as mortes é que representam esse final. “As pessoas sempre pensam nisso, mas não é necessariamente o que estamos falando. Eu falo muito sobre o episódio All Good Things, de Star Trek: The Next Generation, porque eu sou um puta nerdão”, disse Kevin Feige em uma outra entrevista, dessa vez ao EW. “Aquele pra mim é o melhor series finale de todos. Não era sobre morte. Picard foi jogar poker com a tripulação, algo que ele deveria ter feito há muito tempo, certo?”

Não é como se o segundo filme do Homem-Aranha não fosse mais ser feito, ou fossem desistir de continuar a história do Pantera Negra, ainda mais depois de tudo o que o primeiro filme conquistou. Guardiões da Galáxia Vol. 3 sem Star-Lord, Groot, Drax?

“As pessoas precisam ter cuidado com o que desejam”, continuou Feige. “Eu poderia sempre fazer uma lista dos personagens que matamos nos nossos filmes que não retornaram, mas o grandes, que eu sei que é o que tão esperando...? Eu diria que sim [se alguém morrer, vai ser real dessa vez]”.

Aqui eu talvez esteja teorizando mais do que deveria, mas tirando quem não desapareceu pela ação do Thanos, não dá a impressão clara e óbvia de que é no quarto filme que essa galera vai perecer de verdade? Não era mais fácil ter vendido esse grande evento como algo TÃO grande, que precisaria de dois filme? O que eles esperavam conseguir com “não, é diferente, por isso só vamos falar de um nome agora”?

O que tá acontecendo agora é equivalente ao que aconteceu no fim de Batman VS. Superman, com a “morte” do Superman

De uma certa maneira, o que tá acontecendo agora é equivalente ao que aconteceu no fim de Batman VS. Superman e a oportunidade jogada no lixo de vender o grande super-herói da história da nossa cultura pop no filme da Liga da Justiça. A diferença é, essencialmente, a qualidade dos filmes. Eu queria ver se Vingadores: Guerra Infinita fosse tão ruim quanto Batman VS. Superman e o futuro assustasse tanto quanto assustava ao imaginar “mais um filme dirigido pelo Zack Snyder”.

Poderíamos falar de coragem da Marvel Studios se essas decisões se tornassem mais duradouras — como aconteceu, por exemplo, com o fim da SHIELD e surgimento da HYDRA em Capitão América: Soldado Invernal, ou a dissolução dos Vingadores em Capitão América: Guerra Civil. E eu até acredito que coisas vão acontecer e se tornar eternas... Mas na Parte 2.

Era só isso o que bastava: deixar claro que se tratam de duas partes. Os títulos é o que menos importam — ainda que, depois de dois anos com a ideia de “Parte 1 e 2” na cabeça, tenha sido difícil esquecer. O contexto em que se entra no cinema seria absolutamente outro. As expectativas também. Não teríamos um problema e nem a raiz de diversos outros. Teríamos apenas mais uma peça de uma história.

PS. Não, aquela imagem lá de cima não está no filme. :)