Qual o futuro da Vertigo? | JUDAO.com.br

DC Entertainment anuncia a saída da editora executiva Shelly Bond e afirma que o selo passará por reestruturação… mais uma vez

Era uma vez um selo de histórias em quadrinhos criado no meio de uma grande explosão criativa. Neil Gaiman, Alan Moore, Peter Milligan, Garth Ennis, Jamie Delano e outros nomes reunidos por uma das melhores editoras que os quadrinhos já viram, Karen Berger. Da cabeça deles, criações e recriações das mais interessantes da DC Comics, como Monstro do Pântano, Sandman, Patrulha do Destino, Homem Animal, Shade, Constantine...

Depois do ano de 1993, os quadrinhos nunca mais foram os mesmos. Era o surgimento do selo Vertigo.

Passadas mais de duas décadas, aquela CHAMA de apagou. Na última semana, a DC anunciou “infelizmente” a demissão da atual editora executiva da Vertigo, Shelly Bond (antiga editora assistente de Berger, no selo desde praticamente a criação) como parte de uma reestruturação que, ainda, não tem muitos detalhes divulgados.

O que aconteceu entre esses dois fatos?

A Vertigo viveu muito bem até a segunda metade da década de 2000. Karen Berger, já promovida ao cargo de editora executiva E vice-presidente sênior da DC, contava com um prestígio enorme no mercado de HQs dos EUA – tendo sido escolhida três vezes como melhor editora no Eisner Awards. A maioria dos quadrinistas daquela primeira leva já havia deixado o selo, mas Vertigo ainda era sinônimo de histórias de qualidade para “leitores maduros” que iam além do batido enredo dos super-heróis.

Tudo começou a mudar a partir de 2009, quando, depois de a Disney comprar a Marvel, a Warner anunciou uma grande reestruturação na DC Comics. Foi criada a DC Entertainment, presidida por Diane Nelson (a responsável por levar Harry Potter aos cinemas), e que passou a comandar todos os negócios da editora ou que surgem a partir dela.

Os resultados dessa mudança de rumos estão por todos os lados. Em 2011, foi feito um grande reboot do Universo DC, buscando aumentar as vendas e trazer uma nova geração de leitores. As adaptações pro cinema finalmente começaram a sair do papel e a redação da editora saiu da tradicional sede em Nova York e foi pra Burbank, lar da mãe WB.

Isso também afetou a Vertigo: personagens tradicionais, como Monstro do Pântano e John Constantine, foram parar no Universo DC principal, fora do selo. Sucessos mais recentes, como DMZ, 100 Balas, Fábulas, iZombie, Scalped e Y: O Último Homem, por um motivo ou por outro, foram encerrados. Pra piorar, Karen Berger viu seu poder diminuído, sendo obrigada a se reportar para Bob Harras, o novo editor-chefe da DC Comics, e não mais pra presidente Diane Nelson.

Vendo tudo o que construiu sendo esvaziado, Karen Berger saiu da DC em 2012, deixando a ex-assistente Shelly Bond no comando.

Shelly Bond

Shelly Bond

Vamos dizer que Shelly não teve uma vida fácil. Por um lado, a DC Entertainment e a Warner passaram a pressionar mais por franquias com potencial de adaptação para TV e o cinema. Por outro, quadrinistas que seriam o foco do selo perderam interesse em trabalhar com personagens das grandes editoras ou levar pra lá suas ideias autorais. Editoras como Image e Fantagraphics passaram a ser destinos mais interessantes, não só com controle criativo total, mas também controle (inclusive da GRANA) de quem vai adaptar.

Ainda assim, a Vertigo conseguiu anunciar um grande relançamento no ano passado, com nada menos que novas 12 séries e minisséries, incluindo aí o retorno do Lúcifer e a presença de autores como Peter Milligan, Gail Simone, Tom King e Darwyn Cooke.

Pelo jeito, o resultado não foi muito positivo, internamente. De acordo com o Bleeding Cool, Shelly tinha desentendimentos constantes com os superiores, que passaram a culpá-la pelo fracasso recente. Talvez por isso, a saída de Shelly é anunciada pouco depois da Image confirmar a contratação de Karen Berger como editora do título Surgeon X e depois do anúncio dos indicados ao Eisner Awards deste ano, que teve nada menos que 17 nomeações para a Image e as mesmas 17 para a Fantagraphics – e só três pra Vertigo, sendo apenas para dois títulos e todas as indicações “divididas”, para quadrinistas com trabalhos em outras editoras.

Pra você ter uma ideia, ano passado foram seis indicações. Em 2012, último ano da Karen, foram 10. Já em 2009, antes de todas as mudanças na DC, foram 11.

Lúcifer

Resta saber, agora, o que vai acontecer com a Vertigo. De acordo com o CBR, a equipe editorial vai se reportar diretamente aos co-publishers da DC, Jim Lee e Dan Didio. No comunicado sobre a saída de Shelly, a DC Entertainment afirma que “está reexaminando a direção e o foco do selo de revistas em quadrinhos e graphic novels Vertigo. O objetivo é mantê-lo competitivo e se manter relevante no mercado, e para definir o negócio para o sucesso futuro”.

Traduzindo: querem aumentar as vendas, as indicações aos prêmios AND adaptar mais coisas pra outras mídias.

Vão conseguir? É difícil – principalmente na tarefa de convencer quadrinistas a levarem projetos pra lá. Nesse momento, com o tal Rebirth do Universo DC, a única esperança para a Vertigo continuar existindo além de um nome e uma casca vazia seja retornar ao passado, resgatando Homem-Animal, Sandman, Monstro do Pântano, Patrulha do Destino...

Se vai dar certo, aí é outra história.