Podia ser mais. Bem mais. E merecia.
Conforme você bem deve ter percebido, estamos num daqueles momentos em que as produções baseadas em histórias reais estão ganhando cada vez mais espaço em Hollywood. Com os Estados Unidos precisando lidar com uma grave crise de pessoas viciadas em opioides, principalmente entre os mais jovens, era natural que a indústria cinematográfica voltasse a contar histórias sobre o vício.
Baseado no best-seller de memórias Beautiful Boy e Tweak, escritos respectivamente por David (pai) e Nic Sheff (filho), Querido Menino é um destes exemplares, que narra a difícil experiência de uma família que lida com as recuperações e as recaídas do filho ao longo dos anos.
Dirigido pelo belga Felix Van Groeningen, em seu primeiro filme falado em inglês, o drama familiar é uma jornada sobre desesperança, desespero, os danos colaterais do vício e as conquistas da sobriedade, mas peca em encontrar um ritmo que apresente todos esses elementos com igual importância na trama.
Explorando a dinâmica familiar a partir da dependência e das ações de Nic, a primeira metade do filme mistura linhas temporais para mostrar a jornada do pai e do filho, quase como se essa linha estivesse saindo da confusão mental de David ao lidar com essa nova realidade. Utilizando muitos flashbacks para contrastar o passado e o presente da relação entre eles, Van Groeningen também dedica uma imensa importância à trilha sonora desse filme, que sempre surge em destaque para enfatizar o humor dos personagens e suas ações.
Mas o que deveria servir como um importante instrumento da construção da narrativa e da aproximação do público desse drama acaba se tornando um problema, porque a constante introdução musical pode dar a sensação de estarmos assistindo a um videoclipe.
Querido Menino entrega com eficiência a mensagem sobre a importância, em situações como esta, do apoio do núcleo familiar – seja de sangue ou não. Mas enquanto se esperava entrar em uma montanha-russa emocional sobre a problemática história de um adolescente dependente de drogas bem pesadas, o filme entrega uma narrativa morna e constantemente se repetindo.
Quanto mais Nic se entrega aos seus impulsos, mais ele se sente culpado por receber tanto amor dos seus pais, então se torna uma repetição da sua própria história. O filme nos mostra que sobriedade e recaída andam em círculos, mas círculos nunca funcionam bem em narrativas, tornando Querido Menino mais um importante serviço de utilidade pública do que necessariamente um bom filme.
Inegavelmente, é importante que existam narrativas sobre vícios – seja eles quais forem – e principalmente o retrato de como é difícil se manter sóbrio num mundo repleto de pressões e cobranças ao nosso redor, mas Querido Menino deixa a desejar como cinema. De certa forma, a produção desperdiça um potencial narrativo e real sobre o vício ao mascarar o que poderia ser uma defesa da realidade e a forma como a sociedade lida com dependentes químicos, por exemplo. Como de costume, Hollywood prefere uma versão branda de um tema bem pesado que precisa ser discutido com seriedade e veracidade.
E isso é uma pena, porque o elenco desempenha um ótimo trabalho, a contribuição mais valiosa ao gênero. Timothée Chalamet assume muito bem o desafio de interpretar Nic, um jovem rico que experimentou diversas drogas ao longo da adolescência até se viciar em metanfetamina.
Seu pai é interpretado por Steve Carell, um silencioso e torturado homem que está tentando entender o que aconteceu. Sua jornada de culpa é muito bem desenhada, mas o filme perde a chance de se aprofundar em como os outros membros dessa família lidam com essa situação – adoraria saber mais sobre como Karen (Maura Tierney), esposa de David e madrasta de Nic, se sentiu quando viu sua família se deteriorando, por exemplo.
E é nessas cenas onde Chalamet e Carell atuam juntos que o drama ganha mais força e tons mais próximos de um drama familiar do que um drama sobre dependência. O que poderia ter sido um ótimo filme, acabou se tornando uma história dramática e intimista sobre a relação entre o pai e seu filho. Uma pena que é do tipo esquecível.
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