Radiohead: lá e de volta outra vez | JUDAO.com.br

Banda britânica chama atenção justamente por apagar a própria presença do site e das redes sociais e, quando todo mundo enfim olhou, lançaram uma música nova

“I’m not here”, dizem os ingleses do Radiohead na letra de How To Disappear Completely. E foi exatamente o que o grupo fez no último final de semana, quando simplesmente desapareceu do mundo digital. Do site, das redes sociais, de tudo. É, isso aí, sumiu. Quase sem deixar vestígios. Obviamente, com ênfase no “quase”, né?

Quando uma banda qualquer quer anunciar que vem coisa nova pela frente, vai lá e posta alguma coisa em suas comunidades de fãs, certo? Então. O Radiohead optou pelo caminho inverso, pelo mais puro silêncio. Foi lá e deletou rigorosamente TODOS os seus posts em todas as redes sociais. Não sobrou nada. E os mais 11 milhões de fãs no Facebook e mais de 1 milhão de seguidores no Twitter só viram os caras mudando as imagens de avatar e cabeçalho para algo... branco. Como se eles estivessem sumindo. E como aconteceu com a página principal de seu próprio site oficial, que foi clareando, clareando, até gradualmente afundar no branco total.

Junte a isso as mensagens enigmáticas que eles enviaram para alguns fãs cadastrados em suas redes, dizendo “Sing a song of sixpence that goes/Burn the Witch/We know where you live” e, claro, os folhetos físicos com a mesma pegada que foram parar nas mãos de um grupo especial de fanáticos, mandados pelo correio. Alguma coisa estava pra acontecer.

E aconteceu. No caso, Burn the Witch, o primeiro clipe de um provável novo álbum.

Com direção de Chris Hopewell, o mesmo do igualmente assustador There There, o vídeo é estrelado por um monte de bonequinhos inspiradíssimos em Trumpton, uma série infantil em stop-motion que foi um baita sucesso para a molecada britânica no final dos 1960. Mas a ambientação bucólica e fofinha vai se desdobrando em uma trama meio macabra cujo final, conforme os cinéfilos obviamente perceberam, é uma homenagem ao filme O Homem de Palha (The Wicker Man), clássico do terror de 1973 estrelado por Christopher Lee (que, sim, ganhou um remake estrelado por Nicolas Cage).

A letra, com esta pegada de “Abandon all reason / Avoid all eye contact / Do not react / Shoot the messengers”, pode falar da caça às bruxas mas, claro, pode também ter relação direta com o clima de perseguição que se instaurou em alguns RECÔNDITOS das redes sociais, o que combinaria um bocado com a estratégia de “desaparecimento” dos caras.

O fato é que os fãs mais hardcore da banda, no entanto, reconheceram alguns dos pedaços da melodia, em especial os acordes lentos e sombrios de piano, que já tinham sido tocados em shows no passado. Aliás, um site fez até questão de ir buscar desde quando as referências à canção poderiam ser encontradas na obra do Radiohead – lembrando, por exemplo, que fragmentos da letra (Avoid Eye Contact, Cheer At The Gallows, Round Up e o próprio título da canção) podem ser vistos nas artes do encarte de Hail To The Thief, disco de 2003.

Mas, até o momento, os caras não deram um pio a respeito de um disco novo, embora tenham uma turnê anunciada de maio a outubro deste ano, com datas já confirmadas na Europa, América do Norte e no Japão, e que Brian Message, seu empresário, já tenha dado com a língua nos dentes e revelado, em um papo num bar em Londres, que o álbum (o nono de sua discografia, sucessor de King of Limbs, de 2011) sai em junho deste ano.

Radiohead_03

Obviamente, esta não é a primeira vez que os caras do Radiohead chamam a atenção por uma estratégia considerada “suicida” na internet — ou alguém aí esqueceu do lançamento de In Rainbows, em 2007, com a estratégia de “pague quanto achar que vale” pela versão digital do bichinho? ;)

Agora... uma das coisas mais surpreendentes desta história toda é buscar a música no Spotify e, vejam só, encontrá-la por lá. Sendo que o próprio Thom Yorke, vocalista e líder do Radiohead, já tinha se referido ao serviço como sendo “o último peido desesperado de um cadáver putrefato”. Palavras dele para o site mexicano Sopitas.

“Como músicos, sinto que nós devemos combater esta coisa de Spotify. De alguma forma, sinto que esta seja a última tentativa de uma velha indústria. Quando finalmente morrer, e vai, algo diferente vai acontecer”, afirmou. “Não precisamos de vocês. Podemos construir tudo sozinhos, fodam-se. Eles estão usando as músicas do jeito antigo, estão usando as gravadoras... E as gravadoras estão adorando porque enxergam isso como uma forma de revender suas coisas velhas de graça, fazer uma fortuna e evitar morrer”.

Parece que o mundo dá voltas, né? :P