Rebolão, mas sua irmã gosta: um documentário sobre Carreta Furacão | JUDAO.com.br

De acordo com o diretor Gabriel Mendes Dias, a “ideia do documentário é tirar esse estigma de ‘apenas um meme’ dos trenzinhos e mostrar que é uma subcultura muito forte e importante para jovens de algumas cidades do interior”

Eu me lembro até hoje do dia em que minha mãe me deixou pegar, sozinho, o Trenzinho que dava uma volta pela Praça do Bom Parto, ali no Tatuapé. Claro que ela ficou ali me esperando e claro que isso só aconteceu porque, literalmente, era uma volta num quarteirão. E sei lá, provavelmente ela tava de saco cheio de ficar comigo ali, o que acontecia sempre (pelo menos na minha cabeça), então liberou — e eu me senti SUPER INDEPENDENTE.

O tempo passou e, embora as mesas de dominó e damas permaneçam intactas e sejam bastante utilizadas, acho que só elas e a banca gigante onde comprei minha primeira primeira Playboy, em 1995, permanecem os mesmos. Nunca mais ouvi e/ou vi os tais Trenzinhos que, pelo menos ali na Praça do Bom Parto, hoje só existem em forma de Food Truck.

Mas é aquela coisa: VELHOS HÁBITOS NÃO MORREM FACILMENTE e, num misto de tosqueira e surrealidade, os tais Trenzinhos sobreviveram — e o usuário elveszica10, no YouTube, mostrou para o mundo, em Agosto de 2010, que Capitão América, Fofão, Mickey, Popeye e algum outro palhaço bastante assustador que se chama Palhaço, não só mantinham a chama acesa em Ribeirão Preto, SP, como evoluíram toda a ideia de uma simples volta no quarteirão para uma viagem lisérgica.

Se você tem alguma vida fora do Facebook com certeza já ouviu falar da Carreta Furacão que, digamos assim, é o GRANDE EXPOENTE dessa Tradição que domina as ruas da chamada Califórnia Brasileira. Aliás, não só ouviu falar como já deve ter visto milhares de GIFs e vídeos mostrando aquela dança rebolativa e todos os perigos que elas representam — de atropelamentos a um WALK ON THE WILDSIDE, de ponta-cabeça, óbvio.

Mas Carreta Furacão é mais um daqueles casos em que uma marca acaba denominando algum produto, já que existem vários outros Trenzinhos e Carretas espalhando alegria, curiosidade e alguns arrepios — e é exatamente isso o que o documentário Rebolão, mas sua irmã gosta procura mostrar.

“Tive [a ideia] entre 2012 e 2013. Na época percebi que além do vídeo do Trenzinho Carreta Furacão, havia muitos vídeos, fotos e páginas de trenzinhos e carretas na internet”, conta Gabriel Mendes Dias, diretor, editor e roteirista. “Passava horas assistindo e pesquisando com meus amigos pelo simples fato da gente não entender a dimensão que aquilo tinha e ao ver que muitos jovens levavam aquilo muito a sério como um meio de identificação e vivência, percebi que valia a pena ser documentado”.

A ideia, porém, se manteve como UMA IDEIA E NADA MAIS até que aquele grande conhecido dos estudantes de comunicação começou a bater na porta. “No final de 2014 foi chegando a época de TCC e resolvi ressuscitar a ideia”, conta Gabriel, que chamou o diretor de som e também roteirista e editor Miguel Haddad, “que aceitou na hora e caiu de cabeça no tema”. Mas o resto da galera, NUM PRIMEIRO MOMENTO, resolveu dar aquela colocada no pé na água pra ver se tava gelada e etc. “A Gabriela [Dias, diretora de produção e de arte] e a Mayra [Dias, assistente de direção e produtora executiva] ficaram receosas inicialmente, assim como nosso orientador (Leandro Borges, professor de Direção de Fotografia) mas conforme eu fui explicando e descobrindo mais sobre o tema eles perceberam que era algo muito maior do que ‘uns caras vestidos de personagem dançando no meio da rua’, havia toda uma subcultura mantida por jovens de cidades do interior de Minas Gerais e de São Paulo” diz Gabriel, que ainda conta que foi só depois da primeira viagem até Ribeirão Preto, com toda a equipe (que ainda incluia o veterano Arthuro Alves, diretor de fotografia e correção de cor), que “todo mundo abraçou muito forte e acreditou no projeto”.

Com cerca de 30mins de duração (e outras 14h de material gravado), Rebolão, mas sua irmã gosta rendeu um “10 com elogios” e a formatura no curso de bacharelado de Audiovisual do grupo garantida, mas a ideia é ir além. “Resolvemos continuar a edição, mudar alguns detalhes que podem melhorar o filme e deixá-lo mais completo” conta Gabriela Dias (sim, é apenas uma enorme coincidência termos um Gabriel e uma Gabriela Dias num mesmo grupo de trabalho da faculdade). “Nossa vontade é fazer um longa, um ‘Rebolão! mas sua irmã gosta 2.0’ porque há muito o que falar sobre esse universo e a nossa vontade é voltar lá e gravar mais”, diz Gabriela. “Por causa do TCC tivemos menos de um ano para produzir, gravar e editar e apesar de estarmos muito satisfeitos com o resultado queremos, no futuro, dedicar mais tempo a esse assunto”.

Rebolão

Com a ideia de apresentar o filme em alguma praça de Ribeirão Preto (“tipo uma première mesmo, com direito a pipoca e tudo mais”), foi lançado um trailer no último domingo (10) que, até o momento da publicação dessa matéria, já tinha mais de 230 Mil visualizações somando Facebook e YouTube, além de milhares de compartilhamentos e comentários. “Tudo isso é muito novo para nós!”, conta Gabriela. “Mas com esse ‘boom’ do primeiro trailer percebemos que não é só o pessoal de Ribeirão que quer assistir, então queremos exibir aqui em São Paulo também e quem sabe em outras cidades”.

A dificuldade, porém, é aquela de sempre — especialmente em se tratando de recém-formados em comunicação. “Essas novas exibições dependem de patrocínio porque o TCC foi pago do nosso bolso!” diz Gabriela. “Apesar da faculdade ajudar com os equipamentos, as viagens de São Paulo para Ribeirão Preto e a alimentação saíram do nosso bolso”. Por enquanto, porém, não está nos planos do grupo a realização de algum crowdfunding pra realização dessas outras exibições, o que eu deixo aqui como uma ideia. Mas, de qualquer maneira, não é como se ninguém possa assistir ao filme se não ESTRUMBAR a tal praça de Ribeirão Preto: segundo a Gabriela, o filme vai ser enviado para diversos Festivais e, então, disponibilizado de graça na internet. “Nosso objetivo não é lucrar com tudo isso e sim mostrar a importância dos trenzinhos na vida desses meninos e, consequentemente, de Ribeirão Preto”.

Enquanto isso Rebolão, mas sua irmã gosta não ganha uma data de estreia, você pode acompanhar todas as PERIPÉCIAS do filme na página oficial no Facebook (que, desde o lançamento do trailer, já ganhou mais de 3000 likes... E contando). :)