Red Sonja: dos livros aos quadrinhos – e, agora, pra TV? | JUDAO.com.br

Tão falando que Bryan Singer está envolvido com a produção de uma série de TV com a personagem, mas… você sabe quem é ela? ;)

Parece que, cada vez mais, Bryan Singer quer fazer coisas que não envolvam mutantes. Depois da anunciada adaptação de 20 Mil Léguas Submarinas, que ele vai dirigir, o diretor aparece envolvido com a adaptação da personagem Red Sonja para a televisão.

De acordo com o Bleeding Cool, o foco seria emplacar a série num canal como HBO ou Showtime, ou um serviço de streaming como Netflix ou Amazon. A produção será pela própria empresa de Singer, a Bad Hat Harry, e o advogado Luke Lieberman – presidente da Red Sonja, LLC, empresa que cuida da propriedade – também está envolvido, assim como o Jason Taylor, velho parceiro de Singer, e Stephen L’Heureux, produtor de filmes como Sin City: A Dama Fatal.

A informação não acaba aí: Bryan Singer não ficaria apenas como showrunner ou produtor executivo, mas também seria diretor. Outro detalhe é que o objetivo é consequir uma classificação “R” (o que é estranho, afinal ela não existe na TV dos EUA – o equivalente seria TV-MA), provavelmente só pra aproveitar esse recente hype provocado pelo uso da classificação nos cinemas encabeçado pelo sucesso do Deadpool.

Mas, antes de endoidar com um possível “rated R”, é melhor conhecer um pouco mais da personagem, né?

Tudo começou em janeiro de 1934, quando Robert E. Howard (o criador do Conan) publicou o conto The Shadow of Vulture, estrelado por uma mulher ruiva da Renascença chamada Red Sonya of Rogatino. A personagem lutava contra os otomanos ao lado dos guerreiros homens, usando espadas e armas de fogo. Como você pode perceber, não havia qualquer ligação com a cria mais famosa do autor.

Corta pra 1972. A Marvel publicava com sucesso histórias do Conan há dois anos, adaptando o universo da Era Hiboriana para os quadrinhos. Foi quando o roteirista Roy Thomas e o artista Barry Windsor-Smith perceberam que era hora de criar uma contraparte feminina para o herói. Nascia Red Sonja (lê-se SÔNIA, tá?), fortemente baseada na Red Sonya of Rogatino, só que retirada do século XVI e totalmente adaptada ao contexto de espada e feitiçaria que permeava a HQ.

Conan

Nessa primeira história, publicada na edição 23 de Conan the Barbarian e também batizada de The Shadow of Vulture, o protagonista é preso pelo vilão Vulture na cidade de Pah-Dishah – apenas pra ser resgatado pela Sonja. Na edição seguinte eles até lutam juntos e Conan acaba se interessando pela companheira – só que a condição dela pra se envolver com um homem é que esse cara consiga derrotá-la em combate, o que claramente não é uma tarefa fácil. Essa segunda aparição, intitulada The Song of Red Sonja, acabou valendo para a Casa das Ideias o prêmio de Melhor História Individual no Shazam Award, que foi uma tentativa da Academy of Comic Book Arts para criar um “Oscar dos quadrinhos”, isso anos antes do Eisner Awards.

Originalmente, Sonja usava um uniforme de corpo inteiro (ou, pelo menos, de tronco inteiro), que era uma espécie de armadura de escamas. Isso mudou por causa do artista Esteban Maroto, que enviou para Roy Thomas uma arte com um visual diferente, com Sonja usando apenas um ~biquíni-armadura. Acabou se tornando o padrão a partir daí. ;)

Três anos depois, em 1975, Thomas resolveu que era hora de contar a origem da personagem, numa HQ também assinada por Doug Moench e Howard Chaykin – e publicada na revista Kull and the Barbarians, estrelada por outra cria do Robert E. Howard. Na história, descobrimos que Sonja vivia, quando jovem, com a família nos estepes da Hirkânia (algo próximo da atual Ucrânia ou do oeste da Rússia). Quando ela tinha apenas 17 anos, um grupo de mercenários matou seu pai, Ivor, além de sua mãe e seus dois irmãos. Sonja sobrevive e até tenta se defender, mas não consegue empunhar a espada do irmão. No fim, ela acaba sendo estuprada pelos mercenários.

Com grande raiva e vergonha de tudo o que tinha acontecido, Sonja começa a gritar e a pedir vingança. A deusa Scáthach então houve o clamor da jovem, aparecendo para conceder a ela grandes habilidades para lutar com espadas e outras armas, mas com uma condição: ela não deve se deixar ser amada por outro homem a não ser que ele a derrote em combate.

Já em 1977, Red Sonja finalmente ganhou uma revista bimestral própria, ainda pela Marvel. Foram, no total, 15 edições, todas escritas por Thomas. Depois, em 79, a guerreira apareceu em um inusitado crossover com o Homem-Aranha, causado por um ritual místico que fez a personagem trocar de corpo com uma outra ruiva famosa da Casa das Ideias, a Mary Jane. Em seguida, até o final dos anos 80, vieram outros QUATRO volumes de publicações-solo da heroína, num total de apenas 32 edições.

Essa INTERMITÊNCIA não impediu que a Dino De Laurentis Company, que tinha produzido os filmes do Conan, se interessasse em levar a She Devil With a Sword para a tela grande. O filme, distribuído pela MGM e lançado em 1985, tinha Brigitte Nielsen no papel-título e ainda trazia Arnold Schwarzenegger – não como Conan, mas sim como o Lord Kalidor, nitidamente inspirado no Cimério. A criação de um personagem especialmente para o filme pode se explicar pelo fato do Bárbaro oficial estar nas mãos de outro estúdio, a Universal.

Sonja nos cinemas

Sonja nos cinemas

Red Sonja, o filme, acabou mandando muito mal, tanto de crítica quanto de público. A bilheteria nos EUA ficou em menos de US$ 7 milhões, enquanto a produção custou quase US$ 18 milhões. O longa ainda mereceu três indicações ao Framboesa de Ouro, com a Brigitte Nielsen vencendo na categoria de Pior Melhor Estrela.

Já nos anos 90, a Red Sonja continuou aparecendo basicamente nas revistas do Conan, que ficou na Marvel até 1996. A partir daí, o Cimério (e, por consequência, a Sonja) caiu num certo ostracismo, ficando alguns anos longe das comic shops. E você nem pode culpar as editoras: em 95, o gibi do personagem vendia coisa de 8.500 exemplares.

Nem mesmo a série Conan: The Adventurer, que foi exibida no canal USA entre 1997 e 1998, motivou uma nova editora. De qualquer forma, a Red Sonja fez uma aparição na produção, interpretada pela atriz Angelica Bridges. Também chegaram a falar numa série só da ruiva em 1999, com a Sable (aquela da WWE) no papel da protagonista, mas a ideia não foi pra frente.

Rolo nos tribunais, rolo em Hollywood

Em 2003, a Conan Properties, que cuidava das propriedades de Robert E. Howard, licenciou o Cimério para a Dark Horse, que iniciou uma nova leva de títulos com o personagem. Só que sem a Red Sonja, já que a personagem não era mais deles.

Parece confuso, né? E é. A Red Sonja é uma criação original da Marvel, que poderia ter registrado a heroína – mas não o fez, provavelmente pra evitar alguma dor de cabeça. Arthur M. Lieberman, advogado responsável por cuidar da biblioteca da ruiva na época, a registrou de forma independente ainda nos anos 80 sob uma nova empresa, a Red Sonja Corp.

2891522-red_sonja_000_cover_b__2005___bittertek_dcp_Enquanto era tudo com a Marvel, dá pra dizer que as coisas estavam em casa. Nos anos 2000, as duas propriedades eram tratadas de forma independente, justificando o não licenciamento para a Dark Horse. Tanto é que, em 2006, a Conan Properties vendeu todas as criações de E. Howard para a Paradox Entertainment, incluindo aí o próprio Conan, além de Krull, Red Sonya (a original, com “y”) e todo o universo da Era Hiboriana – MENOS a Red Sonja.

Em 2005, a Red Sonja LLC, sucessora da antiga empresa da ruiva, fechou acordo com uma outra editora, a Dynamite, que começou a publicar uma nova HQ da personagem. Luke Lieberman, filho de Arthur, passou a se envolver diretamente com a publicação. Tudo certo, né? Nem tanto.

Foi criado uma espécie de impasse: as histórias da Sonja continuavam se passando na Era Hiboriana, uma propriedade da Paradox. Ao mesmo tempo, a Red Sonja LLC passou a acusar a Paradox de usar a Red Sonya (com “y”) para confundir os leitores – e entrou na Justiça.

O tribunal então decidiu algo ~simples: a Red Sonja LLC compraria a Sonya, com “y”, por US$ 1 – garantindo assim a personagem sem importar como quisessem escrever seu nome. Por outro lado, a Paradox pagaria US$ 1 pelos direitos de reimpressão exclusivos de The Shadow of Vulture, a primeira aparição da heroína, para a empresa concorrente. Ah, tem mais: as histórias da Sonja poderiam continuar usando a Era Hiboriana, mas sem citar personagens e localizações das histórias do Conan.

Fica bem claro que um lado se deu bem melhor que o outro, né? De qualquer forma, não houve ressentimentos, tanto é que Conan e Sonja já se reencontraram em crossovers entre editoras nos anos seguintes.

Com o rolo resolvido, começou um novo projeto para levar a Red Sonja aos cinemas, com os direitos de adaptação cedidos para a Nu Image – a mesma do remake de Conan, o Bárbaro com o Aquaman, digo, Jason Momoa. Em 2008, Robert Rodriguez chegou a se envolver diretamente com o projeto, colocando inclusive a Rose McGowan como a protagonista, mas a coisa não foi pra frente. Outros diretores e atrizes apareceram em rumores nos anos seguintes, mas é provável que o contrato com a Nu Image tenha expirado (justificando, inclusive, os atuais rumores).

As novas Red Sonjas

A versão da Gail Simone

A versão da Gail Simone

Enquanto isso, a Red Sonja continuou nos quadrinhos. Quer dizer, quase isso. Em 2008 a Dynamite resolveu matar a heroína, mais exatamente na edição 34. No número seguinte, a ruiva foi revivida em outra época e com um novo corpo. A ideia aqui era se livrar um pouco mais das inspirações no universo do Conan, além de atrair novos leitores com um novo começo. Outro detalhe é que a nova Sonja era mais fraca que a encarnação anterior, sem as mesmas qualidades físicas.

A revista teve uma longa vida a partir daí, sendo finalmente cancelada no número 80, em 2013. Quase um ano depois, a Dynamite introduziu uma terceira versão da personagem, assinada pela roteirista Gail Simone.

Dessa vez, Simone escolheu deixar de lado essa história de reencarnação e trouxe uma nova abordagem para a heroína original. Nela, Sonja também perde a família, mas não é estuprada ou encontra deusa alguma. Sem poderes divinos, ela é apenas uma mulher que jura vingança e canaliza sua raiva para conseguir atingir o ápice das capacidades físicas e da habilidade com espadas.

Também não há toda aquela coisa da castidade, como nas versões anteriores: Sonja é apaixonada por álcool e sexo, além de viver histórias mais sangrentas que antes. De qualquer forma, a nova fase não durou muito: foi até setembro de 2015.

Agora em janeiro de 2016 a Sonja ganhou uma nova revista, escrita por Marguerite Bennett e desenhada pela Aneke. Apesar de ser uma continuação do volume anterior, a ruiva aparece com um uniforme mais próximo ao original e com histórias mais leves, com um certo humor, sem todo aquele dramalhão tradicional da personagem.

Red Sonja

É, a Red Sonja teve uma longa, diversa e complicada trajetória nos quadrinhos. Tem bastante material pra adaptar para a TV, que, a julgar por aquela história da classificação indicativa, deve ser bastante influenciada pelas HQs escritas pela Gail Simone.

Resta saber só se esse projeto sairá do papel, né? ;)