Redução da maioridade penal: Tá com pena? Leva pra casa! | JUDAO.com.br

Segurança é a última consideração que os políticos estão realmente fazendo em suas salas refrigeradas e puteiros evangelizadores de Brasília.

A sociedade começou a ruir quando o moleque do Avassaladores cantou “sou brabo” ao invés de “sou foda” no Caldeirão do Huck uns anos atrás. Eles deviam ter virado as costas e vazado.

    “Deita no chão”.

    “Cala a boca”.

    O cano gelado na nuca do moleque diz a que veio. Ele vai morrer. Não tem jeito, malandro. Já era. Para surpresa dele, no entanto, o adulto não atira. Ele sente a mão firme abaixar sua calça. O castigo, agora, é outro. Realidade e pesadelo se fundem enquanto o carcereiro presta o serviço educacional da vez.

    Pesado? Castigo é castigo, rapaz. Tá com pena? Leva pra casa esse marmanjo de 16 anos.

Como que não vai prender essas porras de moleque maconheiro, cheira cola, vagabundo, filho da puta? Ah, você é polícia? Então tu concorda comigo.

Manja a metáfora da goiaba? É simples. Você tá com fome, mas tem dinheiro ou para comer uma goiaba ou para pegar o ônibus. A barriga ronca, bate até uma certa tontura. Passa a goiaba pra cá, toma minha grana. Peraí, quem são esses caras?

E se a goiaba em questão fosse sua infância? Se você precisasse decidir se come ou pega o busão? Digo mais: e se, na sua cabeça de criança, ou no impulso dos hormônios da adolescência, você descobre um meio de pegar o busão e ainda por cima comprar a caixa inteira de goiabas, a roupa da moda, um monte de amigos, as biatches?

Você é um pirralho que nem idade pra trabalhar tem, não há dicotomia moral, você só precisa escolher entre ter e não ter. Passa a bola, Romário, é minha vez de tirar onda.

Na rua, na TV, na internet, só se fala em ter as coisas, mostrar mais e mais, esfregar na cara dos outros suas conquistas, os passos que você dá, a pessoa irresistível que está do seu lado, ditar o ritmo que a banda toca. Eu quero essa merda! Sou trouxa agora?

É. Como todo moleque, aliás. E com pai, quando tem, e mãe trabalhando o dia inteiro, escola com métodos ultrapassados e mídia reprimindo sua existência como meio de estimular o consumo de tudo que não é a sua vida, fica osso dizer não à tentação.

Foda-se. Com 16 anos todo mundo já sabe o que é certo e errado. Cadeia nesses merdas.

Quando surgiram os rolezinhos, rolou aquela discussão infinita de rede social sobre o tema. No entanto, por mais que discutir seja daora e tal, a realidade é uma só: IR e VIR são garantidos pela Constituição. Todo mundo pode achar o que quiser, mas impedir alguém de circular meramente pela aparência ou porque anda em grupo é inconstitucional, é crime.

Mesmo assim, as discussões se alongaram por semanas. Como não? A gente tava falando de moleques e molecas pretosfilhosdenordestinosbolivianospobresEXMISERÁVEIS e tudo que envolve essa turma é de domínio público. Duvida?

O fato de adolescentes e jovens IREM AO SHOPPING rendeu dezenas de matérias como essa, debates, textões e aquela ladainha lá que a gente tá ligado. Já pensou nisso?

Imagina o fato de você sair com seu grupo de amigos e ir onde todo mundo vai, pra gastar seu suado salário e parecer um pouquinho com aquelas pessoas que o sistema te estimula o tempo todo a ficar parecido, virar notícia simplesmente porque você é, enfim, desse jeito aí.

Agora, lembra que esse é simplesmente o melhor momento da história do país para pessoas que são como você, enfim, como dito, desse jeito aí. E mesmo assim vocês chamam atenção só por circular em público.

Sei que repeti o raciocínio, mas, véio, sentiu o drama?

Não?

Enfim, reduzir a maioridade penal faria toda uma geração de meninos e meninas de classes menos favorecidas voltar ao ponto inicial, onde a coisa era mais feia ainda.

Betinho, um cara que viveu e morreu lutando por mais oportunidade para essas mesmas pessoas, definiu meu ponto de vista melhor do que eu mesmo faria em quinhentos parágrafos.

Betinho

Fora que, sem boataria ou teorias de conspiração, creio ser algo matemático o fato da diminuição da maioridade também ser o caminho para liberar cidadãos a partir de 16 anos para ingerir bebidas alcoólicas, se prostituir de forma legal, atuar em filmes pornográficos AND dirigir (não necessariamente tudo isso ao mesmo tempo). Ao meu ver, levanta seríssimas suspeitas sobre os verdadeiros lobbies por trás desse movimento todo. Explicaria, inclusive, parte da mídia fazendo vista grossa ao andamento da matéria em Brasília, talvez motivada por anunciantes.

Moral da história: 2+2 é sempre 4, principalmente na política, em qualquer parte do mundo. Portanto, não se iluda. O Brasil é o segundo país que mais prendeu nos últimos 15 anos, mas continua sendo recordista mundial de homicídios.

Segurança é a última consideração que os políticos pró redução da maioridade estão realmente fazendo em suas salas refrigeradas e puteiros evangelizadores de Brasília, boto fé.

Obs.: A ilustração desta coluna é do cartunista árabe-israelense Asaf Hanuka e é parte da graphic novel The Divine, que sai em duas semanas e este que vos escreve tá louco de vontade ler. Saiba mais aqui.