A comparação com os anteriores não ajuda mas, de qualquer maneira, é um filme que cabe bem no mundo de hoje
“Eu sofri muito tempo pensando sobre isso”, disse, lá em 2013, o diretor Paul Greengrass sobre a possibilidade de fazer um quinto Bourne. “No final, eu senti que tinha dado tudo dos meus dois filmes, dos quais eu estou muito orgulhoso, e não quero fazer outro se eu não acreditar que poderia ser melhor ainda”. Nesta quinta, 28, estreia no Brasil Jason Bourne, o quarto filme com o personagem, quinto da franquia, que marca justamente o retorno do diretor, PERSUADIDO pela Universal e, diz o próprio, por um roteiro escrito por ele mesmo e editado pelo Christopher Rouse — além de voltar a ter Matt Damon no papel principal.
Só que, quando o filme acaba e as luzes da sala de cinema se acendem, a fala de Greengrass em 2013 parece ecoar em nossas cabeças.
Jason Bourne traz duas grandes histórias, que se cruzam. Uma delas envolve um app bancado pela CIA que, com uma grande campanha de marketing, deverá ser instalado em todos os celulares, transformando os dispositivos numa grande ferramenta de espionagem da agência, algo que Oliver Stone já nos avisou que pode estar acontecendo nesse momento com Pokémon Go.
Jason Bourne é, de alguma forma, a representação da esquizofrenia que vivem os Estados Unidos de hoje
Já a segunda grande parte do enredo é aquela que coloca Jason Bourne no meio dessa confusão toda. Desta vez, Bourne vive uma vida de renegado, perdido no meio do nada entre a Macedônia e a Grécia enquanto soca narizes pra ganhar uns trocados. Ele se lembra que um dia foi David Webb e se arrepende por ter sido um voluntário no projeto Treadstone, que o transformou em uma máquina de matar.
Porém, Nicky Parsons (Julia Stiles), que era o antigo contato no Treadstone e uma personagem importante nos três primeiros filmes, reaparece com arquivos roubados da CIA, que podem indicar que toda a AUTOFLAGELAÇÃO de Bourne não tem sentido. Uma treta que acaba colocando os dois na mira da agência, dirigida por Robert Dewey, um Tommy Lee Jones fazendo uma versão genérica dele mesmo.
É nesse contexto de espionagem atual que conhecemos uma das mais interessantes personagens do filme: Heather Lee, uma agente vivida por Alicia Vikander. Ela representa uma versão moderna de Bourne e James Bond, uma agente próxima do que o Edward Snowden fazia, agindo mais como hacker do que qualquer outra coisa. É ela também quem acaba investigando um pouco mais sobre as atitudes da CIA e do próprio Bourne, percebendo que o ex-agente não é um lunático que quer expor os planos secretos do governo dos EUA. No fundo, ele ainda é um patriota – só que se sente sozinho, sem missão, sem vida, sem propósito.
Com essa mistura toda, Jason Bourne acaba entregando uma alegoria interessante. O personagem é, de alguma forma, a representação da esquizofrenia que vivem os Estados Unidos de hoje: sente um grande arrependimento pelo que fez no passado e pelas pessoas que matou, sabe que ainda pode (e até deve) fazer algo por quem tá por aí agora, tentado com a possibilidade de voltar a ser o seu “velho eu” e, ao mesmo tempo, tem medo de errar novamente.
O que atrapalha é que essa viagem de auto-descobrimento do Jason Bourne é fraca, com soluções ou muito óbvias ou muito forçadas, te levando pra um lugar para o qual você já imaginava chegar meia hora antes de efetivamente estar lá. Em parte, esse real envolvimento de David Webb com o Treadstone soa como uma longa cena pós-créditos de O Ultimato Bourne. Algo que, por si só, pouco justificaria um filme.
Porém, a forma como essa dualidade do protagonista, tão atual, é encarada faz de Jason Bourne, o filme, ter algum sentido em existir – e o maior motivo para você vê-lo, caso não seja fã do personagem. E talvez tenha sido essa justificativa, lá atrás, que motivou Greengrass a retornar.
Pra não concorrer com Mulan, Bill & Ted 3 vai estrear em VOD mais cedo: 28 de Agosto! https://t.co/Bu3VBYYW8X