RESENHA! 1a temporada de Runaways, da Marvel

Um dos destaques dessa série é não ser uma daquelas de fazer maratona de temporada num fim de semana só. Porque quanto mais tempo de Runaways, melhor. :)

SPOILER! Run! é a última palavra que se ouve na temporada de estreia de Runaways. É exatamente nos últimos segundos, do último episódio, em que a ideia de “fugitivos” se torna realidade, no exato momento em que aquele grupo de adolescentes de Los Angeles percebe que foi colocado numa armação que os acusa de um assassinato que não cometeram.

“Ah, mas” não, querido fã chato do gibi que costuma exigir uma adaptação quadrinho por quadrinho. Runaways segue mais ou menos a mesma fórmula de Preacher, se distanciando COM GOSTO do material original na primeira temporada, preferindo construir uma base para o que virá a seguir.

Nesses dez primeiros episódios, conhecemos cada um dos pais individualmente, como casal e como membros do Pride; cada um dos adolescentes, como filhos, pessoas físicas e membros de um grupo; e o mais importante, conhecemos a história que faz com que a primeira temporada termine com “Run!” e, olha só, os seis adolescentes (e um dinossauro) correndo.

Uma decisão que, confesso, demora a encaixar e a fazer sentido. Mas, ao olhar a primeira temporada como um TODO, fica claro que não podia ser diferente.

Episódio por episódio, o que temos são muito mais perguntas sendo feitas do que respostas sendo dadas. Numa história qualquer, isso poderia fazer com que o interesse sumisse rapidamente mas, em Runaways, as tais perguntas são feitas também pelos protagonistas, tão perdidos quanto nós naquele universo, o que, de maneira inteligente e sem o abuso de cliffhangers, faz com que seja impossível não querer o próximo episódio (ou temporada) pra já.

Uma série... Seriada. Algo que, numa onda tão grande de temporadas inteiras sendo despejadas online ao mesmo tempo, meio que se perdeu. O primeiro ano de Runaways não é um grande episódio piloto de dez horas, mas sim uma grande primeira temporada de um seriado MUITO legal de assistir, especialmente pros jovens de hoje em dia.

Há alguns problemas, claro, como o súbito romance lésbico e o bonitão jogador de Lacrosse gostando de verdade da menina esquisita — algo que não chega a ser surpreendente e, por isso mesmo, parece mais uma correção de curso do que algo previamente calculado (mesmo que, pros leitores dos quadrinhos, isso não seja exatamente uma novidade). Também achei realmente estranho a falta de questionamento sobre o caráter dos pais: por mais que todos sejam meio paunocus de alguma maneira, eles tinham relações com os filhos. I mean... Se alguém disser que seus pais são grandessíssimos filhos da puta, você vai simplesmente aceitar e fazer algo contra eles? Nenhuma dúvida, nenhuma pergunta, nenhuma dor? Nada?

Mas a série apresenta coisas realmente interessantes como a jovem latina que acabou de entrar na puberdade, um elenco realmente diverso e a garota que tem transtornos de ansiedade e problemas de autoimagem, além de diversos tipos de relacionamentos abusivos. Nem tudo é tratado com a profundidade que merece, mas é bastante válido que essas coisas sejam representadas.

Ainda mais num momento em que a Marvel dos quadrinhos resolveu ficar em cima do muro...

Ao contrário do que estamos (infelizmente) ficando acostumados, a primeira temporada de Runaways não é um grande episódio piloto de 10 horas, e sim um início muito interessante de uma série realmente importante de ser assistida

Com todas as propriedades da Marvel se perdendo em algum momento no Netflix (eu realmente acredito que isso vai acontecer, infelizmente, com Jessica Jones e Justiceiro, as duas melhores e únicas séries que se salvaram até o momento), e com Agents of SHIELD que, desde a quarta temporada, parece ter aprendido direitinho como se faz uma série de “super-heróis”, Runaways surge como um grande respiro de novidades e renovações, não só de público como também de histórias pra se contar num universo tão vasto como esse da Casa das Ideias — o que Legion mostrou que era mais do que possível.

Premissa e conflitos interessantes, que não tentam justificar nenhum tipo de superpoder (mais um ponto sobre o qual tanto nós fora quanto quem tá dentro da história sabemos o mesmo tanto), personagens e atores carismáticos, muito bem produzida, dirigida e, principalmente, escrita. Runaways é uma série realmente muito boa.

Fico mais do que feliz de saber que o Hulu já anunciou a segunda temporada da série, além do fato de que não se trata de uma série pra fazer maratonas, e sim acompanhar semana a semana. Porque quanto mais de Runaways, melhor. Só vem. :)