Rob Liefeld garante que os filmes afetam SIM os X-Men nos gibis | JUDAO.com.br

Durante a Wizard World Austin, um dos criadores do Deadpool dá ares praticamente oficiais ao papo sempre dito e nunca confirmado — e ainda vem com uma notícia boa e outra ruim

Em 2014, a gente publicou aqui no JUDAO.com.br um texto que foi amplamente divulgado a respeito da delicada relação entre Marvel e Fox, muito antes desta história da compra pela Disney poder sequer ser considerada realidade. A ideia ali era explicar, dada a popularidade da Marvel nas telonas, por que diabos os X-Men e o Quarteto Fantástico não se cruzavam com eles — e qual seria a diferença fundamental deste acordo para o acordo da Casa das Ideias com a Sony envolvendo o Homem-Aranha.

Esta segunda parte tá amplamente explicada na matéria original, mas se resume basicamente a DINHEIRO (ah, cê jura?). A Marvel ganha muito mais grana com o Cabeça de Teia e a Sony do que vinha ganhando com a presença dos mutantes no estúdio da raposa. Ali rolava uma relação bem mais AZEDA e, por isso, se justificava uma frase recorrente ao longo dos últimos anos: “por causa dos cinemas, os X-Men e o Quarteto Fantástico estão ganhando cada vez menos espaço nos gibis da Marvel”.

Tá bom, tá bom, vejam só. É óbvio que a própria editora já negou isso dezenas de vezes. Não teria como ser diferente, são seus personagens, aquela história toda. Mas a Marvel não é uma ONG, né? O objetivo dos caras é ganhar dinheiro. Dito isso, pense que, nos últimos anos, os papéis meio que se inverteram e os filmes baseados em personagens da empresa se tornaram sua principal plataforma e as HQs viraram meio que “suporte” disso. Logo, sendo a Marvel uma empresa da Disney, por qual causa, motivo, razão ou circunstância eles dariam assim tanta moral pra uma série de gibis que poderiam ser de potencial ajuda pra divulgar um filme da Fox, sua concorrente até aquele momento? Não faria qualquer sentido.

Por isso mesmo que o Quarteto Fantástico simplesmente desapareceu dos quadrinhos nos últimos anos. Se o título já não vinha tendo lá muito destaque, pós-Guerras Secretas o Reed e a Sue sumiram no espaço-tempo enquanto o Tocha foi parar nos Inumanos e o Coisa deu um rolê com os Guardiões da Galáxia. Só agora, no último mês de Agosto, é que o gibi da equipe voltou com força total, com Dan Slott nos roteiros e tudo. “Nós sempre soubemos que o Quarteto voltaria”, confessou, em um vídeo publicado no Twitter da Marvel, o seu novo editor-chefe, C. B. Cebulski. “Só estávamos esperando o momento certo e o time criativo adequado para este retorno”.

Talvez o momento certo envolvesse uma transação de mais de US$ 50 bilhões, né? ;)

O caso dos X-Men, obviamente, é bem mais complexo. A Marvel tinha lá quase uma dezena de títulos mutantes em circulação, a franquia dos X-Men nos cinemas é muito mais forte e muito mais estabelecida... Mas qualquer um que acompanhasse as histórias dos pupilos do Professor X na última década ia sacar a queda brutal de foco que eles tiveram. Tamos falando da grande ponta de lança da Marvel durante os anos 90, percebe? Muito mais do que qualquer gibi dos Vingadores. Só que, de uns anos pra cá, a balança nitidamente se inverteu. Os Maiores Heróis da Terra enfim assumiram papel de destaque e os mutantes se tornaram coadjuvantes. Em grandes sagas/crossovers da editora, ou eles não participavam ativamente (tipo em Guerra Civil) ou então estavam condicionados aos Vingadores (tipo, bom, Vingadores vs X-Men).

Isso sem falar na diminuição ativa da população mutante graças ao No More Mutants da Feiticeira Escarlate, deixando as portas abertas para que os Inumanos ganhassem mais poder e importância dentro das tramas — a própria Wanda e seu irmão Mercúrio, por exemplo, tiveram sua origem recontada e agora, dentro da história oficial, NÃO são mais mutantes, mas sim “humanos aprimorados” pelas experiências genéticas do Alto Evolucionário. Se esta decisão criativa não é a Marvel legitimando a sua própria versão do velocista nos cinemas e deslegitimando aquela que a Fox apresentou, olha, juro que não sei mais nada.

Além disso, dava pra ver que gibis que envolviam os Vingadores eram claramente construídos e constantemente reconstruídos como uma forma de que aquilo fosse uma porta de entrada pros novos leitores chegando das telonas, enquanto as revistas dos X-Men eram uma zona temporal e cronológica tão grande que alguém que tivesse vindo diretamente de Primeira Classe ou mesmo Dias de Um Futuro Esquecido não veria um único rosto conhecido e não entenderia porra nenhuma do que tava acontecendo ali.

Tudo isso, NO ENTANTO, pode estar prestes a mudar pra valer. E quem deu a dica foi ninguém menos do que Rob Liefeld, um dos criadores não apenas do Deadpool (hoje, uma espécie de galinha dos ovos de ouro pra Fox) como do Cable e da X-Force, time cujo conceito foi apresentado no mais recente filme do herói.

“Eis o ponto aqui. Desde que os filmes dos X-Men começaram a sair a Disney não tinha controle sobre eles, não sei se vocês prestaram atenção, mas a Marvel meio que abaixou o volume dos X-Men nos gibis por quase 20 anos”, afirmou o quadrinista, sem meias palavras, durante um painel na Wizard World Comic Con, realizada em Austin entre os últimos dias 21 e 23 de setembro. “Agora que eles têm mais controle sobre eles, o que fiquei sabendo foi algo do tipo ‘ah, nossos orçamentos pros gibis dos X-Men aumentaram bastante com relação ao que eram porque agora tudo pertence a nós de novo'”.

Depois de sua saída em 1992, para fundar a Image Comics, Liefeld acabou ensaiando uma aproximação com a Marvel em 1996, graças ao PAVOROSO evento Heroes Reborn, uma confusa e dispensável reinterpretação dos Vingadores e do Quarteto em uma realidade alternativa (ou algo assim).

Como os títulos nos quais trabalhou tiveram vendas horríveis, o contrato com Rob foi encerrado prematuramente e o estúdio de Jim Lee assumiu a bronca de continuar as revistas até o final do crossover. A relação só voltaria a melhorar por volta dos anos 2000, quando chegou a ser convidado para fazer capas/artes internas eventualmente pros gibis do Cable e da X-Force — e, em 2004, se reuniu com o antigo parceiro Fabian Nicieza para uma série limitada da equipe. Ele então continuaria a ser convidado para trabalhos esporádicos, como alguns números de Deadpool Corps e a graphic novel Deadpool: Bad Blood.

Parece, portanto, que Liefeld tem mesmo algum tipo de informação privilegiada aí já que não apenas esta relação com a Casa das Ideias continua mas vai ser aprofundada no ano que vem. “Eu tenho um novo projeto, em 2019, que será um gigantesco crossover dos X-Men”, revelou ele, ao longo do evento. “É incrível. A Marvel me chamou no último Dia de Ação de Graças e disse ‘queremos que você faça uma grande história’. Eu disse, bom, deixa eu ver se eles topam isso. Então eu tentei fazer algo que ninguém nunca fez antes. Fiz esta proposta bem agressiva pra um evento e eu não posso dizer do que se trata e o que envolve, mas tem um monte de coisas novas”.

Portanto, estão aí as duas notícias sobre as quais falamos lá em cima: a boa é que vamos ter os X-Men de volta ao seu devido papel de destaque no panteão da Marvel. E a ruim é que teremos MAIS UMA VEZ o Rob Liefeld trabalhando com estes mesmos X-Men — seja lá o que isso signifique.