RoboCop de Elite | JUDAO.com.br
20 de fevereiro de 2014
Filmes

RoboCop de Elite

José Padilha conseguiu o que ninguém imaginava quando saíram aquelas primeiras imagens…

Quando as primeiras imagens do remake/reboot de RoboCop surgiram nas internets, um mass rage, como poucas vezes se viu, inundou absolutamente tudo. Eu estava entre as vozes iradas que bradavam que Hollywood se perdeu em meio a refilmagens, adaptações e continuações — o que não é lá de todo errado —, que não fazia sentido refilmar um clássico como RoboCop e que o filme seria uma absoluta e gigantesca merda. Culpa dos produtores que contrataram o “coitado” do José Padilha que serviria apenas de escada para o que chamamos de “filme de estúdio”.

“Como assim o RoboCop é preto? Que porra é essa? O QUE ESTÃO FAZENDO COM A MINHA INFÂNCIA?”

Essas foram apenas algumas das perguntas mais comuns na época. O filme de Paul Verhoeven foi um marco do cinema e criou o meu primeiro super herói favorito — meu e de muita gente — além de colocar nas nossas cabeças cenas e falas clássicas. O RoboCop de 1987 está nos corações de todo cinéfilo e todo jovem que cresceu nos anos 90, irretocável, com várias camadas de entendimento e conceito. Cru e extremamente violento como era de praxe na época. Novamente, um marco. E marcos históricos tem a vantagem de terem essa aura de perfeição e a desvantagem de ser um produto de seu tempo.

~Bonequinho lançado em 2013 pela Hot Toys

~Bonequinho lançado em 2013 pela Hot Toys

Sim, o RoboCop é datado. Isso não quer dizer, nem de perto, que o filme de alguma forma perdeu sua qualidade ou que não vale a pena ser assistido, ou até que deva ser esquecido. RoboCop é genial praquela época, assim como o novo RoboCop pode ser para os dias de hoje. Porque sim, apesar de quase tudo levar a crer o contrário, o filme do Padilha é MUITO BOM. Tão bom para os dias de hoje como o clássico foi para os seus.

Não é a quantidade de sangue ou palavrões (ou peitinhos) que fazem um filme ser bom. O Cavaleiro das Trevas não tem uma gota de sangue é um dos filmes mais agressivos e violentos que eu já vi. O que me entristece são os argumentos usados — inclusive por mim — antes de assistir ao filme. Praticamente todo filme que você vai ver todo armado pra não gostar, você acaba realmente não gostando. Você não compra o roteiro, a direção, os diálogos e fica o tempo todo comparando. Cena a cena.

E, pra piorar, o remake do Padilha ainda tinha o quesito nostalgia. Um sentimento que, em várias instâncias, é muito bom, mas obscurece o nosso julgamento em relação ao “novo”. Pensamos muito mais com o coração do que com a razão na hora de analisarmos algo que se encaixa nessa situação. RoboCop é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos, mas eu fiz o possível pra ir ao cinema de coração aberto sem preconceitos e sem querer comparar os filmes...

E cara, foi uma experiência SENSACIONAL.

Eu não vi o primeiro no cinema — foi lançado no ano em que nasci —, mas tive o prazer de ver esse. O roteiro é fechadinho, redondo e sem pontas soltas. TUDO, absolutamente TUDO que acontece no filme tem uma razão. O corpo azul metálico, depois o preto, a “mão humana”. Tudo aquilo que a gente criticou no início tem uma explicação, muito plausível. O roteiro de Joshua Zetumer pode não conter tantas camadas, críticas e crueza como o da dupla Edward Neumeier e Michael Miner, mas é quase perfeito. Toda a construção, evolução de personagens, e a narrativa te fazem comprar a ideia e acreditar 100% naquele mundo.

A jornada do herói tá lá, redondinha, fechada.

José Padilha pode ou não ter sofrido pressões absurdas do estúdio — se recebeu, acredito que foi só na questão de manter o filme PG-13 (o que não é um problema) —, mas ele comanda o filme. Se você assistiu aos dois Tropa de Elite exaustivamente como eu, vai ser muito fácil encontrar a assinatura de Padilha nos ângulos, na câmera tremida, no estilo da ação — bem mais real e crível do que no primeiro, algo “exigido” hoje em dia –, e claro, na crítica ao “sistema”. A crítica ao imperialismo, à democracia em forma de tanques, robôs e drones de guerra, às corporações que influenciam na política e na mídia. Mídia que é representada pelo SENSACIONAL Samuel L. Jackson (que é uma versão americana do detestável Fortunato do Tropa de Elite 2) e que SIM, manda um “motherfucker” — blipado, mas genialmente blipado por ele estar na TV no filme, e não por ser PG-13. Padilha mostra que há formas de não ficar preso por uma limitação.

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Michael Keaton é o presidente filho da puta da OminiCorp, Raymond Sellars, uma claríssima — quase explícita — referência a Steve Jobs. Fazendo qualquer coisa, passando por cima de qualquer um, a qualquer custo para lançar o melhor produto e fazer a empresa ganhar mais alguns bilhões. Gary Oldman é outro que faz muito, muito bem o seu papel de Dr. Dennet Norton, já que até o fim do filme você não consegue muito bem ter certeza de suas intenções, o que pra mim é um crédito total para a atuação dele. Você consegue sentir seu conflito interno e entende todos os questionamentos e escolhas que ele faz.

A mulher de Murphy, Clara — a estonteante, apaixonante, ómeudeusquemulherlinda, Abbie Cornish —, o capanga-vilão Roscharch, Rick Mattox (Jackie Earle Haley) e o parceiro de Murphy, que neste filme é homem e negro, são bons coadjuvantes que ajudam na própria evolução do policial, muito, mas muito bem feito por Joel Kinnaman. Na cena mais chocante do filme — e bota chocante nisso — você na cadeira tem a mesmíssima reação do personagem, que está tão desesperado quanto você. É nesse momento que você esquece completamente de Peter Weller. A partir dessa cena eu consegui deixar o Robocop de 87 e me entregar ao ótimo filme de ação/ficção-científica que eu estava vendo.

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Se quiser comparar os filmes, exaltar as diferenças, ficar de mimimi, tudo bem. Mas eu preferi aproveitar o filme, que é tão bom quanto o original. Eu sei que no fim, quando a última ponta foi amarrada, eu saí do cinema DESESPERADO por uma continuação. Um filme que faz isso com você passa longe, muito longe de ser ruim. E só pra não falarem que eu não falei nem um pouco mal do filme, eu indico como ponto fraco a trilha sonora. Tem o tema clássico? Tem. Porém muito baixo, meio esquecido, como se estivesse lá apenas para constar. Faltou uma explosão, de deixar surdo, com uma das melhores músicas temas do cinema.

De qualquer jeito acho que você, vivo ou morto, deveria ouvir o que o Joel Kinnaman tem a dizer aí embaixo e correr pro cinema. Eu sei que eu verei de novo.