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Um pouco da história dos álbuns homenageados nas capas variantes que serão lançadas em Setembro

Em Outubro de 2015, a Marvel Comics produziu uma enorme série de capas variantes inspiradas em discos clássicos do rap e variantes, em reinterpretações obviamente estreladas por seus personagens. Teve Doutor Estranho na capa de The Chronic, do Dr Dre; Howard the Duck no lugar de Ol’ Dirty Bastard em Return to the 36 Chambers; Homem de Ferro pagando uma de 50 Cent em Get Rich or Die Tryin’; e até o Homem-Formiga como o bebê na capa de Read to Die, do Notorious B.I.G.

E também teve, claro, uma BOA dose de polêmica. Artistas e ativistas acusaram a empresa de fazer do hip-hop apenas um trampolim, uma “estratégia de marketing”, usando a cultura negra para atrair os brancos — enquanto tem em suas fileiras personagens negros e gibis com equipes de negros, a editora raramente apresentaria artistas negros nos bastidores. Do seu lado, caras como o editor-chefe Axel Alonso declararam ser fãs do gênero desde a adolescência e que a iniciativa era uma “declaração de amor”.

Pois bem: eis que, em setembro, a Marvel volta ao universo musical só que fazendo uma “declaração de amor” diferente, mais cheia de cabelões e guitarras, já que as variantes vão agora celebrar capas de discos icônicos do rock, aqueles que ajudaram a fazer história neste gênero musical. Digamos que a editora, salvo alguma homenagem fora de contexto, está pisando em terreno bem mais seguro para evitar expor as próprias fragilidades, não é mesmo? ;)

Começamos com aquela que talvez seja a mais injustamente desconhecida das quatro, a ótima versão de Daniel Acuna para a capa de Parallel Lines, do Blondie (1978), feita para ilustrar a capa variante de X-Men Blue #11 com os cinco jovens integrantes originais do time mutante vindos do passado + Jimmy Hudson, o filho do Wolverine vindo do Universo Ultimate e agora parte oficial da cronologia da Marvel tanto quanto o colega Miles Morales. O álbum, sucesso absoluto na Inglaterra, também foi a virada comercial definitiva da banda liderada por Debbie Harry no mercado americano.

Parallel Lines foi responsável por uma quebra de paradigma musical pro Blondie, exatamente como eles tinham em mente quando correram atrás do produtor australiano Mike Chapman, responsável por hits pra bandas como The Sweet e Suzi Quatro. Rolou um puta quebra-pau no estúdio, eles demoraram a se entender (Chapman pegava pesado com o grupo, que achava muito jovem e despreparado, muito “foda-se” demais, e teve até sintetizador voando na cabeça da galera). Só que acabou dando certo no final.

A mistura de new wave e punk ganhou ares mais sofisticados e eles conseguiram flertar, sem medo de ser felizes, com a música pop, gerando o que o All Music Guide chama de “state-of-the-art pop/rock”. Mas nem precisa ir muito longe na masturbação etimológica: escuta o clássico Heart of Glass (canção que, segundo o batera Clem Burke, foi inspirada no Kraftwerk e na trilha sonora de Os Embalos de Sábado à Noite) e você vai sacar qualé.

Uma que é quase impossível esquecer é a capa remixada por Marco Rudy para Mighty Thor #23. Porque a intrépida defensora de Asgard tá dando uma martelada no chão da mesma forma que o baixista Paul Simonon no palco da casa nova-iorquina The Palladium em London Calling, de 1979, o clássico absoluto dos ingleses do The Clash. A foto foi registrada por Pennie Smith durante um show da turnê Clash Take the Fifth US, quando o músico estava muito puto ao descobrir que os seguranças do local não tavam deixando os fãs se levantarem de suas cadeiras.

Originalmente, aliás, a fotógrafa nem queria que eles usassem a imagem, que estaria fora de foco e pans, mas o vocalista Joe Strummer e o designer gráfico Ray Lowry a convenceram do contrário. Ufa. ;)

Todo o conceito da capa é uma homenagem ao disco de estreia de ninguém menos do que Elvis Presley, autointitulado, lançado em 1956. Curioso que a referência ao rebolativo Pelvis tenha vindo justamente de uma banda de punk rock — que, justiça seja feita, neste terceiro disco explorou uma porrada de sonoridades diferentes, que foram do reggae ao rockabilly, passando pelo R&B, jazz e até mesmo o bom e velho hard rock. Tudo para falar sobre coisas como relacionamentos e as responsabilidades da vida adulta mas, como toda boa banda punk na essência, sem deixar de lado as porradas costumeiras em questões sociais como o racismo.

Aí, a gente pula do final da década de 70 pro final da década de 80, que é quando foi lançado Appetite for Destruction, o debut musical do combo hard americano conhecido como Guns n’ Roses. A homenagem é de Damion Scott para a capa de Inhumans: Once and Future Kings #2.

Um dos discos mais vendidos da história, uma aposta certeira da Geffen Records em um bando de arruaceiros que acabou convertendo mais de 20 milhões de unidades vendidas, Appetite for Destruction foi quase que inteiramente composto enquanto o GnR se apresentava no circuito de pequenos clubes de Los Angeles, onde começou a construir sua história como uma fusão de integrantes do LA Guns e do Hollywood Rose. Mas porra, tamos falando de um disco que tem Welcome to the Jungle, Mr. Brownstone, Paradise City, My Michelle e a BLOCKBUSTER Sweet Child o’ Mine, todas presenças carimbadas na programação de qualquer rádio de clássicos do rock em qualquer parte do mundo.

Importante lembrar aqui que esta arte das caveiras é, ela mesma, uma “capa variante”, originalmente um desenho para uma tatuagem feito por Billy White Jr. e que homenageia o Thin Lizzy por conta da cruz celta. Ela substituiu a anterior atendendo a um pedido da gravadora, que tratou de transformar o desenho original em uma ilustração interna do encarte depois que alguns revendedores reclamaram da violência da imagem. Pudera: Axl e sua turma escolheram a pintura Appetite for Destruction, de Robert Williams, que traz um robô estuprador prestes a ser punido por uma ameaçadora máquina de matar escarlate com dentes de faca. Os caras da banda ainda tentaram dar um migué, dizendo que aquela era uma “declaração social simbólica, com o robô representando a indústria que está estuprando e poluindo nosso meio-ambiente”. Sei, sei. Isso porque, originalmente, a ideia de Axl Rose era uma foto da espaçonave Challenger explodindo, aquela da capa da revista Time em 1986. A gravadora vetou porque considerou de “mau gosto”.

O desenho de Mike Hawthorne e Nathan Fairbairn para Guardians of the Galaxy #9, como você deve ter sacado, coloca o guaxinim heroico Rocky como o bebê da capa de Nevermind, o segundo disco de estúdio da banda que uniu todas as tribos, o Nirvana. Lançado em 1991, o álbum foi o responsável por catapultar o grunge, aquele som de garagem surgido das guitarras distorcidas tocadas por um bando de moleques em Seattle, para o mainstream. O hit definitivo Smells Like Teen Spirit, devidamente LADEADO por outras faixas históricas como Come as You Are, Lithium e In Bloom, ajudou a fazer a bolacha vender mais de 30 milhões de cópias em todo o mundo, deixando o Dangerous de Michael Jackson comendo poeira nas paradas da Billboard do ano seguinte.

O bebê pelado da foto original, Spencer Elden, ainda fatura com a imagem (cujo conceito veio depois que Cobain assistiu a um programa sobre bebês que nascem na água) tanto tempo depois, do alto de seus 26 anos de idade. Afinal, cada vez que o disco faz aniversário, lá tá a imprensa atrás do cara de novo, sempre interessadíssima em fazer com que ele repita a pose MAIS UMA VEZ. “É estranho que eu tenha feito isso por apenas cinco minutos quando tinha quatro meses de idade e tenha se tornado algo tão importante”, afirmou ele, em entrevista ao The New York Post. “É legal mas estranho fazer parte de algo tão importante e sobre o qual eu simplesmente não me lembro”.

E agora estamos oficialmente aguardando uma versão da Marvel pra Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. De preferência, desenhada pelo George Pérez. Quando sair, a gente atualiza aqui. Fica ligadinha. ;)