Rock in Casa: o que a gente viu, diretamente do nosso sofá | JUDAO.com.br

Não fomos para a Cidade do Rock, mas ficamos grudados em tudo que estava rolando no primeiro fim de semana do Rock in Rio

A edição 2015 do Rock in Rio começou e, com ela, a nossa maratona televisiva de quem deliberadamente decidiu não ir para a Cidade Maravilhosa mas ficou ligado nas transmissões pela TV ou por qualquer aparato conectado às internets, sem se preocupar com o trânsito até a Barra, sol na cabeça e o chopp a $10 — tudo, claro, olhando a timelinda do twitter enlouquecer. :D

A primeira coisa que se viu e ouviu, no Palco Sunset, foi a trinca entre os caras do Ira! com o rap do Rappin’ Hood e o soul de ninguém menos do que o lendário Tony Tornado. Parecia que não ia funcionar, mas deu certo pra caralho, ainda que a plateia não tenha entrado tanto no clima — o que, pra um primeiro show, numa sexta à tarde de sol, é até compreensível.

Mas essa estreia do evento que comemora 30 anos em 2015 era mais um dia de homenagens. No Sunset, teve celebração a Cássia Eller que, no contexto geral, foi bem boa, com o eterno parceiro Nando Reis tocando Relicário e O Segundo Sol, a Nação Zumbi botando pra quebrar com Quando a Maré Encher – e, relembrando o clássico momento de 2001, quando Cássia mostrou os peitos pra galera, Zélia Duncan, Mart’Nália, a percussionista Lan Lan, Tacy de Campos (que interpretou a cantora em Cássia Eller – O Musical e surpreendeu com a linda versão de Por Enquanto) e provavelmente todas as outras mulheres do palco ergueram as camisetas durante Smells Like Teen Spirit, do Nirvana, aquela banda que une todas tribos, num peitolelê maluco e sensacional.

Cássia, com certeza, ficaria orgulhosa das suas meninas. ;D

Tony Tornado: “Quando duas mãos se encontram, refletem no chão a sombra da mesma cor”

Tony Tornado: “Quando duas mãos se encontram, refletem no chão a sombra da mesma cor”

Falando em Dinho Ouro Preto, ele fez parte da performance em conjunto que inaugurou as atividades do Palco Mundo, o principal do evento. O show Rock in Rio 30 Anos, com a intenção de trazer um monte de artistas nacionais para celebrar as três décadas do festival com faixas icônicas que foram tocadas naquele palco, foi na verdade uma verdadeira salada que simplesmente não funcionou. O troca-troca de bandas/músicos ao longo da apresentação acabou marcado por problemas de som que, se podem ser ignorados ou nem são percebidos por quem tá na Cidade do Rock, na TV só nos faz querer ver se tá passando alguma outra coisa em algum outro canal. De chiados nos alto-falantes à voz de Ney Matogrosso encobrindo os instrumentos e o vocal do amigo Frejat em Por que a Gente É Assim?, que prometia ser um momento lindo pela icônica homenagem a Cazuza e não deu muito certo, a coisa toda persistiu com som embolado e a voz de uma galera sumindo, como a do próprio Dinho, que tentou cantar À Sua Maneira no meio da plateia (não que esta tenha sido uma coisa ruim, afinal de contas).

Teve Skank, teve Ivete, Titãs, Jota Quest, Ivan Lins, Erasmo Carlos, Blitz – e, pra encerrar, o arroz de festa Andreas Kisser confundindo a galera e deixando todo mundo achando que tinha comprado ingresso pro dia errado ao cantar Ratamahatta, do Sepultura, emendando com um solo que deu a introdução da música tema do Rock in Rio, cantado por todo mundo junto. Resumindo? Entendo a iniciativa. De verdade. Mas foi tudo muito mal ensaiado e desorganizado, com ares de especial de final de ano da Globo.

E você sabe que esses especiais da Globo servem só pra ser um descanso de tela enquanto você preenche a face de peru e ESPUMANTE, né? :P

Andreas Kisser e a Blitz

Andreas Kisser e a Blitz

Aí começaram as bandas internacionais e aquele clima de Rock in Rio de verdade (não dá pra negar o fato de que esses Brasileiros estão sempre na nossa TV, né) e, rapaz, escolheram MUITO MAL os nomes para servir de abertura para o Queen, headliner da noite. Gosto, de verdade, desta coisa de experimentar bandas novas, em ascensão, jogando os caras junto com os medalhões, que o seu Medina costuma fazer. Às vezes ele acerta, como veremos mais à frente. Mas tem vezes em que erra, como foi no caso do que rolou na sexta. Nem tenho lá muito a dizer sobre The Script, que fez uma apresentação correta, mas bem genérica. Eles se esforçaram, meteram camiseta da seleção brasileira, tavam empolgados... Mas nhé. Se a ideia era buscar um nome indie para catapultar, dava pra ter dado uma folheada mais a fundo na NME para encontrar outra banda mais interessante, né?

E aí veio o One Republic, fazendo um showzinho morno, bem mais intimista e que caberia numa casa pra 500 pessoas. Coldplay style. Deu sono. Tudo muito INHO demais, sabe? Bonzinho, pianinho, violãozinho, fofinho. Pô! Ali o esquema era rock de arena, caralho. Não que a banda seja ruim, longe disso. Mas não estava no dia certo e, definitivamente, não foi selecionada para abrir para a banda certa. A coisa esquentou só quando mandaram os hits mais conhecidos como Apologize e Counting Stars, além de uns covers de Sam Smith e White Stripes. Teria funcionado BEEEEEEEEEM melhor se estivesse, sei lá, no dia da Rihanna, por exemplo.

E eis que entra no palco o Queen. Vamos esclarecer o assunto aqui de uma vez por todas: Adam Lambert não é substituto para Freddie Mercury. Não foi convocado com esta intenção e muito menos se comporta desta forma durante o show – que, aliás, se chama Queen + Adam Lambert, para deixar as coisas em pratos limpos. Ele é um cantor convidado, que está ali para reverenciar e honrar o legado do frontman — o que ele faz questão de dizer, logo depois das primeiras músicas. Sim, o Mercury era foda, inesquecível, incomparável. Mas a parada aqui é outra, completamente diferente.

Queen

A palavra para definir o show do Queen é “emocionante”. Lambert foi respeitoso, performático, carismático, divertido, cheio de brilhos, plumas e paetês. Deitado no sofá e se abanando com um leque a la diva em Killer Queen, LACROU. O moleque canta bem, sabe dominar o palco e entrega direitinho para que os grisalhos Brian May e Roger Taylor também brilhem — até mais que ele. Em In The Lap of the Gods, conseguiu me deixar arrepiado. Deu uma escorregadinha vocal em Don’t Stop Me Now, justamente minha música favorita do Queen? Sim, um pequeno exagero. Mas dane-se. Não comprometeu em nada. Um sujeito com personalidade que, ainda bem, não tentou fazer um “Freddie Mercury cover”. E quando alternaram os vocais do Lambert com os do Mercury no clássico absoluto Bohemian Rhapsody, mano... chorei. Muito. E sorri.

Como o Borbs já tinha falado a respeito do show de SP, a coisa ganha outros ares quando May vem pra frente do palco e, acústico, só violão e voz, convoca a galera pra cantar Love of My Life com ele. É muito, mas muito amor. Só mesmo tendo um coração de pedra para ficar de “ai, o Lambert não é o Mercury” quando o guitarrista original do grupo está ali, com o coração rasgado, emocionadíssimo.

Seguindo nesta linha, outro momento lindo, encantador, mágico: Taylor levantando da bateria para cantar A Kind of Magic. O baterista é um dos grandes compositores da banda e, logo depois do Mercury, aquele que tinha/tem a voz mais linda, límpida, deliciosa de ouvir. Ele e May, afinal de contas, também são o Queen. E mostraram que aqueles cabelos brancos merecem um PUTA respeito.

Queen

E aí veio o dia do metsaaaahl, justamente num sábado (19) QUENTE PRA CARALHO, fazendo ferver a galera das camisas pretas. A história toda começou lá no Palco Sunset, como de costume, com os caras do Noturnall. E, rapaz, que puta show esquisito. Tava tudo bem ruim no começo, pra ser bem honesto, apesar dos esforços do excelente baterista Aquiles Priester, ex-Angra. Mas aí tiveram uns bonecos zumbis strippers (ou alguma coisa assim, confesso que não entendi direito), e o vocalista Thiago Bianchi forçando a barra nos agudos, de um jeito que não tem feito nem nos discos da banda. Rolou até um cover de Cowboys From Hell, do Pantera, que beirou o vergonhoso e me fez encolher de vergonha na cadeira.

Ele até chamou a própria mãe pra cantar com ele Woman in Chains, do Tears for Fears, que foi, sei lá, bonitinho — embora admita que talvez seja meu lado pai falando. Só que tudo se encaminhava para um desastre total.

E quem via aquele cara, naquele sol, com aquele coturno, aquela jaqueta, aquele lenço, aquela GOLA ROLÊ, não conseguia enxergar nada além de, sei lá, um desmaio ou algo pior. Sério, gente, qual é o problema de ir pro Rock in Rio de chinelo, bermuda e até mesmo a socialmente questionável regata?

Só que aí entrou no palco o Michael Kiske, o convidado internacional dos caras, que já tinha tocado no Monsters of Rock este ano com o Unisonic e deixado todo mundo de queixo caído. Filho de Michael Chiklis e Rick Harrison, ele salvou o dia. Aliás, toda vez que o Thiago tentava cantar junto com ele, dava uma vergonha nível ultimate. O cantor acabou eventualmente desistindo e deixou Kiske brilhar. E, como de costume, brilhou, cantando Exceptional (do Unisonic) e I Want Out (do Helloween).

Ver este sujeito cantando uma música que marcou minha adolescência headbanger me fez bater cabeça, com lágrimas nos olhos. Ainda canta muito, este miserável. Que voz, senhoras e senhores. Praticamente a mesma da época em que começou, ainda com 18 anos, a ditar os rumos do power metal por aí. Que aula.

Galera no Palco Sunset

Galera no Palco Sunset

Quando o Angra apareceu no palco, estava mais do que disposto a espantar o fantasma daquela tenebrosa apresentação no mesmo Palco Sunset da edição de 2011, quando sofreram com problemas técnicos e uma performance horrenda de Edu Falaschi, levando à sua saída do grupo – e quase decretando o fim das atividades. Aqui, era outra banda — e mesmo de dia, mesmo pela TV, isso ficava claríssimo.

O italiano primo de Weird Al Yankovich, Fabio Lione, segurou bem a barra, espalhando carisma por todos os lados ao conversar com a plateia num português macarrônico divertidíssimo. Claro, ele arrasou nas canções do disco novo e, nas faixas antigas, digamos que encontrou o seu jeito de cantar, mais confortável, à vontade, sem precisar emular Falaschi ou André Matos. Rebirth, por exemplo, virou uma música mais dele do que do Edu. O único porém aqui foi no momento de Carry On, que não tem jeito: é feita para o André cantar. De maneira inteligente, no entanto, a banda costurou a canção icônica com Nova Era, o que ajudou a tirar Lione de uma fria.

A alemã Doro Pesch, subiu para cantar Crushing Room, como no disco do Angra e, antes de chegar o segundo convidado, Rafael Bittencourt foi gente boníssima e exaltou a ida do parça Kiko Loureiro pro Megadeth e anunciou oficialmente seu substituto nos shows em que não puder estar presente: Marcelo Barbosa, do Almah (a banda de Edu Falaschi. Ah, a ironia...).

Fechando, todo de branco, com uma camiseta escrita “Just Fuck It”, me surge Dee Snider, ídolo supremo, frontman do Twisted Sister, para dominar o cenário. Tá bom, ele cantou justamente as duas mais óbvias, I Wanna Rock e We’re Not Gonna Take It. Eu preferia Burn in Hell, bem adequada ao calor do momento, mas tudo bem. O cara manda MUITO bem. Para todo e qualquer vocalista ali presente, uma verdadeira lição de como se domina o público — com um figurino adequado ao evento e ao horário em que acontece.

E, vamos lá, seu Medina, já PASSOU da hora de convidar o Twisted Sister para o festival, não? De preferência, no Palco Mundo, onde merecia estar de verdade.

Leoni, Dee e Doro

Lione, Dee e Doro

Consegui ver pouco das outras duas apresentações do Sunset, o Ministry com o vocalista do Fear Factory e, logo depois, o Korn. Mas, no caso desta última, gostei bastante do que eles apresentaram. É uma banda que, enfim, se livra das amarras do tal do nu metal, fazendo um som de sabor mais alternativo com mais propriedade e segurança, ainda que dando uma leve forçada na cara de malvado. Mas, diabos, o Jonathan Davis estava tão feliz que até deixou a pose um pouco de lado e arriscou um sorriso, pensa nisso.

No palco principal, bingo, a equipe do seu Medina acertou com duas apostas arriscadas. A primeira delas, nos franceses do Gojira, liderado pelo guitarrista/baixista Joe Duplantier (é, aquele mesmo que tocou com Max e Iggor no Cavalera Conspiracy). Carregando nos graves do baixo e na velocidade dos bumbos duplos da bateria, eles não tiveram medo de ser felizes e chutaram a porta. Uma novidade tão bem-vinda para o metal quanto seus contemporâneos do Lamb of God, Machine Head e Mastodon, mereceram o destaque e a bateção de cabeça dispensada. Mas a grande surpresa da noite foram mesmo os caras do Royal Blood.

Eles não são exatamente um grupo de metal. Aliás, eles nem são exatamente um grupo – são uma porra duma dupla. Mas o que eles fizeram ali, maluco, foi de virar a cabeça de qualquer um. E deixaram a horda de metaleiros (no caso do Rock in Rio, o termo se aplica por afinidade histórica) de boca aberta. Eles chegaram a dizer que estavam meio com medo da reação do público, mas definitivamente não aconteceu o efeito Ghost, a banda de mascarados suecos que acabou recebida com frieza pelos fãs do Metallica na última edição do festival. O som garageiro dos sujeitos ganha corpo com o baixo de Mike Kerr, que também é vocalista. É, eles não têm guitarrista. E sim, o baixo é todo ligado nos amplificadores como se fosse uma guitarra. E surpreende. E faz vibrar.

Royal Blood

Na sequência, uma das performances mais aguardadas da noite, o Mötley Crüe, em sua turnê de despedida. Eu, como fanático pela banda, fiquei BASTANTE dividido com o resultado final da coisa toda. O repertório foi impecável, com todos os grandes clássicos, Girls, Girls, Girls, Dr.Feelgood, Kickstart My Heart. Tinha fogo por todos os lados, o baixo de Nikki Sixx disparando chamas como o já lendário guitarrista do recente Mad Max. Só que, por mais que seja complicado admitir, os caras estão parando na hora certa. Não dá mais – pelo menos para um deles. E não, não é o guitarrista Mick Mars, em seu momento zumbi/personagem de filme do Tim Burton, com o rosto escondido por trás da cartola. Porque, apesar de imobilizado por conta de sua doença, a espondilite anquilosante, que esmaga sua espinha e causa uma dor imensa, ele continua tocando. E muito bem. O solo que ele fez foi de botar pra foder.

O grande problema está em Vince Neil. Cara, ele não consegue mais completar as frases das músicas sem arfar. Ele para no meio delas e precisa tomar ar ou não aguenta. As duas belas dançarinas em roupas mínimas (uma tradição da banda, aliás) que o acompanharam no palco eram também ótimas backing vocals – e salvaram a vida dele várias vezes. Definitivamente, Neil não aguentaria outra pernada de shows como esta.

No final, quando o Multishow já achava que a apresentação tinha acabado e cortado para os comentaristas em pleno estúdio, BOOM!, o quarteto retornou ao palco para um último canto do cisne, a balada definitiva da Sunset Strip, Home Sweet Home. E Vince Neil cantou com uma emoção de cortar o coração, com lágrimas nos olhos, antevendo o final da banda, que acontece exatamente no dia 31 de dezembro, em Los Angeles.

Me doeu no peito. :/

Motley Crue

Pra fechar a noite, veio o Metallica e, apesar da linda Turn the Page, o retorno de Whiskey in the Jar, a raríssima The Frayed Ends of Sanity... Vamos ser honestos: você já viu esse mesmo show em outras edições do Rock in Rio. Se bobear, até ao vivo.

Só que, caralho de asa, é o Metallica. Eu tava lá, ouvindo a primeira música, Fuel, ah, que legal, “vai ser a mesma coisa das outras vezes”, pensei. Meu racional falando. Mas conforme a história caminha, o James vai se empolgando e te empolgando e, quando menos percebi, já tava empolgado como se fosse a primeira vez que ouvisse aquelas músicas.

Entre King Nothing e Ride the Lightning, um problema entre a ligação da mesa de som da banda e a do festival — que pode ser literalmente resumida em “alguém chutou um cabo” — deu uma bela broxada nos caras. Não fizeram escândalo e nem saíram fazendo discursinho. Pelo contrário: mesmo sem serem ouvidos, continuaram tocando, sentando o braço na guitarra e no baixo. Mas era como se tivessem entrado no modo “obrigação de estar ali” o que, pelo menos pra quem vê na TV, é importantíssimo que não aconteça.

Eles continuam sendo uma puta duma banda boa. E o James continua um líder de banda impecável (quero ter 52 anos e ter a mesma cara que ele). Mas não deixa de ser uma notícia boa saber que eles vão dar um tempo dos palcos este ano e só voltam ao Brasil na turnê do disco novo... Que deve acontecer no Rock in Rio 2017. ¯\_(ツ)_/¯

Metallica

Provavelmente ela não teria grana suficiente pra isso, mas é como se o domingão tivesse patrocínio da Alpha FM, já que estariam ali alguns dos grandes nomes do tal do “pop contemporâneo para adultos”. Se apenas a leitura desta descrição já te ajuda a imaginar o tipo de som que rolou, então você pegou exatamente o espírito. ;)

O grande momento do dia, e talvez até do festival como um todo, foi o reencontro musical de Pepeu Gomes e Baby do Brasil (outrora conhecida como “Baby Consuelo”). Separados há 24 anos, o casal não tocava junto há exatos 27, quase a idade do próprio Rock in Rio – sendo que a dupla se apresentou na primeiríssima edição do festival, lá em 1985. Pepeu, um dos melhores e mais subestimados guitarristas da nossa música, já entrou no palco chorando e, porra, me desmontou. Baby estava muito louca, na sua vibe padrão...só que agora repleta de mensagens de evangelização. Esquisito, mas não menos divertido. Só que ver Pepeu tocando ao lado do próprio filho, Pedro Baby, e mandando ver em canções históricas dos Novos Baianos como Tinindo Trincando, foi lindo, lindo demais.

Como bem caberia ao “dia da Alpha FM”, rolaram dois momentos “cover” que foram bastante distintos, ambos no Palco Sunset. O primeiro, muito bom, foi de Alice Caymmi, neta do mestre Dorival, que fez uma performance louca e inspiradíssima, misturando rock, MPB e um quê de diva da dance music – e ainda contou com a participação do maestro Eumir Deodato. Teve Paint it Black (Rolling Stones), teve Homem (Caetano Veloso), teve Summertime (George Gershwin), teve Joga Fora (Sandra de Sá), teve Princesa (MC Marcinho). Uma salada que funcionou perfeitamente. No final, rolou até uma versão de Black Dog, do Led Zeppelin, para deixar qualquer roqueiro com orgulho.

O lado dos covers que não funcionou foi da banda Magic!, canadenses nos quais a organização apostou e, assim como rolou com o One Republic, se deu mal. Com apenas um álbum de estúdio, tiveram que apelar pra Girls Just Want To Have Fun (Cyndi Lauper), Is This Love? (Bob Marley) e Message In A Bottle (The Police). E, socorro, soaram como uma bandinha template de casamento, desesperada pela atenção dos presentes, mais interessados em dar uma reboladinha enquanto tomam um cerveja do que em prestar atenção do que está rolando no palco.

Pepeu, Baby e Pedro

No Palco Mundo, quem deu início à festança foram os brasileiros do Paralamas do Sucesso – o Police tupiniquim. Como show, fizeram o de sempre, o que é sinal de competência máxima, celebrando diversos momentos de sua carreira que dura mais do que o próprio Rock in Rio, aliás. Me surpreendeu, no entanto, vê-los levando Inútil, do Ultraje a Rigor, muito mais pela questão do posicionamento político dos líderes de ambas as bandas do que por qualquer outra coisa... ;)

O que viria a seguir seria um combo de hits. O Seal já começou dando uma voadora no peito, abrindo o show com seu maior sucesso, Crazy, subvertendo aquela clássica estratégia de guardar o seu Satisfaction para o final e encerrar com chave de ouro. Mas e não é que o cara se deu bem? Estava seguro de si, conseguiu conquistar a plateia e até encaixar canções inéditas, de seu vindouro disco novo, o que costuma sempre esfriar a galera, mas aqui deu certo. E, claro, ele tinha Kiss From A Rose na manga, não é?

A questão é: com NFL num canal, Emmy no outro, e WWE Night of Champions na Internet... Quem é que iria parar pra assistir a um show do Seal pela TV? Digo, além de quem tem de escrever sobre isso, tal. :D

Elton John veio cheio de brilhos e não teve medo de fazer longos solos ao piano, em um verdadeiro greatest hits ao vivo, com o devido suporte de uma ótima banda de apoio.

rir_elton

Este é outro cara que não recebe o reconhecimento que realmente deveria, porque é uma verdadeira máquina de fazer sucessos, um atrás do outro, uma daquelas instituições da música pop. Your Song, Goodbye Yellow Brick Road, Rocket Man, Skyline Pigeon... Foram quase duas horas de público cantando junto, sem perder a voz. O jogo ficou até meio perigoso para o headliner da noite, que viria logo depois de um momento de pura dominação Sir Elton — o que talvez possa ser explicado por uma possível vontade de dormir cedo.

Mas Rod Stewart não se assustou. Com seu jeitão de crooner de Las Vegas, ele parece saber que a voz ficou mais fraca com os anos. Só que ele compensa com carisma e com um estilo meio cafajeste, meio conquistador barato, uma espécie de Fabio Jr. com algumas décadas a mais e cantando em inglês, enquanto curte a piscina de um hotel oito estrelas, de roupão e Campari na mão.

Teve espaço pra rir de si mesmo, com Da Ya Think I’m Sexy?, em que relembrou uma frase que disse, há alguns anos, para a Rolling Stone, sobre não querer continuar cantando a música por muito tempo e soar como uma piada de si mesmo e Have You Ever Seen The Rain, do Creedence Clearwater Revival, que transformou a Cidade do Rock, de alguma forma, em um imenso karaokê com mais de 80.000 vozes. Meio brega, até. Mas foda-se.

Foi um dos grandes momentos desse Rock in Casa. Um dos mais cheios de piadas no twitter, mais memes, mais “músicas que eu conhecia e não sabia que era dele”, Rodettes roubando a cena, enfim. Como escreveu o pensador Chico Barney, a apresentação de Rod Stewart é “para nos lembrar que a vida poderia ser outra coisa. (...) Rod Stewart é pura arte”.

Multishow

Agora, sobre a cobertura do Multishow... Olha só, acho que faz sentido convidar uma galera que era da antiga MTV para fazer as reportagens, sabe? Mesmo. Mas desde que eles tenham a liberdade que tinham na emissora anterior. Liberdade para se soltar, para improvisar, pra sair do roteiro. Todos, sem exceção, estavam travados demais, com medo de dar um escorregão. Quem tinha espaço para improvisar era o humorista Ceará mas que, caralho, estava deslocadíssimo no contexto geral, fazendo entradas numa pegada meio Pânico que, hum, não, não faziam qualquer sentido ali.

A coisa só ganhava algum tipo de substância quando convidados como o Jimmy, do Matanza, apareciam para dar o ar da graça. Antes disso, o que se viu foi um festival de perguntinhas óbvias e insípidas.

E toda vez que Bruno De Luca pintava na tela, ficava no ar aquele cheiro de “maluco, sei lá o que eu tô fazendo aqui, mas estão me pagando então vou fazer uma graça”. E...não, não tinha graça.

Na Globo, porém, apesar de Rafa Brites e Paulo Ricardo insistentemente aparecer no meio dos shows fazendo comentários absolutamente inúteis, as coisas eram um pouco mais divertidas. Lá apenas pra não deixar nem um segundo de silêncio, entre uma música e outra, a dupla dizia coisas tão óbvias quanto absurdas, como a história do PIRIRI de Rod Stewart em Copacabana, mas que serviam pelo menos pra divertir.

Fora o som, infinitamente melhor do que no Multishow — além de uma transmissão alguns segundos adiantada.

Bom, é isso. Até semana que vem. ;)