Os rumores estavam certos, inclusive os que falavam sobre a qualidade questionável do filme, que custou US$ 40 Milhões pra ser produzido e foi comprado por mais de US$ 50 mi pelo serviço de streaming
Nunca saberemos o que teria acontecido com God Particle se o filme continuasse a ser God Particle e estreasse nos cinemas como um filme sem nenhum grande nome no elenco (Gugu Mbatha-Raw, Daniel Brühl, Zhang Ziyi e Chris O’Dowd... Eu e você conhecemos, mas sabe?) e, em teoria, com uma história original.
Em teoria porque qualquer um que tem um mínimo de interesse por ficção científica e leu algum gibi da Marvel e/ou DC, já se deparou com alguma história de múltiplos universos que se colidem, se misturam, dão uns saltos no tempo e resultam numas merdas. Quem tá assistindo à Star Trek Discovery ou à quinta temporada de Agents of SHIELD, então, tá acompanhando exatamente essa mesma ideia semanalmente.
Isso somado ao fato de gostar da ANTOLOGIA da qual faz parte aquele filme de monstro que outro dia completou dez anos (sim), faz com que seja realmente fácil gostar de The Cloverfield Paradox, o terceiro filme da “franquia” que estreou, de SOPETÃO, no Netflix no último domingo.
Só tem um problema: não dá pra gostar de The Cloverfield Paradox.
Tirando o título e a QUARTA data de estreia (que estava prevista para Abril, nos cinemas), os rumores estavam TODOS corretos. A Paramount realmente acabou vendendo a distribuição do filme pro Netflix, fazendo um dos seus melhores negócios DA HISTÓRIA. Sem precisar gastar “nenhum centavo” com marketing (não teve trailer, não teve pôster, não teve anúncio na TV, não teve junket pra imprensa), eles teriam recebido, de acordo com o THR, mais de US$ 50 Milhões do serviço de streaming AND mantido os direitos de ~home entertainment e de lançamento na China (onde o Netflix ainda não chegou).
Tendo custado cerca de US$ 40 Milhões pra ser produzido, a Paramount não só recebeu toda a grana de volta como ainda deu uma lucradinha. ?
Diziam também que, ocupado com Star Wars: Episódio IX, JJ Abrams não teve como retornar para os escritórios da Bad Robot e corrigir os vários problemas que o filme tinha — problemas que, em primeiro lugar, fizeram o novo chairman da distribuidora, Jim Gianopulos, que parou pra ver todos os filmes que seriam lançados no futuro e teve de decidir quais iriam pros cinemas e quais não, decidir que talvez fosse melhor desencanar desse Cloverfield.
Isso chega a ser ridículo de tão óbvio.
Em The Cloverfield Paradox, a humanidade está à beira do caos, sem energia suficiente no Mundo, com países declarando guerra uns aos outros. A única solução é um tipo de LARGE HADRON COLLIDER espacial, que geraria energia infinita para a Terra e resolveria todos os nossos problemas pra sempre.
Óbvio, porém, o funcionamento da máquina demora a acontecer e, entre o aumento da tensão tanto na Terra quanto na Estação Espacial Cloverfield, quando acontece, libera uma energia tão grande que acaba criando uma fenda no espaço / tempo gerando AINDA MAIS tensão — dessa vez, porém, envolvendo uma dimensão alternativa.
É uma premissa interessante, mas no momento em que Donal Logue, que nunca apareceu em nenhuma lista de elenco do filme mas deu o ar da graça nos ~virais, surge com a função de literal e simplesmente dar um título a ele tal qual um histérico teórico da conspiração, as coisas desandam completamente, começando com o fato de que toda e qualquer surpresa ser transformada em expectativa.
Que eu me lembre, “Cloverfield” nunca passou do título nos filmes anteriores. Em Paradox, porém, a quantidade de vezes que o nome é citado acaba parecendo uma distração proposital pra que quem quer esteja tendo dificuldade de assistir ao filme se lembre de que se trata de mais um Cloverfield e o odeie menos. Não funciona, claro. E só irrita.
Com um roteiro absolutamente retalhado pra encaixar a ideia Cloverfield e muito mal costurado depois, não são poucas as vezes em que você se pega tentando lembrar onde aquilo foi definido anteriormente ou o que exatamente aconteceu pra chegarmos ali. Por exemplo, The Cloverfield Paradox joga na nossa cara um BRAÇO CONSCIENTE, tipo um primo da Mãozinha da Família Addams. Um braço que foi até outra dimensão, viu o passado, voltou pro futuro e fica ali esperando as coisas acontecerem... E eu tou falando realmente sério. :D
Toda a sutileza e, principalmente, qualidade como CINEMA de Cloverfield e Rua Cloverfield, 10 é jogada no lixo em PROL de conexões tão grandes com ambos os filmes — e olha que a ideia poderia ser realmente interessante, se não parecesse tão forçada.
Eu não faço a menor ideia do que, em termos de conteúdo, The Cloverfield Paradox vai significar pro Netflix, que continua com um enorme problema relacionado a filmes. É óbvio que eles conseguiram o barulho que queriam e fizeram milhões de pessoas no Mundo todo assistirem ao filme quase que ao mesmo tempo. Será que isso já fez valer o investimento?
Enquanto ficamos com essa dúvida que muito provavelmente jamais será respondida pelas políticas do serviço, ficamos também esperando que o futuro da antologia seja melhor cuidado daqui pra frente.