Numa ainda ensolarada tarde de quarta-feira, 14 de Janeiro, as internets derreteram de uma vez por todas com um rumor, publicado no Latino Review, sobre a presença do Homem-Aranha em Vingadores: Guerra Infinita – Parte 1, que estreia em Maio de 2018.

A razão pela loucura é perfeitamente compreensível: o pessoal tá cansado de ver o que a Sony tem feito com o Cabeça-de-Teia, e maluco de imaginar o que a Marvel Studios poderia fazer com o personagem — além, é claro, do fato de que o site que publicou o rumor tem uma credibilidade absurda.

Só que não é a primeira vez que se comenta sobre isso — lembra que, em outubro do ano passado, quando a Marvel anunciou os filmes da Fase 3, muita gente esperava o anúncio de que tinha rolado um acordo? Não foi por acaso: de fato, a Sony cogitou seriamente liberar o Teioso, especialmente depois da DECEPÇÃO que tiveram com O Espetacular Homem-Aranha 2.

O Espetacular Homem-Aranha 2-san

Em meados do ano passado, o estúdio parecia muito certo sobre o que iria fazer com a franquia Aracnídea. Eles apostavam bastante nesse quinto filme e tinham grandes expectativas para o filme do Sexteto Sinistro, que abriria todo um calendário de estreias de spin-offs da franquia.

Só que muita gente dentro da Sony não gostou do resultado de Espetacular 2, nem do trabalho do diretor Marc Webb como um todo, e parece que tudo foi indo pelo ralo. Em algum momento eles tinham um elenco definido pro filme dos Sexteto, contavam com a presença do próprio Homem-Aranha no filme e, do nada, o projeto sumiu, desapareceu.

Ao mesmo tempo, a Marvel chegou a propor pra Sony um acordo de co-produção, com a Casa das Ideias pagando 60% dos custos e retendo controle criativo sobre o personagem, além da possibilidade de alguns crossovers, como em Capitão América 3. Amy Pascal chegou a comprar Civil War #7 no ComiXology, pra entender melhor qual o papel do Aranha nessa tal de Guerra Civil (ela também comprou Amazing Spider-Man #538, que é quando a Tia May toma um tiro), mas o acordo foi negado e aí vieram os hackers.

Quando a Marvel foi comprada pela Disney, a Sony propôs (e conseguiu) uma mudança no acordo que tinha inicialmente com a Casa das Ideias. Novos valores, novas relações com merchandising, um tempo maior pra produzir filmes; na visão da Sony, o Homem-Aranha é “crítico” pra Disney, sendo a “maior parte do que foi comprado da Marvel, e nós merecemos uma porção disso”.

A Marvel estava vulnerável, atrás de algumas de suas propriedades, bancando uma bela de uma grana pra Paramount, só pra Disney poder distribuir os filmes que ainda restavam, e a Sony se aproveitou. Pode ser que, nesse momento, esteja acontecendo justamente o contrário. Aliás, é bem provável que isso aconteça — e um tal de “Spider-Man Summit”, marcado ainda em Novembro pra acontecer agora no mês de Janeiro, resolva de uma vez por todas essa história. A Sony do Japão acha que é uma boa ideia aquele acordo de 60/40, afinal de contas, como, olha só, o Latino Review já tinha publicado em Dezembro.

O que foi revelado ontem, portanto, não é exatamente uma novidade, ou surpreendente. Já se comenta há algum tempo que os Vingadores dos cinemas vão passar por uma grande reformulação. Não estamos falando da entrada de Mercúrio, Feiticeira Escarlate e o Visão na equipe, isso já é público há algum tempo. São mudanças mais, digamos... profundas. No longínquo mês de agosto do ano passado, falamos aqui sobre uma nova equipe surgindo ao fim de Vingadores – Era de Ultron, depois das tretas que vão rolar entre seus integrantes originais. Muito se falou de Capitã Marvel, Pantera Negra, Doutor Estranho, Falcão, Máquina de Combate, Soldado Invernal, Homem-Formiga, algum dos Inumanos. Uma galera.

Com os contratos de Robert Downey Jr., Chris Evans e Chris Hemsworth chegando ao fim, essa mudança além de tudo seria necessária.

A Guerra Civil então começaria quando o Homem de Ferro descobrisse que o Soldado Invernal matou seu pai; ele tretaria com o Capitão América, surgiria o Pantera Negra, Ossos Cruzados faria o que faz nos quadrinhos e Tony Stark some da jogada; o Thor vai parar numa prisão cósmica ao fim de sua aventura número 3, Ragnarok, o crepúsculo dos deuses nórdicos e tal.

E tem o Hulk, claro, que, estando fora de controle (você deve ter reparado nos trailers, ou deixou o JUDÃO reparar por você), seria exilado no espaço, criando tipo um Planeta Hulk no segundo filme dos Guardiões da Galáxia.

A grande questão é: quem diabos seguraria a bronca contra o Thanos? É aí que entra o papo do Cabeça-de-Teia, senhoras e senhores.

Itsy Bitsy Spider

Segundo o Latino Review, com o Capitão América morto, com o Thor preso e com o acordo selado entre Marvel e Sony, não haveria momento mais propício pra introduzi-lo do que na primeira parte da Guerra Infinita. E, de fato, não há.

Só que fica difícil imaginar o Homem-Aranha funcionando bem como parte dos Vingadores. Aliás, como parte de qualquer equipe.

O Cabeça-de-Teia nunca foi exatamente aquele herói que sabe fazer parte de um grupo e também nunca foi o mais indicado pra participar de grandes aventuras cósmicas. Peter Parker é mais interessante quando tenta andar com a galera, mas faz merda. Ou quando lida com problemas mais no nível das ruas (ou, bem, por cima delas). Nos gibis, a entrada dele pros Maiores Heróis da Terra (junto com o Wolverine) aconteceu muito mais porque a Casa das Ideias queria relançar a equipe com seus grandes personagens, com os caras que vendem muito, pra reverter um longo período de vacas magras, não porque fazia sentido quando falamos dos enredos.

Nos roteiros, Brian Michael Bendis, o escritor da HQ dos Vingadores na época em que o Aranha virou parte do time, tratava ele como um deslocado. Aquele que não sabia direito o que dizer, com quem falar, quem podia considerar como seus amigos, que sempre tentava encaixar uma piadinha fora de hora. O nerd entre os populares, basicamente.

O Latino Review ainda diz que o pessoal das séries da Netflix (Demolidor, Luke Cage, Punho de Ferro, Jessica Jones) entraria na jogada neste primeiro filme também, fazendo parte da tal equipe de Novos Vingadores. Eis aqui o gancho perfeito pro Aranha não ser “apenas mais um”.

Assim como Demolidor e sua turma, o Aranha seria o cara que já estaria ajudando a chutar os alienígenas nas ruas de Nova York (sempre Nova York, pobre Nova York), sem saber direito o que tá rolando no espaço. Sabe as edições especiais que contam histórias paralelas a uma grande saga? Meio isso. E é aqui que o Pantera Negra (aspirante a líder) e seu time poderiam encontrar o Aranha, que é sempre aquele cara meio perdido do que tá rolando no mundo. “Tá legal, quem são vocês? Quem diabos é o Thanos?”.

O cara que, como nas HQs, vai resistir a entrar no time, “Não, não é a minha praia, tenho que levar a minha tia na musculação”, mas que vai se sentir obrigado quando escutar o discurso de “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”. E mais: este discurso pode vir do próprio Capitão América. Não presencialmente, mas de um tipo de cena que é clássico na trajetória do Escalador de Paredes: o couro comendo nas ruas, ele vai ajudar a Tia May, a salva de alguma enrascada, um ataque dos aliens que deixa ela presa em um supermercado, sei lá. Ela não sabe que ele é o Aranha. Mas fala pro sobrinho que se lembra da época da Segunda Guerra, do Tio Ben se empolgando com o exemplo do Capitão América, do chamado do dever... Bingo. É o que ele precisa ouvir pra topar encontrar com os Vingadores.

Essas decisões que o Peter toma acabam sempre vindo da Tia May – mesmo que indiretamente.

Se for pra ter ele por lá nos cinemas, o melhor é que seja colocado logo como um ~outsider, como aquele que perde o briefing das missões, aquele que chega atrasado, aquele que todo mundo desiste de contar com a ajuda porque teve que sair mais cedo pra comprar remédio pra tia doente... O cara que vai ficar sem palavras quando, no segundo filme, conhecer o Capitão América pessoalmente, o cara que vai pagar um pau quando der de cara com cientistas como Tony Stark e Bruce Banner — porque, sim, os Vingadores da Fase 1 e 2 retornariam pra acabar de uma vez por todas com o Thanos, sejam os mesmos, libertados e ressuscitados, ou outros que assumiram seus uniformes, armaduras e martelos.

E, aqui fica uma coisa importante: o Aranha seria o cara que vai ter mais problemas em tirar a máscara diante dos Vingadores. Que não vai querer revelar a identidade – que todos eles sabem entre eles e que, neste caso, são todas quase que públicas.

OVERLY ATTACHED GIRLFRIEND

Seja como for, se o acordo realmente for fechado nos termos de co-produção, com controle criativo da Marvel (mais ou menos como a Sony já faz com a MGM com os filmes do James Bond), além dessas participações, teríamos novos e, teoricamente, bons filmes do Homem-Aranha, o que seria ÓTIMO pra Sony e, claro, pra Marvel, que evitaria com que sua principal propriedade sofresse nas mãos de outrem.

O problema nessa história, como ressalta o Badass Digest, atende pelo nome de Avi Arad. Responsável pela venda dos direitos, ele se amarrou ao Homem-Aranha de uma maneira quase impossível de separá-los, o que seria necessário em algum nível, já que Kevin Feige se recusa a trabalhar com ele e tem uma atitude de “FODA-SE”, em relação ao Aracnídeo.

O fato é que estamos na metade do primeiro mês de 2015 e Vingadores: Guerra Infinita – Parte 1 só estreia em Maio de 2018. MUITAS águas podem e devem rolar entre Nova York e Culver City. Pelo estilo de trabalho da Marvel, ele poderia até aparecer no fim de Vingadores: Era de Ultron, se for o caso; ou na Guerra Civil; ou a Sony pode resolver morrer abraçada com ele (e o Andrew Garfield, que estaria fora desse acordo); mas por tudo o que conhecemos e sabemos, MUITA CALMA NESSA HORA. Mas há bem mais do que fumaça nessa história. :)