Sony corta cenas "perturbadoras" de Slender Man antes do lançamento | JUDAO.com.br

Olha, até que parece… Mas pode não ser. Só que os sinais de que é, bom, são fortes.

A gente já falou um pouco aqui sobre a relação que existe entre os embargos que os estúdios colocam sobre as críticas dos filmes e o que isso pode significar com relação à qualidade do produto final. “Quando o tempo entre o fim do embargo e a estreia do filme for muito curto, talvez seja o caso de se assustar um pouco sim”, foi o que a gente concluiu, ainda que sabendo que podem existir exceções à regra. Agora, o que pensar sobre um filme que não teve qualquer embargo de crítica... simplesmente porque não foi apresentado à imprensa?

Sim, podem existir exceções, filmes nos quais o estúdio confia tanto, mas taaaaaaaanto, que acha que simplesmente não precisa do apoio que eventuais matérias positivas trariam. Mas digamos que a nossa experiência por aqui comprova que, em 99% dos casos, quando o estúdio resolve não mostrar o filme previamente, é sinal de que algo vai mal e que o resultado é bastante questionável... Vide, por exemplo, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto, que chegou aos cinemas americanos na última semana e mal fez cócegas na bilheteria. E quando a imprensa finalmente teve a chance de ver...

“Estas atrizes mereciam personagens de verdade pra interpretar, mas o roteiro de David Birke sofre de tanta falta de personalidade quanto o assassino sem rosto que persegue os heróis”, diz o THR. E aí a Newsweek é ainda mais contundente, dizendo que “Slender Man é tão desgastado quanto um meme velho, daqueles cuja graça você fica tentando explicar uma década depois”. E onde há fumaça...

Bom, pra gente ser BEM honesto, quem soubesse ler as entrelinhas do noticiário do mundo do entretenimento já sacaria as pistas para a recepção fria que a produção recebeu. O personagem surgiu em 2009, nos fóruns do site Something Awful, como uma daquelas populares creepypastas – pequenas lendas, contos ou imagens de horror que são divulgadas pela Internet como reais em fóruns da vida e tomam uma proporção e popularidade gigantesca. Neste caso, tamos falando de um humanoide bizarramente magro e alto, sem rosto e usando um terno preto. As muitas histórias que surgiram na rede a seu respeito falavam sobre a perseguição e captura de vítimas, em especial crianças.

Anunciado pela Sony só em 2016, sete anos depois que o fenômeno surgiu, Slender Man tava programado pra ser lançado em maio... mas quando foi adiado pra Agosto, os especialistas soltaram um “hummmmmmmmmmmmmmm” em uníssono. Porque, veja, mudar a data de um lançamento é absolutamente natural, faz parte da estratégia COMERCIAL buscar um dia com menos concorrência, enfim. Mas eis que no final de maio, a Variety aparece com a notícia de uma treta nos bastidores, dando conta de que os produtores (entre eles nomes William Sherak e James Vanderbilt) tavam apostando MUITO no filme, querendo mais investimento em marketing e presença numa quantidade maior de salas, enquanto a própria Sony pensava nele como uma parada de baixo orçamento, no estilo dos lançamentos de terror de Blumhouse.

O resultado deste embate? Acusações de que o estúdio não deu o suporte devido pro filme e uma corrida de última hora pra mostrar o produto pra OUTROS estúdios, com base numa cláusula do contrato que dava aos produtores o direito de solicitar ofertas maiores. Eles teriam, inclusive, ido bater na porta de Amazon e Netflix, com o filme quase completo debaixo do braço pra apresentar... só que todos os executivos que tiveram acesso a Slender Man tiveram muitas dúvidas sobre seu potencial comercial. E aí que o negócio acabou ficando na própria Sony mesmo.

De acordo com a Variety, Steve Bersch, o cabeça da divisão Screen Gems dentro da Sony, é fã de carteirinha do filme e o defendeu até o final — mas lá dentro, ao que parece, tinha muita gente preocupada com a repercussão que ele poderia gerar nas próprias redes sociais. Explica-se: em 2014, duas garotas de 12 anos esfaquearam uma colega de classe 19 vezes, alegando que este seria um primeiro passo pra se aproximarem do Slender Man, conforme leram na internet. A vítima, surpreendentemente, conseguiu sobreviver e a dupla foi presa, ambas diagnosticadas com doenças mentais.

Assim que soube que o filme sairia, Bill Weier, pai de uma das meninas atacantes, veio à público no jornal USA Today dizer que a ideia era de “extremo mau gosto” e que a ideia estaria “popularizando a tragédia”. Como reação, alguns cinemas da região próxima onde aconteceu o incidente, no Wisconsin, afirmaram que iam se recusar a exibir a película, enquanto uma petição online com quase 20.000 assinaturas pedia que a Sony repensasse e tirasse o filme de seu calendário de lançamentos. Dá pra imaginar os executivos PIRANDO em seus escritórios, cercados por uma galera de comunicação dizendo “vai dar merda, cara”? Então.

Talvez JUSTAMENTE por isso é que, depois que algumas pessoas que assistiram ao filme começaram a questionar que certas cenas mais assustadoras do trailer estavam faltando no corte final, o pessoal do Bloody Disgusting revelou que, de acordo com suas fontes, isso não foi por acaso. Ah, tá bom, isso acontece em alguns filmes, a produção de cenas que vão ajudar a tornar o tal do trailer mais vendedor (basta lembrar, por exemplo, do Hulk correndo ao lado dos Vingadores em Wakanda no trailer de Guerra Infinita). Mas o site afirma que, no caso de Slender Man, os motivos foram outros.

Enquanto os produtores queriam uma pegada mais dark, mais sombria, mais monstruosa, a Sony/Screem Gems queria se focar no PG-13, em busca de um público mais jovem. O roteiro de Birke, claro, foi retrabalhado. Mas a mão com o objetivo de evitar a polêmica, suavizando a trama, acabou pesando mais uma vez na edição final e Slender Man, como foi apresentado ao público, não é um “filme completo”. De acordo com as fontes da publicação especializada em terror, foram pro lixo “enormes e importantes sequências completas”, tiradas do todo pouco antes do lançamento.

Não dá pra dizer ainda, obviamente, se as tais cenas fariam de Slender Man um filme melhor, ou se seria apenas e tão somente... mais um daqueles filmes ruins que Hollywood lança aos montes. No fim das contas, então, melhor você ficar com a série Channel Zero e tá tudo bem, né? ;)