Spider-Gwen #1: o Homem-Aranha pode MESMO ser qualquer um | JUDAO.com.br

Gibi, lançado esta semana nos EUA, começa a ir fundo num universo onde Peter Parker nunca foi o Homem-Aranha – no lugar dele, que foi picado pela aranha radioativa foi uma loirinha filha de um policial…

Universos paralelos podem ser um porre pra novos leitores. Pensa bem: você tem uma cronologia oficial, com décadas de histórias, AND mais uma porrada de outras versões diferentes dos mesmos personagens, das mesmas histórias, algumas com poucos acontecimentos modificados, outras com uma pegada completamente diferente... Deve ser realmente difícil chegar num mundo assim.

Só que, ao mesmo tempo, pode ser DO CARALHO acompanhar um desses universos paralelos começando ali, na sua frente do mais absoluto zero. Sem se preocupar com mimimi, com isso pode, aquilo não deve. É o caso de Spider-Gwen #1, que saiu essa semana. :)

Spider-Gwen

A personagem surgiu em meio ao Spider-Verse, grande saga do Homem-Aranha tirada da mente do Dan Slott. Basicamente, o roteirista foi, como ele mesmo disse, até o sótão da Marvel, pegou todos os brinquedos e jogou tudo na caixa de areia. Ele também pegou uns bonecos, arrancou uns braços e cabeças juntando com outros, e criou uns brinquedos novos e, de lá, saíram Tio Ben e Tia May com poderes aracnídeos (só pelos LULZ, mas saíram) e essa nova Gwen Stacy, a cereja do bolo. E não estou falando daquelas de chuchu*.

É fácil identificar os motivos pelos quais a Gwen como Mulher-Aranha funcionou entre os leitores. Pra começar, a franquia é bem estabelecida, todo mundo sabe o que um Homem(ou Mulher)-Aranha faz. Sem falar que a Gwen, que antes era uma personagem querida mais dos antigos fãs hardcore da Marvel, voltou com tudo por conta da Emma Stone.

Mas não são apenas grandes nomes que fazem um sucesso. Além de um uniforme BEM legal, a Casa das Ideias deu para essa nova Gwen Stacy uma origem interessante, indo além do “hey, agora quem foi picado pela aranha foi uma garota”. A nossa heroína tem carisma, incluindo as piadinhas do Peter Parker original, e faz parte de uma banda chamada The MaryJanes – liderada, claro, pela MJ. Pra piorar (ou melhorar, no nosso caso), ela vive um conflito em casa contra o pai, o Capitão George Stacy, que passa a acusar a heroína pela morte de Peter Parker.

Sim, Peter Parker, ele mesmo, que acabou virando a versão do vilão Lagarto nesse universo paralelo.

Toda essa história foi abordada em Edge of Spider-Verse #2, que fez a personagem ser extremamente comentada pelas interwebs e chegou a (até agora) QUATRO reimpressões. Não precisou de muito para a Marvel ver o que tinha nas mãos, aproveitar o próprio nome que os fãs deram para a personagem e lançar Spider-Gwen #1, que tem roteiro de Jason Latour, arte de Robbi Rodriguez e cores de Rico Renzi.

Spider-Gwen em Edge of Spider-Verse #2

Spider-Gwen em Edge of Spider-Verse #2

O gibi começa logo após os eventos de Spider-Verse – com a nossa nova Gwen Stacy fora da bateria de The MaryJanes e com o Capitão Stacy tendo descoberto que a filha fica pulando por aí sob a máscara de Mulher-Aranha. Enquanto fica se doendo pelos 15 minutos de fama das amigas sem ela, a nossa heroína precisa lidar com a preocupação do pai AND com o Abutre.

A HQ tá longe de ser incrível, algo que vai redefinir um meio, ou algo assim. Mas é divertida, interessante, atual tanto no roteiro quanto na arte e fiel ao que aquela aranha no peito representa. Ou seja, tem tudo a ver com IDENTIFICAÇÃO entre o protagonista e o leitor.

É, mais uma vez, a confirmação daquilo que falamos semana passada: o Homem-Aranha pode ser qualquer um. Pode ser um garoto do Queens que precisa ajudar a tia a pagar as contas. Pode ser um garoto negro, latino, indiano, irlandês. Pode ser uma menina que todo mundo acha que é frágil, mas que adora bater nuns caras malvados pra fazer a diferença – depois de mandar um som numa bateria.

Mais do que tudo: Spider-Gwen #1 representa a porta de entrada pra um público que não se interessava por Peter Parker, ou Miles Morales. Que queria pegar uma cronologia nova, do zero, algo pra ser seu, que faça parte da sua vida. Tudo isso porque o mundo não é apenas o que você vê. Nem que eu vejo. O mundo é sobre diversidade – e é isso que, cada vez mais, vamos encontrar nos gibis.

Ainda bem. :)