Stranger Things: um episódio para todos governar

Existência do sétimo capítulo de Stranger Things 2, A Irmã Perdida, resume muito bem tudo que há de errado com a segunda temporada

SPOILER! A segunda temporada de Stranger Things começa um pouco longe de Hawkins, Indiana, na cidade de Chicago, Illinois, com uma perseguição policial a uma van recheada de joviais usando máscaras depois de cometer algum tipo de DELITO. São três minutos e trinta segundos que mostram que a Eleven (ainda tentando entender por que catzo é “Onze” na legenda) não é a única com poderes.

Nenhuma novidade até aí, tirando o fato de que agora temos uma outra garota ativamente causando com poderes parecidos por aí.

Uma garota que aparece nos primeiros três minutos e trinta segundos da temporada e não é citada nenhuma outra vez até o sétimo episódio, A Irmã Perdida, também conhecido como o pior de TODA A SÉRIE, tão complicado de assistir quanto Batman VS. Superman, Os Defensores ou o Corinthians no segundo turno do Brasileirão, equivalente ou ainda mais ruim do que aquele da tatuagem do Jack em Lost, que você pode pular tranquilamente, e que não faz absolutamente nenhum sentido existir numa série de nove episódios em que todos são liberados de uma só vez.

Um episódio que personifica o grande problema dessa segunda temporada, ridiculamente inferior à primeira: parece que os Duffer Brothers™, depois do sucesso RETUMBANTE da primeira temporada — uma mistura de nostalgia + carisma do elenco infantil — se viram obrigados a criar algo além da ideia que tiveram lá no começo e não sabiam exatamente como.

“A jornada da Eleven meio que caiu, o fim não funciona, sem ele” tentaram se justificar os Duffer Brothers™ em entrevista à EW, onde ainda tentaram explicar que não se tratava de um filler e sim de um teste. “Então foi meio que, funcionando ou não, a gente precisa construir isso ou o show todo vai desmoronar. Não vai terminar bem. O Mind Flayer vai dominar Hawkins”.

Bom, queridos Duffer Brothers™... Não funcionou, definitivamente. Primeiro porque todo o plot da Eleven não funciona. Ela obviamente tinha uma ligação mais forte com os amigos do que com a mãe, não fazia exatamente muito sentido ela ir tão atrás dela. Mas ok, mãe é mãe... mas essa só serve pra “dar o endereço” da irmã que, por sua vez, num esquema meio X-Men, só serve pra ensiná-la a ~canalizar seu poder e que, enfim, serve só pra ela dizer que vai ajudar os amigos?

Ou será que a ideia era o Extreme Makeover, mesmo?

Aliás, não bastasse a sexualização da Millie Bobby Brown fora da série (não vamos nos esquecer que ela tem treze anos), dar essa imagem mais “adulta” pra garota AND esse ciúme que ela sente da Max, bom... Não é como se desse pra ficar muito feliz com a personagem e a direção que ela tomou. Nem que ela tomou e nem que recebeu, diga-se, porque precisando atuar um pouco mais, ela não mostra muito talento e nenhum diretor pareceu conseguir extrair algo a mais dela.

“Homenagearam” tanto o trabalho de Steven Spielberg que parecem ter esquecido de estudá-lo...

Com o que convencionou-se chamar de referências, que serviam, ERRONEAMENTE, como um esqueleto para a primeira parte da história sendo APENAS referências nessa segunda, e sem o carisma da TURMA, que dessa vez ficou mesmo só com Gaten Matarazzo (Dustin), que é o que os ingleses chamariam de NATURAL, e a sensacional Erica, irmã do Lucas, interpretada por Priah Ferguson, Stranger Things não conseguiu se sustentar com a própria história que, durante sete episódios, não sai exatamente do lugar. O Monstro do Mundo Invertido, a ligação dele com o Will, a Eleven mantida em cativeiro por um pai abusivo (sério, gente, não dá pra achar a relação legal, especialmente se você ouvir tudo o que ele diz pra ela e fingir que ele tá dizendo pra uma namorada, por exemplo. É assustador!), a outra mina com poder... A gente sabe de tudo isso já no primeiro episódio.

Entre o oitavo e o nono capítulos resolvem correr pra fazer as coisas acontecerem e elas ATÉ acontecem, mas sem aquela sensação de que foram resolvidas. Não existe um payoff de basicamente nada do que aconteceu durante a temporada — tudo o que Stranger Things prepara, uma hora ou outra, resolve, sem se preocupar muito em desenvolver a história entre um momento e o outro. A pessoa ou situação que é resolvida costuma ser exatamente a mesma que estava lá no início do problema.

Isso ou eles dão esses saltos absurdos como fizeram com a Eleven, que mal sabia dizer que horas eram no segundo episódio, e pouco depois tava lá pegando carona com caminhoneiro e fazendo viagem INTERESTADUAL sozinha pra resolver o seu próprio plot e dar algum sentido ao que se viu na primeira sequência da temporada que, por sua vez, só tá lá pra justificar a injustificável existência do sétimo capítulo — que também corre pra resolver uma coisa, que não desenvolve nenhuma história e, no máximo, apresenta elementos que, uma hora, serão magicamente encaixados em alguma outra coisa.

E ainda tem a história da Max e do seu irmão racista, que inicialmente parecia bem interessante até que foi jogada completamente no lixo com a explicação do divórcio, já que tudo se encaixou perfeita e rapidamente, sem sobrar nada pra gente imaginar, pra gente CONCATENAR.

Se antes os Duffer Brothers™ tinham a LUZ do que chamavam de referências e homenagens à cultura pop dos anos 80 pra seguir, os ventos que a apagaram os deixaram absolutamente sem rumo. Destruíram arcos da história, não conseguiram construir nenhum pra segunda temporada (e eles tentaram), deixaram escapar tudo o que tinham de bom e ainda tentaram agradar os fãs com a tal da “Justice for Barbs”, mostrando que não tem exatamente muita certeza do que estão fazendo.

Quer dizer... Pra ser bastante sincero, não é que eles não tem certeza do que tão fazendo, os caras tão é completamente perdidos, mesmo.

Não sinto vontade alguma de continuar assistindo à série, depois de como a segunda temporada foi feita. Ou o Netflix assume a bronca e chama alguém que saiba o que tá fazendo pra fazer, agradecendo aos Duffer Brothers™ pelos serviços prestados, ou vai ver mais um dos seus grandes BASTIÕES FENOMENAIS definhando até o completo ostracismo.

Nada mais anos 80 que isso, aliás.