Supergirl chega pra ajudar a DC a chutar mais bundas na TV | JUDAO.com.br

Episódio piloto, que tá rolando lá na San Diego Comic-Con, é divertido e dá vontade de continuar acompanhando, justamente o que se espera de um piloto

Ok, Constantine não deu certo. Mas dá pra dizer que, desde a estreia de Arrow, a DC Entertainment está de certa forma fazendo na televisão aquilo que a Marvel Studios faz nos cinemas. Cada vez mais os personagens da editora estão ganhando espaço, audiência...

E, pra próxima temporada da TV dos EUA, a DC vai pro alto e avante. Literalmente. Vem aí a série da Supergirl.

O episódio piloto foi exibido nessa quarta-feira (8) durante a preview night da San Diego Comic-Con, com um repeteco programado pra sábado, no Hall H – e já deu pra ver que, apesar de um ou outro probleminha, a série tem tudo pra mandar bem.

Como você deve imaginar, Supergirl é a história da Kara Zor-El, aquela prima mais velha do Kal-El que também veio de Krypton, logo depois de Kal, pra cuidar dele por aqui. Só que a nave dela acabou se perdendo na Zona Fantasma, lugar onde o tempo não passa e que serve de prisão pros criminosos do planeta natal deles. Demorou 24 anos pra ela finalmente se sair de lá e chegar na Terra, mas, a essa altura, o seu primo já vestia a sua cueca vermelha por cima da calça e protegia o mundo como Superman – isso enquanto ela era ainda uma garota de 13 anos.

Tudo mais do que absolutamente fiel à personagem e, inclusive, quase que uma adaptação literal da introdução da versão da Supergirl nos gibis dos anos 2000. O que muda é o que acontece depois: a jovem Kara é adotada por uma família comum, a pedido do primo, pra que assim ela possa experimentar uma vida normal, como ele mesmo teve.

Kara cresce, passa a ser interpretada pela Melissa Benoist (outra egressa de Glee, como o protagonista da série do Flash), é adotada pelos Danvers (uma homenagem à família que adotou a versão clássica da personagem nos gibis e também à outras séries da família El, já que o pai é Dean Cain, o Superman de Lois & Clark, e a mãe é Helen Slater, que foi a própria Supergirl nos anos 80) e vai trabalhar na ~cidade grande, National City. Ignorando os poderes que tem, a ponto de quase nunca os usar, Kara passa a trabalhar como assistente da magnata da mídia Cat Grant (Calista Flockhart) na CatCo.

É aqui que surge um dos grandes trunfos da série.

Como o primo, ela é capaz de feitos incríveis, mas deixa tudo isso de lado. Kara é insegura, desajeitada, preocupada com o trabalho, enrolada com as 88 coisas que precisa fazer por dia... Uma pessoa normal, daquelas que deixaria qualquer um apaixonado só com um sorriso tímido.

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Só que, bom, ela não é normal, nem qualquer pessoa. Com o coração bom que tem (deve ser culpa do DNA da Casa de El) ela se arrisca pra ajudar a irmã em perigo em uma sequência que lembra a da volta de Clark em Superman – O Retorno e que obviamente homenageia a fase de John Byrne à frente do personagem nas HQs. O que poderia ser a exposição dela pra todo o mundo acaba virando a oportunidade perfeita pra ela colocar o S do brasão da família no peito e virar a Supergirl. Porque todo mundo gostaria de sair da vida medíocre que tem e poder voar por aí, chutar bundas... Ela sempre pôde, mas precisou de um estímulo pra botar essa vontade pra fora.

Enquanto isso, uma legião de aliens que fugiu da prisão na Zona Fantasma, liderados por uma mulher que tem tudo pra odiar a Kara, está na Terra. De alguma forma, parece que os roteiristas pegaram emprestadas (e adaptaram) algumas ideias dos recentes arcos de Nova Krypton das HQs, o que é uma boa, afinal, foi uma das melhores coisas feitas com os Supers da DC Comics nos últimos, sei lá, dez anos.

Outra época, outros conceitos, outro MUNDO, mas isso tudo também me lembra bastante a fase da Garota de Aço no começo dos anos 70, quando a DC promoveu uma grande reformulação, incluindo um novo uniforme e um novo trabalho, num grupo de mídia em San Francisco. A vilã da época era também uma mulher: Nasty Luthor, sobrinha de você-sabe-quem. Não duvido nada que ela (ou alguém com características parecidas) apareça em National City...

O clima do episódio também é bem reconhecível pros fãs da DC na TV, principalmente porque lembra bastante The Flash – dá até pra fazer alguns paralelos entre a personalidade da Kara e do Barry em seus respectivos pilotos. As semelhanças não são meras coincidências: as duas séries (e Arrow) têm Greg Berlanti e Andrew Kreisberg como produtores executivos e vêm da mesma produtora, a Berlanti Productions, o que é ótimo, principalmente quando lembramos do resultado geral da primeira temporada do Corredor Escarlate...

E com os pais “famosos” que Kara tem, é de se esperar que os dois tenham uma participação parecida com os próprios pais do Azulão na série de TV dos anos 90, o que seria incrível.

O elenco de apoio também parece funcionar bem. Tem a Cat, transformada num megera com uma pitada de O Diabo Veste Prada, mas que ajuda a dar uma ~cor pro dia a dia da protagonista; Alex Danvers (Chyler Leigh), a irmã adotiva que agora é uma superagente do governo; Winn (Jeremy Jordan), o amigo nerd que vai ajudar Kara a ser uma super-heroína mais dentro dos ~padrões (e que é um vilão em potencial... cof... cof... HOMEM DOS BRINQUEDOS); e Jimmy Olsen (Mehcad Brooks), aqueeeele fotógrafo parça do Supinho que já cresceu, agora quer ser chamado de JAMES e taí pra dar umas boas dicas pra Kara.

Supergirl é uma série de TV tradicional e o piloto precisa apresentar todo o conceito, pra se vender primeiro para os executivos do canal e, depois, pro público, aquele que tem que ser convencido à voltar pro mesmo bat-canal, no mesmo bat-horário, na semana seguinte. Não é como Demolidor, que foi feito pra um tipo completamente diferente de TV e pode se dar ao luxo de gastar 13 episódios na construção do personagem, da roupa e tudo mais. A heroína da DC ainda tem muito o que crescer, CLARO, mas o primeiro episódio teve que, em menos de 50 minutos, explodir Krypton, introduzir a protagonista, o elenco de apoio, dar um teaser dos vilões, destruir um caminhão, chutar algumas bundas e ainda passar por umas três variações do uniforme da protagonista.

Umas coisas ficaram corridas, várias outras sem explicação – mas tem um monte de episódios ainda pra explicar. Ou não. Nem tudo precisa ter uma justificativa na nossa cara, certo?

Outro problema é que uma personagem como essa sempre corre o risco de ficar à sombra do primo famoso. Sabe como é, Kara nunca teve histórias solo por muito tempo, invariavelmente tudo que os roteiristas dos quadrinhos escreviam uma hora ou outra a fazia voltar pra asa (ou pra capa) do Supinho. Nesse sentido, os produtores fizeram o certo: Superman só aparece desfocado, de canto, fora de quadro... E já avisaram que vai continuar assim, sem dar a chance pra ele ganhar o destaque natural que sempre acaba ganhando.

O que é bom, afinal você pode imaginar qualquer versão do herói ali — pode ser o Christopher Reeve, Henry Cavill ou até o Brandon Routh; e é bom também porque temos uma mulher protagonizando uma história de super-herói. Só pra ela. :)

Esse encontro aí só deve acontecer nas capas de revista :/

Esse encontro aí só deve acontecer nas capas de revista :/

Beleza, o Routh tá em Arrow e na futura Legends of Tomorrow com outro personagem, mas nada garante definitivamente que Supergirl está no mesmo universo com as outras séries da DC, por mais que tudo saia da mesma produtora. O motivo é que as outras são exibidas no canal CW, enquanto a Garota de Aço fica na CBS, um canal maior que não ganharia nada com a sua personagem no concorrente, no caso de um crossover. Na real, seria mais fácil isso aumentar a audiência deles... Berlanti já disse, inclusive, que encontros entre os personagens é algo fora de questão, ao menos por enquanto.

Problema parecido aconteceu na década passada, quando Buffy, a Caça-Vampiros foi para o canal UPN e a WB proibiu os tradicionais crossovers com Angel, que continuou na programação do canal. A solução do showruner Joss Whedon? Fazer encontros e menções fora da tela, indiretas, o que pode acabar sendo o caminho pras séries da DC – Gotham, aliás, já entrou na brincadeira, mostrando um letreiro da Queen Consolidated no horizonte da futura cidade do Batman, por mais que seja exibida em um terceiro canal, a Fox.

Bom, quer saber? A Supergirl não precisa disso. Ela já tem tudo o que é necessário à mão. Até uma agência secreta governamental é todinha dela (meio que no estilo da ARGUS de Arrow e dos militares do Wade Eiling em The Flash), chamada Department of Extra-Normal Operations (DEO). É lá que trabalha a irmã Alex, chefiada pelo diretor Hank Henshaw (David Harewood), outro nome conhecido dos leitores dos quadrinhos (cof.. cof.. SUPERCIBORGUE... preciso ver essa gripe :D).

É, o episódio piloto de Supergirl jogou todas as cartas na mesa. Foi divertido e há potencial. Vamos ver agora se eles conseguem replicar por mais 20 e poucos episódios. E por mais algumas temporadas... ;)