Talvez demore mais do que a gente queria pra ver o Doutor Destino do Noah Hawley | JUDAO.com.br

O diretor tem duas séries pra cuidar, um filme pra fazer e ainda existe toda aquela incerteza com a história da compra da Fox pela Disney…

Nos dias de hoje, é fato que o meu eu de, sei lá, 15 anos de idade, ficaria empolgadíssimo com a mera menção de que estão fazendo um filme deste ou daquele personagem de gibis que eu adoro. Só um anúncio de que o vilão da continuação de Homem-Aranha: De Volta ao Lar provavelmente vai ser o Mysterio, por exemplo, me colocaria em polvorosa, já que amo o Cabeça de Teia desde que aprendi a ler e Quentin Beck tá no meu top 3 de vilões aracnídeos.

Só que o grande barato é que o meu eu de quase quarenta anos fica empolgado mesmo, isso sim, é quando uma notícia destas vem junto do anúncio de um alguém muito foda que está fazendo o projeto.

O principal exemplo disso? Comic-Con 2017 (a de verdade, de San Diego). No finalzinho de um insuspeito painel sobre uma série de TV, eis que um certo sujeito dispara, para surpresa geral da nação latveriana, que tá escrevendo e vai dirigir um filme do Doutor Destino. O tal sujeito? Ninguém menos que Noah Hawley, criador e showrunner da maravilhosa série Legion, talvez um dos melhores produtos Marvel que já alcançaram qualquer tela, seja grande ou pequena.

Quando li esta notícia, gritei com a mesma intensidade que soltei um sonoro “aaaaaaaah” assim que vi o papo que ele bateu com o Vulture esta semana. Em resumo? A primeira versão do roteiro tá lá, lindona e finalizada — e o próprio Noah tá confiante pra caralho nela. “Acho que o estúdio gostaria de fazê-lo”, afirma. “Estamos apenas tentando descobrir como e quando fazer”.

Pois é, então, aí tem o tal do QUANDO, que é o que faz Noah Hawley não estar lá muito confiante mesmo de que o filme vá sair do papel tão cedo. Ou se é que vai mesmo sair.

Parte desta “descrença” do diretor se deve ao fato de que ele tem outro filme pra resolver antes de poder sequer pensar em se dedicar a mexer nesta primeira versão do roteiro, já entregue pra Fox. Entre as novas temporadas de Fargo e Legion, ambas confirmadas, ele vai rodar Pale Blue Dot, com Natalie Portman e Jon Hamm. A história do longa trata de uma astronauta que volta pra casa depois de uma longa missão no espaço e começa a ser confrontada com sua aparentemente perfeita vidinha americana dos sonhos — a ideia aqui é explorar a teoria de que astronautas que passam tempo depois fora da Terra passam a perder seu senso de realidade quando voltam pra casa.

Sabendo o que este cara faz em Legion, impossível não pensar no quanto isso combina um monte com ele e no quanto a ideia parece legal PRA CARALHO. Mas... “Vai ser difícil colocar a mão nisso agora, porque em cinco semanas eu começo a rodar este filme. Então, minha esperança é voltar ao filme do Von Doom depois de Pale Blue Dot“, explica o cineasta. Bom, considerando aí que, como ele começa a filmar em breve, a pré-produção já foi, e o tempo de produção de um filme leva em média entre 75 e 120 dias, junta aí mais uns seis meses de pós-produção, chutando baixo... Bom, o Noah só poderia colocar as mãos de novo no roteiro do filme do Doutor Destino, o que, lá no começo do ano que vem?

Só que, em 2019, sabe o que pode finalmente ser aprovada, pra complicar a porra toda? Aquela singela compra da Fox pela Disney. Portanto, a turminha X + todo mundo ligado ao Quarteto Fantástico (incluindo aí um certo déspota mascarado) iriam de mala e cuia pro castelo do Mickey Mouse. “Eu sei que tem toda uma incerteza aí, dado o potencial deste acordo. Talvez eles já tenham os próprios planos deles na gaveta”, confessa Noah, meio desapontado. “Eu não sei. Por enquanto, tem só este sentimento aí”.

Vale lembrar que, no começo do ano, o Noah concedeu uma entrevista pro Observer na qual dá mais detalhes dos seus planos para a trama sobre Victor Von Doom. “Como acontece com Legion, meu pensamento é que os filmes de super-heróis já cobriram certos gêneros... mas o que mais podemos fazer dentro deste universo?”.

Pra ele, a coisa mais interessante sobre Destino é que ele é o rei de um país do Leste Europeu. “E se isso nos permitir uma versão que é mais um thriller político?”. Pra provar seu ponto, ele cita o ótimo Capitão América: Soldado Invernal. “Isso é algo que eles fizeram muito bem, tipo tirar um thriller de Guerra Fria de dentro de um filme de super-heróis. Não quero falar muito, mas é isso, uma mistura de gêneros”.

A ideia é evitar ao máximo que o filme seja plataforma pra relançar a franquia do Quarteto Fantástico (portanto, nada de focar na rivalidade dele com o Senhor Fantástico). “Quero pegar este personagem fascinante e realmente construir um filme sobre ele no qual fazemos as seguintes perguntas: ele é um herói? Um vilão? O que ele realmente quer? Podemos explorar isso de um jeito muito importante”.

Entenderam por que diabos eu dei um berro quando este cara anunciou que ia fazer um filme do Destino? Porque, diferente do Tim Story nos dois primeiros filmes do Quarteto, ele não foi pro lado óbvio do “milionário mauricinho mimado”. E, graças ao poder divino de Bast, também não foi pro lado ainda mais óbvio do “europeu hacker cheio de marra” da versão do Josh Trank.

Aliás, como já falamos por aqui, este questionamento sobre as reais intenções do Destino é justamente o caminho do personagem nos gibis pós-Guerras Secretas, quando ele mesmo, com o poder divino em mãos, reescreveu a realidade e, assim que tudo foi devidamente reorganizado (ou quase), acabou com o rosto recuperado (num visual que é a cara do Vincent Cassel) e com uma dúvida pairando sobre sua genial cabeça de cientista brilhante e mago potente: “afinal, qual é o meu papel aqui?” — cortesia de Brian Michael Bendis, que o trouxe como coadjuvante de sua passagem pelo gibi do Homem de Ferro e construiu uma narrativa brilhante, em Infamous Iron Man, daquele que é o maior vilão da Marvel justamente porque, afinal, ele pode não ser tão vilão assim.

Esta fase, por sinal, tá sendo publicada NESTE MOMENTO aqui no Brasil, dentro do gibi do Homem de Ferro, e a gente recomenda COM FORÇA que você leia.

Por sinal, vamos lá, FODA-SE que o Bendis foi pra DC. Alguém convida ele pra tomar um café com o Noah. Porque disso aí, deve sair coisa boa demais. E se pelo menos em boa parte do roteiro o Von Doom se referir a ele mesmo em terceira pessoa, já temos metade do caminho andado.