Produtores, diretor, Megan Fox e os quatro Tartarugas deixam bem claro que, se não fosse por Michael Bay, Tartarugas Ninja não teria sido feito do jeito que foi, seja isso bom ou ruim
O filme estreou na última quinta-feira (14) e você já deve ter assistido e saído do cinema com algumas várias opiniões, sentimentos misturados. Tenha você gostado ou não, tenha você assistido ou não, eu tenho a resposta praquela pergunta que não quer se calar dentro da sua cabeça.
Sim, a culpa de TUDO o que você viu em Tartarugas Ninja é de um tal de Michael Bay.
Americano, 49 anos, formado em Inglês e Cinema, Michael Benjamin Bay é o PRODUTOR desse filme e, como tal, responsável pelas principais decisões em relação a ele. Do visual e tamanho dos bichos à escolha da April O’Neil. O dedo dele tá lá, cutucando, o tempo todo.
De maneira geral, como fã das TORTUGAS desde o fim dos anos oitenta, eu gostei do filme. Não penso que seja possível dar errado um filme com tartarugas mutantes ninja, viciadas em pizza, sendo uma delas o Michelangelo. Por mim, FODA-SE o Michael Bay. Mas, ao analisar as entrevistas que fiz com elenco, diretor e produtores em Los Angeles, percebi que, bem... Foda-se pra mim.
Quando veio ao Brasil pro lançamento de Transformers 4: A Era da Extinção, Michael Bay deixou algumas coisas bem claras em relação ao modo como conduz sua carreira. A primeira delas é de que não se trata apenas de dinheiro, há uma dose ENORME de egocentrismo envolvido — especialmente na franquia dos robôs gigantes, em que ele deu uma de George Lucas em Star Wars e apostou TUDO na sua produção. Michael Bay não é simplesmente um diretor de um filme, ele é o responsável direto por aquilo e, uma vez lucrativo, ele PRECISA manter aquela roda girando. Ou seja: sim, é egocentrismo mas, sim, é também dinheiro. E MUITO dinheiro.
Nessa mesma entrevista, no Rio, Michael Bay disse que tá cansado e que só dirigiu esse quarto filme porque não havia ninguém melhor que ele pra fazer a transição de uma franquia pra outra. Em outras palavras, ele precisa encontrar alguém que possa fazer o trabalho dele, do jeito que ele faria — ou seja, que siga essa receita de sucesso absurda que é a franquia dos robôs.
Em relação às Tartarugas Ninja, a história é diferente. Não foi ele que levou a ideia ao estúdio, e sim o estúdio que chamou a Platinum Dunes — que, além de Michael Bay, tem como proprietários Brad Fuller e Andrew Form — pra realizar o filme, já que agora os direitos dos personagens estavam com a Viacom, dona da Paramount AND Nickelodeon. Ou seja, ele podia fazer como fez com outros filmes da Platinum Dunes (quase todos remakes e reboots de terror, como Massacre da Serra Elétrica, Horror em Amityville, Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo, enfim) e deixar rolar, aproveitar o lucro e acabou.
Mas não. Tartarugas Ninja é o primeiro filme da parceria Platinum Dunes / Paramount a sair e, com o passado e presente que tem com o estúdio, ele talvez tenha resolvido fazer o filme do seu jeito.
Quando foram liberadas as primeiras imagens do set do filme, nas ruas de Nova York, além de vermos Megan Fox usando a jaqueta amarela, pudemos ter uma noção de como seriam as Tartarugas no filme: gigantes. A roupa de captura de movimentos não era só aquele monte de pontos brancos num COLLANT. Tinha lá o casco, um monte de QR-Code (usados pra identificar cada uma das tartarugas, de acordo com Pablo Helman, supervisor de efeitos visuais do filme) e duas “antenas” — ou bolas de pingue-pongue sobrevoando a cabeça das tartarugas.
[small_info_middle]”Que tipo de filme estamos tentando fazer?”[/small_info_middle]Não precisa de muito pra saber que as tais PELOTAS são usadas ali pra representar os olhos, dando uma boa ideia do tamanho que as tartarugas teriam na versão final. Mas não foi sempre assim. “A gente tava filmando um dia, e o Michael Bay ligou — ele devia ter visto alguma coisa — e foi uma daquelas ligações... ‘QUE TIPO DE FILME ESTAMOS TENTANDO FAZER? ELES PRECISAM SER MAIORES! PRECISAM SER MAIS ASSUSTADORES!'”, contou Alan Richson, o Raphael. E sim, as letras maiúsculas significam gritos. “Na hora veio alguém com uns fios, com umas bolas de pingue-pongue e, a partir dali, ‘Megan, você precisa olhar praquelas bolas...'”.Bom, como você pode ter percebido na imagem ali em cima, ela não conseguiu seguir à risca essa nova regra. ;D
“E como se não bastasse, eles vieram com uns sapatos, umas plataformas!”, brincaram. “A primeira vez que tive de usar essa plataforma foi na cena no alto do prédio, na qual eu tinha de pular pra baixo e eu fiquei lá pensando comigo mesmo, ‘eu vou quebrar meu tornozelo'”, contou Noel Fisher, o Michelangelo. “Depois eles fizeram sapatos customizados, mas naquela noite da ligação, eles precisavam que a gente ficasse mais alto e trouxeram aquelas plataformas que as adolescentes japonesas usam, era impossível — eu literalmente torci meu tornozelo umas três vezes andando”, disse Jeremy Howard, o Donatello.
Em Setembro de 2009, Megan Fox deu uma entrevista à revista Wonderland. Quando perguntada sobre “o melhor e o pior” de trabalhar com Michael Bay, ela não pensou muito antes de responder. “Eu preferia não responder essa”, começou. “Ele é tipo Napoleão e quer criar essa reputação insana, infame de louco. Ele quer ser tipo o Hitler nos seus sets, e ele é. Trabalhar com ele é um pesadelo, mas fora do set, quando ele não tá no modo-diretor, eu meio que curto a sua personalidade porque ele é muito desajeitado, totalmente desastrado. Não tem nenhuma habilidade social. Shia e eu quase morremos quando fizemos Transformers. Ele nos manda fazer coisas insanas que nenhum seguro deixaria fazer”.
Uh-oh.
Não demorou muito pra que membros da equipe de filmagem dos dois primeiros Transformers escrevessem uma carta aberta, assinada como “Loyal Transformers Crew” e publicada no site oficial de Michael Bay, na qual a comparavam com Angelina Jolie. “Michael encontrou essa garota tímida e inexperiente, a tirou da obscuridade e deu uma grande oportunidade para uma atriz iniciante. Ela ficou famosa. Ela seria a próxima Angelina Jolie. Acontece que Angelina é profissional. Nós sabemos disso muito bem, porque tivemos a entediante experiência de trabalhar com a burra feito uma porta Megan Fox nos dois Transformers”.
Michael Bay, depois, foi até seu site pra dizer que não condenava a carta da sua equipe, e nem mesmo o que Megan Fox havia dito. “Essas maluquices fazem parte do seu charme. O fato é que eu ainda amo trabalhar com ela, e eu sei que a gente se dá bem. Até espero outras besteiras dela em Transformers 3”.
Como você sabe, Megan Fox ficou fora de Transformers 3. Reza a lenda que o motivo foi Steven Spielberg, produtor executivo da franquia, que exigiu sua demissão depois de saber o que ela disse. E Michael Bay cagou pra tudo isso: “foi só uma lombada no meio da rua. O filme é muito maior que a protagonista”, disse, em uma entrevista também publicada no seu site.
Eis que, em Fevereiro de 2013, veio a notícia que ninguém esperava. “TMNT: Estamos trazendo Megan Fox de volta pra família”. Foi assim que Michael Bay, também no seu site, anunciou que ela seria a April O’Neil desse novo Tartarugas Ninja. “Quando Michael Bay assumiu a produção, era certo que ela seria gigantesca. Ele não é conhecido por fazer umas merdinhas de filmes. Então, além de ser fã, eu sabia que haveria um orçamento, pessoas que o tornariam sensacional e eu jamais faria se fosse pros fãs odiarem”, contou, NUMA NICE, tranquila, sem maiores problemas.
[small_info_middle]”Ele tem a última palavra”[/small_info_middle]”Ele nunca esteve lá, ele tava fazendo Transformers 4. Mas eu encontrei com ele antes, enquanto tentávamos descobrir de que cor meu cabelo deveria ser — eu tingi de umas 10 cores e ele tem a última palavra em coisas assim. Ele me ligava e dizia ‘não sei o que te falaram, mas se te falaram que as Tartarugas terão 1.80m, elas terão 2.20, você pode dizer pra eles que EU disse’. Ele assiste a tudo, tava sempre do meu lado. Por exemplo, eles queriam que eu trabalhasse seis dias por semana, mas eu tinha acabado de virar mãe e não queria isso e ele disse ‘nananinanão, ela vai ter dois dias de folga, ela vai poder ser uma boa mãe’. Enfim, nossa relação completou um ciclo e a gente está bem agora.”E parece que foi fácil, assim, mesmo, que ela entrou no filme. “Foi o Michael, né?”, disse o diretor Jonathan Liebesman, jogando a resposta pra Andrew Form (que, só prá constá, é o marido da Jordana Brewster). “Ela já era da família, tinha feito os dois primeiros Transformers, nós a conhecíamos... E ela era muito fã”, contou. “A Paramount também é muito fã dela. Nós sentamos com ela numa reunião de 5h e saímos de lá assim. Aquela era a April O’Neil, não precisa procurar mais. Dá a jaqueta amarela pra ela”.
Jonathan Liebesman ainda completou dizendo que até o roteiro chegou a ser alterado por conta dela. “Ela é empolgada, direta, e essas eram características que não estavam no roteiro ainda. Mas, depois que você a conhece, começa a perceber que precisa colocar aquilo e aquilo no personagem. Era muito fácil vê-la como April O’Neil”.
[fve]http://youtu.be/Ss-l5pbMjFA[/fve]Eu não gostei da Megan Fox como April O’Neil. Primeiro porque a personagem tem muito mais EMPATIA com as quatro tartarugas do que ela demonstra. A história talvez até permitisse esse tipo de relação dela com os quatro, mas a Megan Fox não. Ela é, de fato, uma distração. E uma distração que não sai da tela em momento nenhum — e olha que, pelo que eu tinha visto na minha visita ao set do filme, parecia que ELA era a protagonista do filme e, se a gente se basear na divulgação, só ela e o Will Arnett que participaram do filme. Os Tartarugos foram deixados totalmente pra escanteio.
As coisas provavelmente teriam sido bem diferentes se a Platinum Dunes não estivesse envolvida? Bom, talvez a questão de “realismo” fosse mantida, porque esse parece ser o modus operandi não só do Michael Bay, mas da produtora e dos seus sócios. Mas em relação ao resto, bom...
Creio que talvez pudéssemos ter uma April O’Neil que funcionasse mais como “um dos caras”, mais ou menos como a Jennifer Lawrence é pro universo; talvez as Tartarugas não tivessem assim tanto desenvolvimento FÍSICO e fossem mais técnicas, como ninjas costumam ser; talvez elas não fossem tão “grandes e assustadoras”; talvez o Splinter não fosse TÃO nojento; talvez não tivéssemos perseguições e explosões a esmo, só porque alguém algum dia filmou um brinquedo explodindo e acabou tendo de chamar bombeiros e ficar de castigo (TRUE STORY).
Talvez, tivéssemos um Raphael com menos mimimi; talvez tivéssemos mais da relação entre os quatro; talvez o filme fosse mais parecido com aquela cena do elevador do que com um Transformers.
Mas, pelo menos, ainda temos Michelangelo, Donatello, Raphael e Leonardo. :)