É tudo uma questão de contexto.
RIO DE JANEIRO ~ O que é que faz um filme ser assustador? É uma parada que tenho pensado bastante desde que assisti a It – A Coisa. Não sinto medo com esses filmes, durmo tranquilamente e sonho com a @. Fico sim assustado com o que aquelas coisas representam no mundo real... Mas um palhaço maldito me oferecendo balões e se tornando um rato gigante? É só ficção. Tem significados, tem pesos... Mas é só ficção.
O Exorcista é um dos, dizem por aí, filmes mais assustadores de todos os tempos. Não acredito que seja porque uma adolescente gira a cabeça ou vomite uma gosma verde nojenta — no máximo dá NOJO, não medo, né? Mas aí existe aquela coisinha chamada contexto.
No chamado ocidente e, mais especificamente no nosso caso, em países latinos, desde criança aprendemos essa coisa de Deus e Diabo, Céu e Inferno e muitas vezes somos introduzidos numa religião quando nem sabemos que somos uma pessoa ainda. Um demônio assumir o corpo de uma garota é um negócio que assusta por DEFAULT.
Mas estamos falando de um filme. Na vida real, bom... É literalmente a mesma coisa, como The Devil and Father Amorth, exibido no Festival do Rio, mostra.
William Friedkin, o diretor de O Exorcista, leu um livro escrito pelo Padre Gabriele Amorth, o principal exorcista do Vaticano, no qual ele afirma que além de o filme de 1973 ser um dos seus preferidos, tirando exageros de efeitos especiais, as coisas eram daquele jeito mesmo.
Depois de uma entrevista realizada pra uma revista, Friedkin perguntou ao padre se ele o deixaria filmar uma sessão de exorcismo. “Vou pensar”. Alguns dias depois a resposta era de que sim, poderia, desde que sozinho e somente com uma camera de mão, simples. E, bom... Essa é a ideia do filme: o diretor de O Exorcista filmando um exorcismo real.
Real... Fica difícil acreditar nesse tipo de coisa normalmente, mas a distorção da voz da Cristina, a possuída que passava por sua 9a sessão, não ajudou em absolutamente nada. Os movimentos, também, pareciam controladíssimos, a ponto de transformar o que poderia ser realmente chocante em uma roleta de olhinhos.
O ponto, porém — e essa talvez seja a parte mais interessante do filme — é que o diretor foi atrás de psiquiatras, psicólogos e neurologistas pra tentar entender se aquilo poderia ser algum tipo de problema mental... E sim, é. Chama-se “possessão”, mesmo. Ninguém sabe dizer exatamente o que é que causa, mas afirmam que é um tipo de transe, delírio, influenciado pela religião da pessoa ou a cultura em que vive.
É como sentir medo do que se vê num filme: não tem muito sentido... Mas acontece. E tá tudo bem.
The Devil and Father Amorth poderia ser facilmente algo feito pro YouTube e que provavelmente faria mais barulho e sucesso do que como documentário, cinema. É simples, bastante raso e ao invés de deixar as coisas cruas, como deveriam ser (e o padre Amorth queria), tenta criar uma dramaticidade desnecessária, que inclusive machuca a credibilidade da história que, no final, precisava ter sido reafirmada com toda a coisa de “não entrei com minha câmera na igreja”.
Mas ainda é o documentário do diretor de Exorcista em que ele filmou um exorcismo real, então...