O gancho que fica para a terceira temporada pode ser ao mesmo tempo sensacional ou arriscadíssimo – tudo depende das escolhas dos roteiristas.
SPOILER! “Every move you make creates your destiny”, diz um trecho da letra de “When the Lights Are Down”, uma das minhas músicas favoritas do Kamelot. O seu futuro é feito das suas escolhas. E no episódio The Race of His Life, o season finale da segunda temporada de The Flash, a escolha que Barry Allen faz pode afetar não apenas o futuro, mas também o passado e o presente. Pode afetar todo o multiverso que ele tinha acabado de salvar das garras do terrível Zoom. Pode ter sido uma imensa cagada, uma do tipo que o Dr.Harrison Wells da Terra 2 vinha avisando ao longo de um ano para ele não fazer, nos mais diferentes momentos. Mas pode ser uma oportunidade de ouro para os roteiristas, talvez uma das melhores de todo o Arrowverse.
Depois de ver o pai, Henry Allen, ser assassinado na sua frente por um Zoom que queria provar que tanto ele quanto o Flash podem ser duas faces da mesma moeda, corroídos pelo ódio, algo morre dentro do coração de Barry Allen. Ao longo do episódio, que começa bem morno mas esquenta com seus últimos 10, 15 minutos SENSACIONAIS, Barry supera seus limites, salva sua galera dos Laboratórios STAR, impede que Zoom destrua todas as realidades alternativas do universo e mais uma vez é o grande herói. Mas ele não está satisfeito. A dor é grande demais. “Sinto um vazio dentro de mim, que não dá pra preencher”, confessa ele para a Iris. E então ele deixa sua família para trás e parte rumo ao passado. Para o fatídico dia em que sua mãe foi morta pelo Flash Reverso. Aquele dia que ele QUASE mudou antes, mas no qual acabou se segurando na hora H, testemunhando o sofrimento novamente para impedir que a linha temporal fosse afetada.
Mas agora não. O Flash voltou no tempo. Jogou o Flash Reverso pra escanteio. Salvou a mãe. E estampou FLASHPOINT em todos os cantos da tela.
Batizada por aqui de “Ponto de Ignição”, a saga escrita por Geoff Johns foi a responsável por virar o Universo DC do avesso nos gibis e abrir as portas para o reboot, dos Novos 52, aquela coisa toda. O conceito é o mesmo: tudo muda quando a mãe do Flash é salva da morte. A realidade se altera, o Batman agora é o Thomas Wayne, Superman e o próprio Flash não existem, os reinos do Aquaman e da Mulher-Maravilha estão em guerra, mil coisas. O universo inteiro se realinha. E esta é a hora em que dá pra pegar tudo que funcionou de melhor nestas duas temporadas, separar num canto, recortar aquilo que não prestou e jogar fora, criando uma nova realidade. Barry Allen apresentou um mundo inteiro de novas possibilidades aqui. Tudo por conta de uma cagada. Que pode valer MUITO. <3
A exemplo dos gibis, o Flash Reverso pode voltar, agora uma espécie de paradoxo vivo, praticamente invencível e intocável pelo Flash. E o que é mais legal, talvez até com o Tom Cavanagh como vilão de novo, o que seria uma oportunidade incrível, já que estamos falando de um PUTA ator. O Eddie Thawne também poderia ser trazido de volta para o elenco – e a dinâmica dele no meio da relação entre Barry e Iris funciona bem e evita o clima de “novela mexicana”, a coisa do “ai, como sofremos um pelo outro”. Podem trazer até mesmo a Patty Spivot de volta ao elenco, talvez um dos grandes acertos deste ano 2, um interesse romântico diferente e cheio de camadas para o herói... mas que acabou desperdiçado e tirado do caminho porque “heróis não podem se apaixonar”. Tipo, não. Simplesmente não.
O retorno do Nuclear? Caitlin Snow como Nevasca em definitivo? O Vibro virando um super-herói de vez? Wally West correndo por aí como Kid Flash? A Canário Negro novamente dando as caras como vilã (olha só, a chance de salvar a Laurel da morte em Arrow)? E mesmo o Zoom retornando, agora como o Black Flash, a versão macabra e meio zumbi que serve basicamente como a Morte, que vem buscar todos aqueles que usam a Força de Aceleração depois que eles morrem (o jeito que sua pele se deforma e seu uniforme muda sutilmente quando ele é levado pelos Time Wraiths já dá a dica de que isso vai rolar mesmo...)?
Tudo isso pode acontecer.
Os roteiristas basicamente tem um leque imenso nas mãos e podem escolher o que bem entenderem. Tudo vale. Tudo está mais do que justificado e explicado pela mudança temporal que o Barry fez. Pirem o quanto quiserem.
Dá pra acertar muito. Mas, claro, também dá pra errar miseravelmente. O mais legal, contudo, é que dependendo da ousadia dos roteiristas e dos produtores, esta é uma mudança que pode afetar todas séries do Arrowverse. A saga do Arqueiro Verde, os rumos de Legends of Tomorrow... e, sim, sim, vejam só, até mesmo a Supergirl. Afinal, em teoria, está tudo interligado, menos o universo da garota de aço. Quando ela e o Flash se encontraram na tela da CBS, eram dois mundos diferentes, com o velocista atravessando um portal e tudo.
Mas com uma solução do peso de Flashpoint, os mundos podem se misturar e finalmente National City se tornar vizinha de Star City e Central City. Afinal, nos gibis, Flashpoint ajudou a trazer o Monstro do Pântano e o Constantine diretamente da Vertigo para a realidade/cronologia dos heróis tradicionais, por exemplo. O caminho tá mais do que aberto. Não tem desculpa melhor.
A segunda temporada de Flash foi, a exemplo da quarta temporada de sua CORIMÃ Arrow, cheia de altos e baixos. Nos episódios em que, de fato, soube aproveitar a pseudociência mirabolante dos gibis e brincou com as possibilidade do multiverso, foi sensacional (o episódio em que Barry, Cisco e Wells viajam para lá e encontram os doppelgängers dos principais coadjuvantes, foi legal demais, uma parada 100% gibi das antigas, talvez o grande ponto alto da temporada). Mas quando os episódios teimavam em fugir desta trama, deixando o Zoom meio de lado e se concentrando em ameaças mais mundanas, parecia não fazer qualquer sentido. Diabos, mas eles esqueceram que tem um supervilão mais poderoso do que a vida ameaçando destruir uma realidade inteira? Parecia que sim. No fim, a segunda temporada foi bem mais irregular do que a primeira. E a chance de consertar isso está aí, para quem souber usar direitinho.
Ah, é, e teve a revelação de quem era o cara com a máscara de ferro mantido no cativeiro de Zoom. Que, depois de ouvir Henry Allen dizer que sua mãe tinha o sobrenome de solteira “Garrick”, todo mundo já imaginava quem fosse, né. Não foi lá grande surpresa que o Jay Garrick original, de uma ooooooooutra Terra (no caso, a 3), de quem Hunter Zolomon roubou os poderes e a identidade heroica, tivesse a cara de Henry Allen. Isso eu meio que já esperava. O que não passava pela minha cabeça é que não só ele recuperaria seus poderes mas apareceria usando o traje clássico de Jay Garrick, como todo mundo imaginou que aconteceria desde que John Wesley Shipp foi anunciado como integrante do elenco da série. Ver o cara sendo chamado mais uma vez de “Flash”, 25 anos depois, chegou a ser emocionante. Não vou mentir que dei uma choradinha de leve... ;)
(A menção à Sociedade da Justiça no final de Legends of Tomorrow talvez indique que nós veremos Jay Garrick em outra série da mesma família? Hummmmmmm. A chance é grande, hein?)
E, sim, quero DEMAIS que ele volte a aparecer como Jay, correndo ao lado do Barry. Como deve ser.
O futuro é feito de escolhas. Barry Allen já fez a dele. Berlanti, agora é com você.