The Flash, Black Sabbath e o paradoxo de predestinação | JUDAO.com.br

I Know Who You Are, o mais recente episódio da série, agrega uma camada de complexidade que pode ajudar a deixar esta terceira temporada um pouco aceitável

SPOILER! A terceira temporada de The Flash é, de longe, a pior da série. Os motivos para isso são vários, alguns já comentados aqui no JUDÃO, incluindo a obsessão pelo relacionamento entre o herói e a Iris West, furos no roteiro e a insistência na fórmula das duas primeiras temporadas, envolvendo um mistério sobre a identidade do vilão.

Aí no 20º episódio deste terceiro ano, exibido essa semana, finalmente descobrimos a identidade secreta do vilão Savitar, o tal “Deus da Velocidade” que tem infernizado a vida de Barry Allen e que, em breve, deve matar Iris.

...ele é ninguém menos que o próprio Barry Allen, mas do futuro, e com umas cicatrizes no rosto. Oi?

Você pode não concordar, mas a jogada é corajosa. O nosso grande herói, o bonzão da parada, se tornará um vilão. Mais do que isso: um vilão que mata, que inferniza a vida de todos que ele um dia amou em busca de vingança. Como ele chegou ali?

Quando olhamos para o que as duas primeiras temporadas construíram, vemos que o futuro da Terra 1 era melhor justamente por causa das ações do Barry. Eobard Thawne viveu nesse futuro utópico, se irritando com ele e voltando ao passado para acabar com o Flash. É desse futuro que vinha aquele jornal holográfico tanto admirado pelo Harrison Wells, o Thawne IN DISGUISE, que relatava o desaparecimento do Corredor Escarlate numa Crise futura, escrito pela Iris West-Allen.

Mas aí veio Flashpoint, a realidade alternativa criada pelo velocista no começo desta temporada. Foi depois disso que surgiu o Savitar, o velocista-vilão-assassino. Também foi aí que o nome de Iris sumiu do jornal futurístico, assim como descobrimos que a personagem morreria no final desta terceira temporada – morta pelo Savitar, claro.

No episódio anterior, The Once and Future Flash, Barry foi até o futuro para descobrir como, eventualmente, ele derrota o Savitar e o prende dentro da Força de Aceleração. É 2024 e, por essa época, o Velocista Escarlate vive isolado, afastado dos amigos após a morte da Iris. Demorou quatro anos para ele conseguir derrotar o vilão, com a ajuda de uma cientista, mas nunca conseguiu descobrir quem ele verdadeiramente era. Quer dizer, ao menos é isso o que ele diz.

Junte isso com a revelação desta semana e é possível ter, finalmente, uma timeline de eventos para a construção do vilão. Acompanhe comigo: o Savitar aparece, mata a Iris, jogando Barry no LADO SOMBRIO da força... de aceleração. Ele se afasta de todos os amigos e, eventualmente, derrota o vilão, que é preso. No entanto, em meio ao desespero, ele vai se tornando amargo. Nem mesmo a presença do Barry de 2017 em 2024 é o suficiente para tirá-lo desse rumo. Eventualmente, algo acontece e o Flash pira de vez. Ele muda a conexão com a Força de Aceleração, passa a vestir a armadura de Savitar e se torna o vilão que ele mesmo jurou matar. Ele volta pro passado – provavelmente daqui quatro anos, em 2021 – pra se vingar de alguma coisa, é derrotado pelo Flash daquela era e fica séculos preso na Força de Aceleração, alimentando a raiva de si mesmo. Eventualmente ele se liberta e o ataca em 2016-17, quando não existe a tecnologia para derrotá-lo, finalmente matando a Iris, fechando o ciclo.

Ainda faltam detalhes pra serem revelados, mas não deve fugir muito disso. Até porque, no começo deste terceiro ano, o Savitar disse que ficou um bom tempo preso na Força de Aceleração, planejando a vingança, e agora sabemos que isso acontecerá daqui quatro anos.

Quando falamos de viagem no tempo, isso tem nome: paradoxo de predestinação, ou ciclo de casualidade. Basicamente, é quando o viajante no tempo não altera a história. Pelo contrário, ele faz, na realidade, com que o futuro aconteça exatamente da forma como ele conhecia. Tudo que Barry fez esta temporada, incluindo a viagem para 2024, assim como os eventos de Savitar em 2017, apenas pavimentam o caminho para que o Flash pire no futuro e se transforme num vilão.

O conceito já foi usado em diversas obras de ficção científica. É, por exemplo, o que move o primeiro O Exterminador no Futuro. Afinal, a ida do Exterminador para 1984 apenas dá a tecnologia dos robôs e da inteligência artificial ao mundo, enquanto o Kyle Reese vai para o passado para ser o pai do cara que liderará a resistência e, claro, o mandará para os anos 1980.

Outro paradoxo da predestinação bem conhecido – por mais que você não tenha reparado muito nele – é a música Iron Man, do Black Sabbath. Não, esta não é uma CANÇÃO sobre Tony Stark, mas sim sobre um homem que viaja até o futuro, vendo o apocalipse. No retorno ao presente, o corpo dele é transformado em aço por um campo magnético e ele não consegue mais avisar as pessoas sobre o destino da Terra. Ignorado, ele se torna o Homem de Ferro, espalhando o medo e a destruição pelo planeta, causando o apocalipse que ele mesmo viu no futuro.

Se você pensar bem, isso se encaixa bastante no enredo desta temporada da série. Até porque faz parte da brincadeira que o viajante do tempo acredite, por um certo período, que ele está conseguindo mudar o futuro. No caso de The Flash, o Barry vai atrás da cientista que, originalmente, só em 2021 descobriria como prender o Savitar, para conseguir fazer isso no presente. No entanto, o enredo do último episódio deixa claro que sua versão do futuro vivenciou tudo aquilo, e mesmo assim o destino continuou o mesmo. Por extensão, dá pra acreditar que o herói já sabe qual é a identidade do vilão em 2024, mas preferiu esconder a informação da contraparte PRETÉRITA dele mesmo.

Obviamente não é muito saudável prender The Flash num enorme paradoxo, afirmando que, não importa o que aconteça daqui pra frente, ele se transformará num vilão que matou a própria amada. O fato é que na cronologia original, pré-Flashpoint, nada disso de Savitar existia. Assim, de alguma forma, o tempo deve ser restabelecido para uma timeline mais próxima daquela no season finale, que será exibido em 23 de Maio. E, por favor, Barry, NUNCA MAIS se atreva a mudar essa história.

A nossa sanidade agradece.