Diretor de Thor: Ragnarok quer que a gente sorria mais com Deus do Trovão | JUDAO.com.br

O que é BEM diferente de dizer que ele vai fazer uma comédia. Mas só colocar mais piadas na receita. E não tem NADA de errado nisso. Sério.

“Olha aí, pronto, já vão cagar tudo, que merda, vão fazer o Thor virar um personagem risadinha”, disse em tom puto da vida um sujeito comentando a história de que o diretor Taika Waititi, responsável por Thor: Ragnarok, terceiro filme do Deus do Trovão, quer fazer desta continuação uma parada um pouco mais divertida, com mais piadas. “O cara é um guerreiro nórdico. Sério que este cara não conhece os vikings? Manda ele ouvir Amon Amarth pra ficar ligeiro”, retrucou outro logo abaixo. A cena é real, vista na área de comentários de um portal de cultura pop gringo. Mas facilmente poderia ser vista em qualquer site por aqui também, entre acusações de que isso, com certeza, é “culpa da Dilma”.

Nem vou entrar no mérito de querer dizer que os suecos do Amon Amarth, maior expoente atual do chamado viking metal, são “sérios” – basta ver o vídeo totalmente zé graça que eles gravaram recentemente para servir de teaser pro seu novo álbum, com participação do lutador de UFC Josh Barnett. Mas vamos nos focar aqui no Thor – e no que disse o cineasta neozelandês Waititi.

Em papo com o CNet durante o recente festival de Sundance, do qual participava divulgando seu filme Hunt For The Wilderpeople, Waititi foi questionado sobre o que ele pretendia trazer para esta nova aventura do Thor. “Piadas”, soltou, na lata. “Minha força está em trazer o meu estilo de humor, que é provavelmente um tipo muito diferente de humor. Eles tiveram boas piadas antes, mas acho que o motivo pelo qual eles vieram até mim é porque estavam buscando um estilo mais novo. Eu posso chacoalhar as coisas um bocado”. Já na entrevista com o Wrap, ele reforçou a promessa, e ainda disse: “Vou pegar o segundo filme e adicionar umas piadas ali”.

Mas esta não é a primeira vez que o assunto vem à tona. No final do ano passado, ao conversar com o Cinema Blend, o Thor em pessoa, Chris Hemsworth, já tinha dito que esperava que o terceiro filme tivesse um senso de humor inteligente e inesperado, exatamente como James Gunn fez em Guardiões da Galáxia. “Podemos usar uma dose daquilo, sabe?”, afirmou o ator. “Acho que é hora de seguirmos em frente e fazermos algo diferente. Taika tem esta pegada incrível e estas ideias brilhantes e divertidas de onde poderíamos ir com o filme”.

Olha só, a gente podia começar te lembrando que, de um jeito ou de outro, todos os filmes da Marvel têm sempre uma pitada de humor, alguns mais, outros menos – mas até Capitão América 2, com aquela coisa toda de espionagem tipo anos 1970, tem um monte de momentos engraçados. A gente podia ainda te lembrar que os dois filmes do Thor também tem humor: a personagem da Kat Dennings, por exemplo, é um alívio cômico, tanto quanto o CORPULENTO Volstagg, dos Três Guerreiros. Os momentos em que Thor está na Terra, interagindo e descobrindo os hábitos (e bebidas) dos humanos, são muito divertidos. Aliás, vamos ser honestos? As próprias participações do Thor nos dois filmes dos Vingadores são repletas de piadinhas, tomando porrada do Hulk, com o jeito pomposo dele falar, com o seu jeito meio ogro de se comportar, com a sua competitividade na hora das batalhas. É só assistir de novo, não dói. “Ele é meu irmão. Mas ele é adotado”. Lembrou? :D

Vamos retornar ao Thor dos quadrinhos – que, parem de se enganar, está muito longe de ter saído do sanguinário elenco da série Vikings. A atual fase, escrita por Jason Aaron, já era cheia de diálogos espertos e sacadinhas divertidas antes mesmo de Jane Foster assumir o Mjolnir, em especial na relação de “namoradinhos” entre o Thor e a agente da SHIELD Roz Solomon. Aí, vamos RETROCEDER um tantinho mais e chegar na excelente passagem escrita por J. Michael Straczynski, começando pelo arco O Renascer dos Deuses, pós-Ragnarok (coincidência?). Asgard está vazia e agora está na Terra, em um imenso espaço desértico próximo à Oklahoma. E é justamente nas interações entre o filho de Odin e os interioranos preconceituosos e teimosos que residem os momentos mais divertidos da trama, com uma utilização brilhante do elenco de apoio.

Hulk e Thor

Aí gente volta um pouco mais no tempo e chega àquele que é considerado por grande parte dos fãs como o período de ouro do Deus do Trovão, sua fase escrita e desenhada pelo mestre Walt Simonson durante os anos 1980. Aquela mesma que tem a história bizarra e, ao mesmo tempo, genial, na qual Loki transforma o irmão Thor num...sapo. É, isso mesmo. Thor era um sapo, que usava o uniforme e erguia o Mjolnir. Estamos falando sério – ainda que a história estivesse longe de ser séria. “Na verdade, eu estava parodiando a mim mesmo”, explicou Simonson, em entrevista ao site da Marvel. “Também foi uma homenagem a Carl Barks, de quem sou muito fã, por causa dos quadrinhos do Pato Donald e do Tio Patinhas”.

Com ou sem sapo, as histórias tinham muita ação e aventura também. Porque Simonson entendia brilhantemente como explorar o aspecto épico dos guerreiros asgardianos, renovando a mitologia, introduzindo novos elementos (como Kurse, Malekith e o favorito dos fãs, Bill Raio Beta) e tirando o herói de uma espécie de LETARGIA que vinha vivendo nos gibis durante os anos anteriores. Alguém aí está disposto a discutir com Simonson? ;)

Clássicos como Indiana Jones e o próprio Star Wars estão aí pra não nos deixar mentir: dá pra fazer uma boa história com muita ADRENALINA e que carregue altas doses de bom humor. Ninguém está dizendo, em nenhum momento, que Thor 3 vai ser uma COMÉDIA. Mas simplesmente que vai ser mais leve, menos uma tentativa de Shakespeare armado com um martelo que invoca tempestades e mais Marvel. O Thor é um super-herói, afinal de contas. Que tal começar a pensar mais nele deste jeito?

Thor_Hahaha_04

A verdade é que a contratação de Taika Waititi vem para resolver uma espécie de buraco na vida da Marvel nos cinemas – porque, vai, confessa aí: se alguém chega pra você e pergunta “qual é o seu filme favorito da Marvel Studios”, dificilmente você vai responder que é algum dos filmes solo do Thor, né? Pois é, nem eu. Vamos combinar aí que os dois filmes não são ruins. São legais, até. Mas estão longe de ser as coisas mais memoráveis da Casa das Ideias. Numa lista de melhores filmes Marvel, os dois Thor estariam à frente de Vingadores 2 (claro), mas muuuuuuuuuuito longe de Guardiões da Galáxia, Capitão América 2 e até do Homem-Formiga. O que falta a eles? Personalidade para o coitado do protagonista.

“Basicamente, a proposta que fiz pra Marvel foi que o Thor precisa ser o personagem mais interessante do filme”, diz Waititi ao Crave Online. “Sim, se a gente vai chamar o filme de Thor, o Thor precisa ser o melhor personagem”. Parece óbvio? Pode até ser. Só que eu, você e todo o prédio da Marvel Comics sabemos que, nos filmes, o Loki de Tom Hiddleston é muito mais legal do que o seu irmão loirão e sarado. “Quero tratar este filme como se fosse o primeiro do Thor, então quero refazer tudo. Tenho que virar a página e dar um outro ar, uma outra cara”, explica ele, agora para o Superhero Hype. “Sei que ele é parte de um universo muito bem estabelecido, mas foi pra isso que me chamaram”.

Taika Waititi

Taika Waititi

Conhecido essencialmente por seu trabalho em filmes independentes como a deliciosa comédia de horror O Que Fazemos Nas Sombras (sobre um bando de vampiros tendo que se preocupar com problemas mais contemporâneos, tipo o pagamento do aluguel) e Loucos por Nada (a respeito de um nerd desajustado, um perdedor que planeja se vingar do VALENTÃO que mexia com ele na escola muitos anos depois de tudo ter acontecido), Waititi se diz motivado pela sensação de desafio e constante mudança — eis o motivo para ter aceitado fazer um filme enorme como o do Thor. “Eu tenho que mudar o tempo todo. Esta é uma chance de fazer algo fora da minha caixinha e do meu estilo de filmar e rodar algo grande e empolgante para me testar”. Mas ele deixa claro que não tem medo da pressão. “Estou tão relaxado na vida agora que não importa o que aconteça. Sinto isso como uma grande oportunidade de aprender algo”.

Ele conta ainda que seu estilo de trabalho no set tem muito a ver com o improviso. “Eu faço um monte de tomadas diferentes, mas sempre tenho um plano. Eu sempre planejo o que quero fazer, mas aí eu jogo o plano fora quando descubro o que os atores querem fazer. Aí, a gente chega num denominador comum e descobre como fazer dar certo”. E ainda completa: “só precisamos ter foco na ideia que queremos que a história siga”.

E vocês ainda ficam aí, todos preocupados? Mas eu quero mais é que o Taika Waititi pire na batatinha, levando Thor Odinson por uma ambientação que seja menos Senhor dos Anéis e mais... mais... mais Thor mesmo, sabe? De rostinho bonito e barriga tanquinho eles tão bem servidos. Falta agora só o garanhão asgardiano ganhar um tantinho mais de carisma. Porque ele merece.

Por Asgard.