Thor: Ragnarok enfim traz o design de Jack Kirby para os cinemas | JUDAO.com.br

Tão responsável pelo universo Marvel clássico quanto o próprio Stan Lee, o desenhista que completaria 100 anos em 2017 tem seu estilo de arte tão característico homenageado no filme

Ao relembrar o trabalho de arte de Aliens durante uma entrevista para o jornal interno da United Media, o diretor James Cameron mencionou que ninguém menos do que Jack Kirby foi uma de suas grandes inspirações. “Não intencional, não sentei e reli meus antigos gibis e os estudei para o filme, mas estava lá. O cara era um visionário. E sabia desenhar máquinas como ninguém. Ele era tipo um destes escritores de ficção científica que criam mundos que estão muito além do que podemos imaginar”.

Cameron, com absoluta certeza, não foi o único a retratar o futuro e o espaço a ter Kirby como fonte de inspiração – mas chega a ser irônico que só agora, em 2017, quase uma década depois do Universo Marvel ganhar forma no cinema, é que a Casa das Ideias finalmente faça uso do visual tão característico de um de seus maiores arquitetos (fãs podem argumentar até que ele é ainda mais responsável pelo que a Marvel é hoje do que o próprio Stan Lee, mas sei que este é o tipo de discussão que resulta em sangue, então vou evitar entrar nela).

E dá pra dizer que é ainda mais irônico que a redenção do chamado Rei dos Quadrinhos nos cinemas aconteça justamente no ano de seu centenário e, ora essa, em um filme que tem uma assinatura tão presente de seu diretor quanto é a que podemos ver no ótimo Thor: Ragnarok.

“Claro que o trabalho de Jack Kirby nos anos 60 foi nossa inspiração”, revela o designer de produção Dan Hennah em entrevista ao site da Marvel. “Eu leio os gibis de Kirby desde que tinha 15 anos de idade. Então, pra mim foi fantástico entrar de cabeça nisso, sempre fui influenciado por ele”.

Está tudo lá – em alguns casos, BEM visível.

Recomendo ficar ligado em praticamente todas as cenas em que o Grão-Mestre aparece – este camarote dele na arena, quando Thor e Hulk se enfrentam, é uma verdadeira pintura do Kirby, com os ORNAMENTOS arredondados e complexos que ele amava fazer, cheios de linhas que se atravessam — e com direito até a um sujeitinho no fundo que tem todo o jeitão dos Celestiais criados pelo desenhista.

Segundo Hennah, as sementes começaram a ser plantadas principalmente quando a equipe iniciou o trabalho de desenhar o mundo de Sakaar, uma espécie de “esgoto” espacial que mistura diferentes culturas de todos os cantos da galáxia. “Nosso design foi parar em outro planeta – e tivemos que analisar novas formas, os tipos de roupas que eles usavam”. E aí é que Kirby entrou em cena. Não necessariamente um trabalho em específico, mas todo o contexto de sua obra, ultradetalhada, futurista, viva, cheia de cores. “Pra mim, a coisa mais legal foi ver o depois, foi assistir e encontrar coisas até subconscientes ali”.

Todo mundo tava alinhado nesta pegada, da figurinista Mayes Rubio ao supervisor de efeitos especiais Jake Morrison – que fez questão de elogiar a “densidade” da arte de Kirby, um artista que enchia a página com uma série de elementos visuais com um baita contraste entre luz e sombra. Para Morrison, uma das principais características de seu trabalho que pode ser vista de alguma forma em Thor: Ragnarok são os chamados Kirby Krackles.

Estamos falando de um tipo bem característico de elemento artístico, criado por Kirby para gibis de ficção científica e super-heróis e depois reutilizado por uma série de desenhistas que se seguiram, no qual um campo de imagens pretas é usado para representar espaços negativos ao redor de alguns tipos de energia, tudo preenchido com umas imagens fractais. Algo que ajudava a traduzir um pouco do conceito metafísico que ele batizaria de A Fonte, usado a rodo em sua mitologia lendária no Quarto Mundo, dos Novos Deuses da DC.

“Se você olhar para a Asgard da obra dele, o céu tá cheio destas enormes cicatrizes abertas, como passagens dimensionais, com muito disso ao redor. O que ele está fazendo é preencher o quadro. Pra nós, significava que podíamos pesar mais a mão no visual”, revela Morrison. “Adicionamos coisas ao céu. Pudemos engrossar os traços, porque a idéia original de Kirby não era fazer linhas tradicionais, mas sim usar muita luz dinâmica e contraste de sombra”.

Para o poderoso chefão dos Marvel Studios, esta noção da obra de Jack Kirby é só mais um dos motivos pelos quais ele não apenas quer, mas sim tem certeza absoluta de que vai trabalhar com Taika Waititi novamente. “Queríamos que no ano em que se completam 100 anos do nascimento de Jack Kirby, este filme fosse uma homenagem, mas também um filme do Taika”, diz Kevin Feige, em entrevista ao Screen Rant. “Eu o via olhando pro trabalho do departamento de arte, com os figurinos e os cenários feitos pelo Kirby em mãos, vendo o que eles tinham feito e que já estava inspirado pelo Kirby, e o diretor dizia ‘não, não, façam ASSIM’, pra ser idêntico. E é isso que saiu. Uma tradução tão literal de sua obra que não tinha sido vista em nenhum filme antes”.

“Eu sempre amei o clima viajandão cósmico dos gibis do Thor”, contou Taika para o ET. E ainda completou, pra nosso delírio: “Sempre disse que, se o Freddie Mercury estivesse vivo, eu teria pedido ao Queen pra fazer a trilha sonora do filme. Tem este clima: uma aventura cósmica ousada e colorida. E precisava ser divertida”.