Tolkien poderia (e deveria) ter se aventurado mais | JUDAO.com.br

Filme pode atrair e agradar fãs de JRR Tolkien, que buscarão qualquer referência de suas obras, mas poderia ter se arriscado mais para ir além da pura e simples história

John Ronald Reuel Tolkien é uma das figuras mais importantes da literatura mundial e seu legado influenciou gerações de contadores de histórias em diferentes meios. É impossível não associar suas criações ao universo da fantasia desde os anos 1930. Por sua importância, é estranho pensar que demorou tanto tempo para sua história de vida ser contada nos cinemas.

Na primeira cinebiografia sobre o célebre autor, Tolkien explora rapidamente os primeiros anos de sua vida, a perda da mãe e o encontro com seus melhores amigos. Se concentrando em sua juventude um tanto trágica, a narrativa aborda seus dias como universitário e a busca por sua real vocação, barrados temporariamente pelas traumatizantes experiências nas trincheiras francesas na Primeira Guerra Mundial.

Dirigido pelo finlandês Dome Karukoski, Tolkien intercala diferentes períodos para mostrar como as experiências de vida do autor se tornaram inspiração para suas obras. Existe uma reverência óbvia do diretor ao autor retratado, principalmente quando são acrescentados vislumbres da imaginação fantástica de Tolkien. Em um momento específico, por exemplo, Tolkien (vivido Nicholas Hoult) olha para um foco de luz e um círculo dourado aparece em seus olhos. Pegou a referência?

Mas os roteiristas David Gleeson e Stephen Beresford se preocuparam excessivamente em apresentar detalhes do período retratados, tornando a história um pouco mais lenta e rígida do que poderia ser. Sendo controlado pelas mãos do diretor e pelas linhas do roteiro, o filme perde a oportunidade de tornar essa narrativa um tanto mais fantasiosa e mágica como o material oferecido pelo autor em suas obras. Mesmo falando sobre alguém tão conhecido, Tolkien pode ser um pouco maçante para determinados públicos.

Além de mostrar essa busca por sua real vocação, Tolkien concentra seu foco nas relações entre o autor e Edith (Lily Collins), o amor de sua vida, e a parceria com seus melhores amigos. Amor e amizade são dois elementos primordiais em seus trabalhos e é interessante ver como ele transferiu esses elementos para suas histórias e inspirou o início de um dos universos mais importantes da literatura e da cultura pop.

Mas Tolkien peca em não entregar o que realmente fez o autor tão especial, preferindo explorar elementos comuns de histórias sobre jornadas pessoais. Os sacrifícios e a superação do personagem se enquadram em qualquer história do tipo e tornam essa cinebiografia muito comum para o tamanho da importância da personalidade contada.

Tolkien pode atrair e agradar fãs do autor, que buscarão qualquer referência de suas obras, mas poderia ter se arriscado mais para ir além da pura e simples história.