Uma das mais inventivas bandas norte-americanas de rock pesado chega pela primeira vez ao Brasil e se torna o principal motivo para conferir o festival do Seu Medina
Embora isso nunca tenha sido admitido oficialmente, era óbvio que, pelo menos no começo, a lista anunciada de atrações internacionais da edição 2015 do Rock in Rio era uma espécie de homenagem aos 30 anos que o evento completa. Afinal, eram todos atrações que já tinham passado em algum momento pelo palco da Cidade do Rock: Katy Perry, Metallica, Faith No More, Slipknot, Queens of The Stone Age, A-Ha, System of a Down, Queen (com o Adam Lambert)... Nenhuma grande novidade até aí.
Mas faltava um tantinho de ousadia, como aquela que os comandados do seu Roberto Medina tiveram ao convocar os suecos do Ghost, longe de ser uma unanimidade entre os fãs de metal mas com certeza um sabor de novidade na cena, para o palco principal. Será que eles ficariam só na autocelebração? Ai. Era muito desperdício de um espaço tão nobre não arriscar nem um pouco. Até que, enfim, aquele que é o maior (em termos de tamanho, entendam) festival de música do Brasil ouviu o clamor de quem curte rock pesado e foi buscar, lá nos Estados Unidos, um quarteto de malucos que atende pelo nome de Mastodon.
Metallica, te amo. System of a Down, vocês são foda. Faith No More, aquele abraço. Katy Perry, você é uma fofa. Mas desde já, por mais que nem sejam headliners, a simples presença do Mastodon no evento já os transforma em ápice do Rock in Rio, na real. Estamos falando de uma banda que, inexplicavelmente, nunca veio ao Brasil – mesmo sendo, de longe, o nome mais interessante da atual cena do rock ianque para bater cabeça depois dos anos 2000. Reunimos logo abaixo OITÔ motivos pra você ir assistir aos caras pessoalmente na Cidade Maravilhosa. Ou, quem sabe, rezar para que eles façam uma turnê maior e passem pela sua cidade. Ou talvez reservar um tempinho, pelo menos, pra abrir uma cerveja e ver os caras na TV. Vai valer a pena.
8 ...porque eles têm uma sonoridade única
Isso é, talvez, uma das coisas que eu mais valorizo em qualquer artista, seja ele do cenário rock ou não. Quando ele é capaz de mastigar todas as suas referências sonoras e criar um som só seu, com a sua assinatura, que se torna reconhecível de longe. É um processo que não é lá dos muito comuns, gerando toneladas de bandas genéricas. Não é o caso destes sujeitos. Você escuta uma música do Mastodon (por mais que não goste) e já diz: ah, isso é o Mastodon. Feito memorável.
7 ...porque eles se libertam de qualquer rótulo
Não dá pra dizer que o Mastodon é uma banda de heavy metal. Nem eles gostam disso. Na verdade, o mais acertado é dizer que eles são uma mistura acertada e certeira de thrash metal, hardcore, pitadas de grindcore, flertes com rock progressivo e psicodelia... É pesado e brutal, mas consegue ser melódico ao mesmo tempo. Há quem os defina como sendo “metal alternativo”. Se eu tivesse que escolher, apostaria em stoner metal. Faz sentido. Ou, como gosto de dizer: “um Queens of The Stone Age com guitarras mais pesadas e mais maconha”.
6 ...porque eles são sucesso de público e crítica
É, rapaz, isso não é das coisas mais comuns. Por mais que a sonoridade deles não seja tão óbvia, os quatro camaradas de Atlanta caíram nas graças do público e igualmente dos críticos. Tocaram e foram bem-recebidos em festivais para públicos dos mais diversos, do indie ao headbanger, como Roskilde, Download, Pitchfork Music Festival, Coachella, Bonnaroo, Sonisphere... Já foram duas vezes indicados ao Grammy. E já foram escolhidos como álbum do ano (The Hunter, de 2012) por revistas tão díspares como a Metal Hammer e a Classic Rock.
5 ...porque eles se metem em uma porrada de projetos paralelos
...e o legal é que está tudo bem, nenhum outro integrante do grupo fica de #mimimi com isso. Na real, a banda acha até que isso é extremamente positivo e saudável para que eles tragam cada vez mais novas influências para o Mastodon. O baixista Troy Sanders, por exemplo, toca no Killer Be Killed com o Max Cavalera (daquela banda lá, que você deveria saber qual é). O guitarrista Bill Kelliher curte umas paradas punk com uns amigos de Atlanta numa banda chamada Primate. O mesmo vale pro baterista Brann Dailor, que toca uma parada mais sombria de nome Arcadia. E o vocalista Brent Hinds entrou numa doideira com o batera do Tool, Danny Carey, chamada The Legend of the Seagullmen – além de tocar em dois outros projetos: West End Motel (acústico) e Fiend Without A Face (rockabilly com country e surf music). Isso porque ainda tem uma coisa pra sair do papel, chamada Giraffe Tongue Orchestra, que terá a participação de Ben Weinman (guitarrista do Dillinger Escape Plan) e da atriz Juliette Lewis.
4 ...porque as letras são geniais
O bacana do Mastodon não é que apenas o som é ao mesmo tempo pesado e viajandão – as letras e temas das músicas também são. Leviathan (2004), por exemplo, é um disco conceitual sobre o livro Moby Dick, a busca obsessiva pela baleia. Já The Hunter (2011) conta a história de um sujeito perdido na floresta e que recebe, de uma força sobrenatural desconhecida, o poder de se comunicar com os animais para que possa sobreviver. O melhor momento lírico, no entanto, é a jornada pirada de Crack The Skye (2009).
A história começa com um moleque paraplégico que aprende a fazer projeção astral. Ele sai de seu corpo, viaja pelo espaço mas, quando se aproxima demais do Sol, acaba rompendo o cordão que ligava sua alma ao seu corpo. O espírito do garoto acaba sugado por um portal e ele vai parar no mundo espiritual. Os espíritos dizem que ele não está realmente morto – e o mandam para a Rússia da época de Rasputin, onde o culto dedicado ao bruxo russo o coloca dentro do corpo do próprio Rasputin. O lance é que Rasputin tenta tomar o trono do Czar e acaba assassinado. Agora são duas almas vagando por aí – até que Rasputin resolve ajudar o menino a voltar para o seu corpo, que acaba de ser descoberto pelos pais desesperados. Mas a dupla de espíritos acaba se deparando com o Diabo em pessoa no meio do caminho, que quer roubar as almas para o seu mundo infernal. Piração máxima: fala sério que isso não dava um filme?
3 ...porque eles são nerds
Falando em filmes, os quatro músicos do Mastodon já admitiram que são fãs de ficção científica, história em quadrinhos e outras paradas assim – provando que, por trás de toda a cerveja, das barbas, cabelões e das tatuagens, se escondem uns nerds como qualquer um outro do estereótipo “tímido magrinho de óculos”. Suas canções já estiveram em games como Saints Row, Tony Hawk’s Underground, NHL 2K9, Rock Band 3, Guitar Hero 3, Splatterhouse... Gravaram a música-tema do filme para cinemas da série animada Aqua Teen Hunger Force, pela qual são fanáticos. Saíram em turnê com o Dethklok, banda virtual criada para o desenho animado Metalocalypse, do canal Adult Swim. E registraram alguns riffs de guitarra brutais que acabaram incorporados à trilha sonora instrumental do filme baseado no personagem de HQs Jonah Hex (aquele com a Megan Fox, pois é, a gente sabe...);
2 ...porque eles fazem apresentações ao vivo sensacionais
Dã, este motivo é meio óbvio, para ser honesto, mas a gente tinha que registrar. O caso é que o Mastodon não é um imenso espetáculo pirotécnico como um Kiss ou Slipknot da vida. Hinds e companhia são low profile, sabe? Falam pouco, são simpáticos e divertidos, mas não espere deles uma apresentação de stand-up. E detalhe: eles compensam ainda a falta de luzes e efeitos especiais com uma pegada ainda mais encorpada que nos álbuns, dando força a canções que alguns fãs mais dedicados normalmente considerariam como os elos mais fracos de seus discos. Não à toa, já receberam elogios de medalhões como o Metallica, com quem chegaram a fazer algumas turnês pelo mundo. Tudo indica que eles devem tocar no mesmo dia que o Slipknot – que vão ter que suar os macacões para subir ao palco e superar a cacetada sonora do Mastodon.
1 ...porque eles são bem-humorados
E isso, gente, é das características cada vez mais raras em bandas pesadas hoje em dia – que têm uma tendência insuportável de se levar a sério demais. Vejam só a cerimônia do Grammy deste ano. Os caras estavam lá e, honestamente, parecem ter cagado e andado pelo prêmio de “melhor performance de metal” ter ficado com o Tenacious D do ator Jack Black (ao contrário de muitos haters no Twitter, que xingaram até o dia clarear). Enquanto Brann Dailor usava um estiloso terno de bexigas coloridas, Brent Hinds vestia um uniforme completo de beisebol – e chegou a ser expulso da cerimônia depois de deixar cair suas paradas no chão, revelando uma trouxinha de maconha. “O senhor não está sabendo se comportar”, teria dito um dos seguranças. A entrevista acima, realizada pelo site do Grammy, é um espetáculo do mais divertido non-sense.
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