Um papo com a mente por trás do Iced Earth | JUDAO.com.br

Conversamos com Jon Schaffer, líder da banda americana, a respeito do novo disco dos caras e também sobre o retorno de seu projeto com o vocalista do Blind Guardian

Quando uma banda consagrada passa por qualquer tipo de troca de integrante, seja por “demissão”, seja pelas já famosas “diferenças criativas”, já se sabe que o chororô vai ser inevitável. Mas quando se trata do vocalista, rapaz, aí o caldo entorna de vez. “O que esperar? Será que ele vai cantar os clássicos de forma decente? Será que aguenta os agudos?”, são algumas das ANGÚSTIAS dos fãs fiéis. Mas no caso dos americanos do Iced Earth, com suas três décadas de serviços prestados ao bom e velho heavy metal, se tem uma coisa na qual eles sempre acertaram, sem dar margem pra muita reclamação, foi justamente na troca de frontman.

Com caras como Matt Barlow e Tim “Ripper” Owens em formações anteriores, o combo liderado pelo respeitado guitarrista Jon Schaffer tinha uma missão e tanto na hora de substituir o cantor — mas, com o versátil vocalista canadense Stu Block, também conhecido por alguns fãs pelo trabalho à frente dos vocais da banda de death metal Into Eternity, o grupo ganhou fôlego extra. O recém-lançado Incorruptible, terceiro álbum com o cara no comando dos microfones, a banda experimenta novas sonoridades, mas sem fugir da fórmula que consagrou o estilo das composições do Iced Earth.

“Na verdade, resolvi batizar o novo álbum com esse título por uma razão pessoal. Isso tem a ver mesmo com a história da banda”, explica Schaffer, em entrevista exclusiva ao JUDÃO. “São vários anos de Iced Earth, vários álbuns, longas turnês e aconteça o que acontecer, a banda se manteve incorruptível durante todo esse tempo. Passa modinha, passa dificuldade da cena musical e a banda se manteve viva até hoje”.

Jon diz que acha que Stu está fazendo um trabalho extraordinário no Iced Earth e, ainda que muitos fãs demorem pra aceitar, ele veio pra ficar. “Acho que as comparações são inevitáveis e normais. Cada vocalista é um individuo e cada um eles trouxe uma identidade para a banda em tempos diferentes”.

Para o líder do grupo, que também é seu principal compositor, é inevitável que os cantores aqui sigam suas instruções sobre como devem interpretar as faixas. Mas, no caso de Stu, ele sempre traz algo novo que o poderoso chefão acaba abraçando. “Eu não vou explicar para os fãs essas diferenças entre vocalistas pois às vezes as comparações vêm de gente que tem pouca informação e não procura entender como é complexo você ter novos membros numa banda e ter que sentar e explicar as coisas do zero”, diz. “O que é realmente legal com o Stu é que qualquer coisa se encaixa muito bem na voz dele”.

O cantor foi, por exemplo, o responsável pela inspiração e pelas letras da bela faixa de abertura Great Heathen Army, um tributo à história de Ragnar Lothbrok, o famoso herói recentemente abordado na série de TV Vikings. “Ele é mais chegado em mitologia nórdica do que eu”, diz, lembrando que no seu caso, o interesse acaba sendo por história — e por isso ele resolveu homenagear o povo nativo norte-americano na faixa instrumental Ghost Dance (Awaken the Ancestors). “Não posso deixar de mencionar a faixa épica do álbum, Clear the Way (December 13th, 1862), que retrata o sangrento conflito da brigada irlandesa na batalha de Fredericksburg no estado americano de Virginia durante a guerra civil americana”.

Mas não para aí. Quando a bolacha segue rolando com Black Flag (que, como você deve imaginar, fala sobre piratas) e sua sinistra introdução, a viagem por vários temas e passagens da história garantem a diversão como se você estivesse ouvindo um desses áudio-livros, com Stu interpretando tramas de maneira magistral. Não demora muito pra já começar a ensaiar de primeira os refrões fortes e pegajosos de faixas como Raven Wing, The Veil e a violentissíma Seven Headed Whore, com perversos (num ÓTIMO sentido) requintes de Slayer! Que porrada! :D

Incorruptible também vem acompanhado de uma mudança considerável para a história da banda: agora, o Iced Earth tem seu próprio quartel-general. É mais do que um estúdio caseiro, mas sim uma casa com equipamento de gravação, escritório para cuidar dos negócios do grupo, um espaço para armazenar instrumentos e demais cacarecos...

Segundo Jon, este é o melhor jeito de uma banda que sempre foi independente na essência, mesmo com o apoio de uma gravadora, poder trabalhar ainda mais focada e com a liberdade de gravar na hora que bem entender. “A grande vantagem agora é não ter que ficar mais espremendo minha agenda ou dificultar minha vida mais ainda pra realizar minhas gravações”, explica. “O tempo que eu não estiver em turnê, sei que vou estar nesse estúdio no meu próprio tempo trabalhando nas minhas ideias”.

Uma destas ideias é um novo disco do projeto paralelo do Demons & Wizards, parceria com Hansi Kürsch, vocalista do Blind Guardian. “Está tudo bem cru ainda! Mas a gente já tem duas músicas prontas”, revela. “Parece que o tempo voou desde que lançamos o último disco Touched by the Crimson King. Mas já se passaram doze anos!”.

O lançamento do disco, ainda sem nome, está previsto para 2018. Mas sem stress nenhum. “A gente não tem uma certa pressão de ter que soltar um disco com a frequência que a gente faz isso nas nossas próprias bandas, então podemos fazer com calma e com muita qualidade. Nos últimos quatro ou cinco anos, ensaiamos bastante a ideia sobre esse disco e agora na verdade estamos executando alguma coisa, o que já nos deixa felizes”.

Prestes a completar 50 anos, Jon parece empolgado como nunca e reafirma, sem PESTANEJAR: “Tenho tanta ideia rolando ainda que os planos de uma aposentadoria ainda estão beeeeeeeeeem longe!”.