CBS está desenvolvendo uma nova série baseada na franquia pro serviço deles de streaming – e pode ser o que mundo tá precisando agora
E os rumores foram devidamente confirmados: Star Trek voltará à TV em 2017... Por pelo menos um episódio. Porque sim, a CBS, junto com Alex Kurtzman, está produzindo uma NOVA Jornada nas Estrelas... Mas a ideia é que ela seja exibida PELA INTERNET, no CBS All Access, o serviço de streaming da emissora.
É mais ou menos como se a Globo produzisse uma novela pro GShow. :D
Ainda não temos tantos detalhes da produção, que será a primeira exclusiva pro serviço de VOD deles, mas alguns detalhes chamam a atenção. Primeiro: a convocação de Kurtzman, um dos responsáveis pelo reboot nos cinemas, que vem rolando desde 2009. O segundo: teremos novos personagens procurando novos mundos e novas civilizações, tudo isso enquanto exploram temas atuais – da mesma forma feita pela série original, entre 1966 e 1969.
Jornada nas Estrelas, a criação de Gene Roddenberry, foi uma espécie de aventura do “velho oeste” no espaço, com essa coisa de uma navezinha saindo por aí em sua missão de cinco anos. Porém, o princípio era sempre a curiosidade, nunca a guerra. Dessa forma, às vezes como espectadores, às vezes como atores, a tripulação da Enterprise se envolvia em temas como racismo, doenças, relacionamento, ditadura e por aí vai. Não à toa, foi em Star Trek que a TV americana viu o primeiro beijo entre um branco e uma negra, trocado entre Uhura e o Capitão Kirk.
E tinha também a Zona Neutra, que era a representação clara da Cortina de Ferro, dividindo Europa Oriental e Europa Ocidental no pós-Segunda Guerra Mundial. Em todos os momentos que a Enteprise ficava próxima a ela, surgia aquela tensão entre se manter fiel ao seus princípios científicos e interferir nos assuntos da região sem causar uma guerra contra Klingons e Romulanos – uma clara referência à Guerra Fria. Convenhamos que não era fácil quando se tinha um capitão como o James T. Kirk, extremamente impulsivo, que colocava o destino de todo mundo em risco.
(Ok, a própria série cometia seus erros e colocava uma carga de preconceito na representação dessas raças alienígenas, principalmente os Klingons, mas isso é papo pra outra hora).
Claro, estamos em 2015. A Guerra Fria acabou. Mas se a nova série de Jornada nas Estrelas seguir essa linha de retratar o nosso mundo, seria incrível. O mundo e, principalmente, os Estados Unidos, está dividido. É só pegar qualquer mapa que mostre, em azul e vermelho, a divisão dos votos entre Republicanos e Democratas na última eleição de lá. Ou, pra sacar essa divisão no Brasil, é só abrir o Facebook.
A ciência também evoluiu bastante, assim como a colaboração de Hollywood com pesquisadores, instituições e tudo mais. Nos últimos anos, aprendemos mais sobre a galáxia do que nos séculos anteriores. Já imaginou tudo isso transformado em novos conceitos de Star Trek?
Sim, a franquia foi se tornando mais bélica nos últimos anos, já nos filmes mais recentes da Nova Geração. A partir do reboot isso se intensificou, mas principalmente porque J.J. Abrams, Kurtzman e os outros produtores quiseram transformar a franquia em algo mais amplo, pra todos os públicos, fora de seu nicho específico. Porém, uma série para VOD pode ser a chance de dar o passo em outra direção e retomar essa coisa da exploração e da metáfora.
Uma nova tripulação pode ser ainda mais positivo. Afinal, já era de se esperar que ter a galera da Enterprise dos cinemas na telinha seria inviável. Além disso, Jornada nas Estrelas já demonstrou que pode viver além da Enterprise: é só ver Voyager e Deep Space Nine pra entender o que quero dizer.
Há quem veja aí apenas um IMPEDIMENTO corporativo num possível cruzamento de histórias, ou participações especiais de atores. É que, depois de uma série de reorganizações, as áreas de cinema e TV do antigo grupo foram totalmente separadas. A CBS Television Studios (que já foi a Paramount Television e, antes, a Desilu) está no grupo liderado pela CBS, enquanto a Paramount Studios ficou no conglomerado da nova Viacom — ambos do mesmo dono, a National Amusements.
Porém, a contratação de Kurtzman demonstra uma clara vontade de fazer tudo parte da mesma coisa, fora que a Casa das Ideias passa por uma divisão parecida (entre Marvel Studios e Marvel Television, que não são de grupos diferentes, mas acabaram em estruturas diferentes após a recente reorganização da Disney) e consegue, pelo menos aparentemente, um alto grau de colaboração entre as divisões.
Pra ajudar, antes do lançamento da nova série de Star Trek, temos a estreia de Star Trek Beyond nos cinemas em 2016, comemorando os 50 anos da franquia. Dá pra acreditar que o timing de datas não seja por acaso e, de alguma forma, os eventos do filme devem ajudar a construir a nova série, a exemplo de como os filmes da Marvel nos cinemas têm influência sobre Agents of SHIELD, Agent Carter e, em menor escala, nas séries do Netflix.
Que, então, eles aproveitem tudo isso pra recuperar a energia da produção clássica. Talvez seja exatamente isso que o mundo anda precisando.
Em tempo: ficou preocupado por não termos o CBS All Access para assinar no Brasil? Sim, é praticamente impossível que tenhamos acesso a ela, já que está vinculada a um canal aberto dos EUA, mas eles já avisaram que os direitos de distribuição serão vendidos para canais de TV e serviços de VOD em todo o mundo. Os filmes mais recentes de Star Trek estão no Netflix dos brasileiros e já tivemos a série clássica por lá até recentemente, então talvez tenha um bom presságio nisso aí. ;)