Vai começar: Netflix anuncia os primeiros filmes e séries baseados na obra de Mark Millar | JUDAO.com.br

Mais do que ver o Netflix investindo em quadrinhos, FALA SÉRIO que não era ESTE o momento que você tava esperando? Bom, com certeza era o que mais aguardava um certo autor escocês…

Desde o dia em que o Netflix foi lá e desembolsou uma grana para COMPRAR a Millarworld, a editora criada pelo autor escocês Mark Millar em 2004 pra ter total controle sobre os seus personagens e histórias autorais depois de seus anos na DC e principalmente na Marvel, uma coisa ficou BEM clara: usando nossas próprias palavras, “a empresa de streaming tava deixando de ser um mero licenciador e financiador de conteúdo para se tornar DONA de propriedades e franquias, da mesma forma que uma Disney da vida”.

Desde aquele anúncio inicial, até o momento o que tinha acontecido era o Netflix apostando em um mercado ainda desconhecido para a empresa mas no qual Millar já nadava de braçada, ao lançar sua primeira HQ, a elogiada The Magic Order, com roteiro do Millar e arte de Olivier Coipel, uma mistura de máfia e magia. Mas aqui, no caso, o Netflix meio que tá servindo como um ESTÚDIO que assina editorialmente a publicação, já que a publicação sai de fato pela Image Comics.

O que o POVO tava esperando, no entanto, era o inverso. De posse de um verdadeiro universo de personagens (e que o Millar já disse que estão conectados), era a hora de falar de adaptações dos gibis para formatos audiovisuais, filmes e séries originais, a especialidade da turminha de Los Gatos, que enfim foram anunciados essa semana, com nomes de roteiristas AND produtores — que, é bom lembrar sempre, NÃO inclui Kingsman e Kick-Ass.

Dito isso, na seara das SÉRIES, tivemos pelo menos dois anúncios importantes:

| Jupiter’s Legacy
Showrunner: Steven S. DeKnight (Demolidor)
Produtores executivos: Lorenzo di Bonaventura e Dan McDermott (Human Target)

Com influências que misturam King Kong, Star Wars, mitologia grega e, claro, a Era de Ouro dos quadrinhos, a história é o que os críticos gostam de chamar de um tratado de Millar sobre a conexão dos super-heróis com o ideal americano (liberdade, oportunidade de crescimento, prosperidade, enfim, aquele pacote). Tudo começa com os conflitos de geração entre um grupo de heróis clássicos conhecidos como Union, que usam os poderes ganhos na década de 30 para o desenvolvimento da humanidade e são liderados pelo Utopian (Sheldon Sampson), e seus filhos, que são pressionados a manter o legado de seus pais num mundo muito diferente social, econômica e politicamente falando.

Importante perceber aqui que o mesmo di Bonaventura, veteraníssimo do mundinho hollywoodiano (Transformers quer dizer algo pra você?) com quem Millar negociava tornar Jupiter’s Legacy um filme ANTES do acordo com o Netflix continua envolvido na parada, ainda que tenha virado série.

| American Jesus
Showrunners e produtores executivos: Everardo Gout (Marvel – Luke Cage) e Leopoldo Gout (A Grande Jornada)

Esquece aí a música do Bad Religion (que, aliás, é BEM boa). Mas, como tamos falando mesmo do GRANDE JESA, nada melhor do que usar o tema da ressurreição: e American Jesus é a retomada, agora na Image Comics, do título Chosen, que saiu lá em 2004 pelas páginas da Dark Horse. A história é direta ao ponto: o garoto de 12 anos conhecido como Jodie Christianson, que cresce como um típico garoto do Meio-Oeste ianque comum lá pela metade dos anos 80, descobre que é a reencarnação de Cristo na Terra. Simples assim. Ele pode transformar água em vinho, fazer os deficientes físicos voltarem a andar e talvez até trazer os mortos de volta à vida. Tipo um X-Men nível ômega mesmo.

Este título era outro que Millar vinha negociando pra virar filme tinha um tempão, chegando até a assuntar que ele se tornasse uma trilogia via Sony / Screen Gems. Nunca aconteceu, mas o próprio autor já tinha contado, ao CBR, que Matthew Vaughan queria dirigir Chosen ANTES de fazer o primeiro Kick-Ass. Millar preferiu esperar pra entender o que aconteceria nos números que faltavam. Deu no que deu. AMÉM.

Quando falamos de FILMES, aí a oferta continua bem da interessante:

| Empress
Roteirista: Lindsey Beer (que tá adaptando a trilogia A Crônica do Matador do Rei pros cinemas)
Produtores: Joe Roth e Jeff Kirschenbaum (Malévola)

Apesar de autoral, Empress é a mais recente parceria de Millar com a Marvel, que publicou em 2016 as sete edições da space opera do autor. O conceito, divinamente ilustrado por Stuart Immonen, é absolutamente cativante: imagina só que você é uma mulher casada com o pior vilão daquele seu filme favorito de ficção científica, um ditador alienígena temido em todo o universo, que a mataria das formas mais cruéis se você ousasse tentar fugir.

Mas acontece que você PRECISA escapar. Pelo bem de seus três filhos. Esta é a história da Rainha Emporia, que tem apenas o auxílio de seu guarda-costas, três armas e, obviamente, uma dose considerável de inteligência.

| Huck
Roteirista: Ted Melfi (Estrelas Além do Tempo)
Produtores: Neal Moritz e Toby Jaffe (O Vingador do Futuro)

Olha só, não seja ESTA pessoa que vai colocar o nome Luciano neste papo, por favor. A trama conta a história de um sujeito que mora em uma pequena e pacata cidadezinha litorânea na qual usa seus poderes para fazer uma boa ação todos os dias – e, em troca, seus vizinhos concordam em manter seu segredo a salvo, já que o cara acha que é sua obrigação e não pretende ter reconhecimento sobre isso. Mas, claro, alguma bosta vai acontecer no meio do caminho, a mídia vai direcionar todas as suas atenções pra lá, ficando em polvorosa, suas origens começarão a ser descobertas e ele vai ter que encarar uma aventura que mudará a sua vida.

O parceiro de Millar nesta história é o desenhista brasileiro Rafael Albuquerque — que, numa entrevista pro JUDAO.com.br, confirmou que este era MAIS um dos muitos projetos que o escritor tava lá mexendo seus pauzinhos pra fazer virar em Hollywood antes de dizer “sim” ao casamento com o streaming. “Vendemos os direitos para uma produtora chamada Studio 8”, conta, fazendo referência à nova empresa de Jeff Robinov, que chegou a ser presidente do Warner Bros. Pictures Group. “Eles estavam realmente sondando o Channing Tatum para o papel e o Sam Raimi para a direção. Mas sabem como é. Hollywood é uma coisa louca. Até um projeto acontecer de verdade, astros têm que alinhar. Eu só acredito vendo”.

Bom, o nome do Neal Moritz também estava envolvido neste papo lá atrás. E agora ele tá oficializado como produtor. Será que significa...?

| Sharkey The Bounty Hunter
Roteirista: Michael Bacall (Scott Pilgrim Contra o Mundo)

Este aqui é a grande novidade do pacote, em especial pros leitores fiéis do Millar... até porque o gibi não foi lançado ainda. Na verdade, deve sair só no ano que vem.

A sinopse diz que tamos falando de uma história ambientada em um “novo e brilhante universo de ficção científica”. O tal do Sharkey é um caçador de recompensas de colarinho azul que rastreia criminosos ao redor da galáxia em um caminhão de sorvete transformado em foguete. Auxiliado por seu parceiro de dez anos, ele está em busca da maior recompensa de sua carreira. Bem Mark Millar, não?

“Minha esposa Lucy e eu estamos há 11 meses trabalhando no Netflix e é tudo o que esperávamos elevado à décima potência”, diz o tio Mark, em comunicado oficial. “Assistir a um filme baseado no seu trabalho a cada dois anos é incrivelmente emocionante, mas ver tantos filmes e séries ganharem corpo de uma só vez desta forma e com tanto talento é fora do comum. São escritores e diretores para quem tenho mandado mensagens como fã nos últimos 18 meses. Trabalhar com todos é extremamente empolgante. Este é realmente o ambiente mais criativo em que já atuei”, completa.

Se a gente for procurar no dicionário a expressão “este cara deu certo”, muito provavelmente veremos a foto de um moçoilo escocês de 48 anos. Pode ir lá que é certeza.