Com Exterminador do Futuro: Gênesis estreando nos cinemas, é hora de entender todos os acontecimentos desse universo e como eles podem coexistir (OU NÃO) numa mesma franquia
Viajar no tempo não é fácil. Não, não digo nem que seja por conta de fazer uma MÁQUINA DO TEMPO na vida real, mas a viagem cronológica na ficção já é por si só um rolo grande o suficiente, por conta da dor de cabeça e os furos que isso pode gerar no melhor dos roteiros. Normalmente, roteiristas e diretores criam certas regras pra como isso vai acontecer em um filme, buscando facilitar as coisas, mas ninguém vai lá e escreve essas diretrizes em algum lugar — é algo que fica nas entrelinhas, pra ser sacado pelo espectador. Mas, e quando uma franquia chega ao seu QUINTO filme, o QUARTO com viagens no tempo?
Fica uma bela duma confusão pra quem não estiver muito atento.
E é precisamente o caso de O Exterminador do Futuro: Gênesis, que estreia nesta quinta (2) aqui no Brasil. Pra te ajudar a entender melhor as idas e vindas desse filme, vamos todos tirar essas roupas, ficar NUS (sabe como é, pode dar uma merda muito grande se você ficar vestido) e entrar nessa máquina do tempo, numa viagem interessante que vai ajudar a responder diversas perguntas antes mesmo de você ir pro cinema.
Primeira coisa: viagens no tempo tem tudo a ver com algo chamado paradoxo de predestinação, algo que domina os dois primeiros longas desses robôs que viajam por aí pra matar todo mundo da família Connor — e é onde fica toda a beleza desses filmes.
O que o paradoxo de predestinação diz, basicamente, é que o viajante no tempo não pode influenciar o passado. Ao tentar mudá-lo, o que ele faz é apenas cumprir o seu papel na criação da história como a conhecemos. Em O Exterminador do Futuro, a Skynet manda o T-800 modelo 101 pro passado para matar Sarah Connor antes dela dar à luz ao cara que vai salvar a resistência humana, John Connor. Ao mesmo tempo, é enviado Kyle Reese para protegê-la. Só que Reese acaba se tornando justamente o pai de John, dando origem ao herói humano que as máquinas queriam evitar. Ou seja: ao tentar mudar a história, as máquinas criaram seu maior inimigo. Esse era o seu destino.
Ao mesmo tempo, o chip e a mão que sobraram do T-800 são a faísca de tecnologia que tornaria possível, na década seguinte, que a empresa Cyberdyne criasse a Skynet – o que fica claro em O Exterminador do Futuro 2: O Dia do Julgamento Final. Resumindo: ao tentar proteger o seu líder, a Resistência apenas dá aos homens o caminho para criar seu maior inimigo. Esse era o seu destino.
No primeiro filme, Reese diz pra Sarah (que, depois, fica repetindo) que “não há destino além daquele que fazemos”. Porém, o que o próprio enredo do filme revela é que não importa o quanto saibamos sobre o futuro, o que fazemos com ele é exatamente cumprir o nosso papel para que ele aconteça.
Ou deveria ser assim.
Acontece que, como você sabe, eventualmente essa regra foi quebrada – afinal, a saga do Exterminador precisava continuar. Em O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas, descobrimos que o Dia do Julgamento Final original foi evitado pelos acontecimentos do final do segundo filme. E é aí que é introduzido um novo conceito de viagens no tempo, que tem toda a importância para Gênesis: o MULTIVERSO. E que, nesse caso, anda de mãos dadas com o destino.
O Dia do Julgamento Final foi evitado em 1997 pra eventualmente acontecer no final de T3, em 2004, já que era o destino da Terra. Só que, a cada mudança, um futuro diferente surge, que pode ter pequenas ou grandes mudanças em relação ao destino original, ainda que guarde algumas semelhanças com ele — isso tudo sem afetar a existência das outras realidades.
De forma direta: não importa o que você faça pra evitar, as coisas ainda vão acontecer — só que não necessariamente da mesma forma. O destino, no final das contas, só pode ser adiado. E o futuro de onde você veio vai continuar existindo, nem que seja só pra você.
Por isso as ações no passado não afetam os viajantes do tempo antecessores ou o próprio agente do futuro que está fazendo essas mudanças, já que todos os futuros alternativos continuam existindo como parte de um intrincado multiverso. Um exemplo? O T-800 de T2 possui todos os dados do Dia do Julgamento Final acontecendo em 1997, o que é verdadeiro para a realidade de onde ele veio. Os eventos do final do filme não alteram, retroativamente, esses dados.
O que isso tudo quer dizer sobre O Exterminador do Futuro? Que a franquia tem, antes do início de Gênesis, dois futuros paralelos. O primeiro é aquele mostrado em algumas cenas de T1 e T2, que envia os dois primeiros T-800 e o T-1000 para 1984 e 1995. O segundo é o que é gerado a partir do final de T2, com o Dia do Julgamento Final acontecendo durante o T3 e visto em O Exterminador do Futuro: A Salvação – filme que, inclusive, em certo momento traz John Connor espantado com a evolução mais rápida dos Exterminadores do que ele esperava (ou, ao menos, das informações que ele tinha).
Mas aí vem Gênesis e volta pra linha do tempo original, lá de 1984...
Como somos legais, aqui vai uma linha do tempo explicativa de todos os filmes da franquia – ignorando a série de TV Terminator: The Sarah Connor Chronicles, livros e games (por motivos de: SANIDADE!), mas incluindo possíveis ESTRAGADEIROS do novo filme. Não que o trailer já não tenha feito isso, mas, né... :D
12 de maio de 1984 – Em uma última alternativa, a Skynet envia ao passado um Exterminador T-800 modelo 101 para matar Sarah Connor antes que ela dê a luz ao filho, John Connor, o líder da Resistência Humana. O soldado Kyle Reese volta ao passado para proteger Sarah – e acaba ele sendo o próprio pai do John.
1995 – Após a primeira tentativa fracassar, a Skynet envia um Exterminador mais avançado, o T-1000, para matar John Connor com 10 anos de idade. A Resistência envia um novo protetor, agora o Exterminador reprogramado T-800. No processo, descobrimos que o chip e um braço do primeiro Exterminador foram parar nas mãos da Cyberdyne, que os está usando como base para criar justamente a Skynet. John, Sarah e o T-800 explodem tudo na sede da empresa, buscando evitar o destino apocalíptico.
4 de Agosto de 1997 – Após uma lei especial ser aprovada, a Skynet é ativada, passando a comandar as decisões do Departamento de Defesa dos EUA sem a interferência humana.
29 de agosto de 1997 – Aprendendo em escala geométrica, a Skynet se torna autoconsciente às 2h14 da manhã, hora da Costa Leste dos EUA (ou 3h14, horário de Brasília). Em desespero, tentam desligá-la, mas é impossível. Pra se defender, a Skynet inicia um ataque nuclear contra a Rússia, que contra-ataca. É o Dia do Julgamento Final.
2029 – Após anos de luta, a guerra entre as máquinas e a Resistência chega ao seu limite. Como última cartada, a Skynet envia um robô T-800 para 1984. Kyle Reese, um soldado da Resistência, viaja no tempo para evitar que o robô evite o nascimento de John Connor.
Até 1997, segue a mesma linha do tempo dos outros filmes, com a diferença de que o Dia do Julgamento Final é adiado.
2003 – Um criminoso setenciado à pena de morte, Marcus Wright, faz um acordo doando seu corpo para que a Cyberdyne faça pesquisas após a execução. Em algum momento do mesmo ano, o Exército dos EUA encampa o programa de desenvolvimento da Cyberdyne, assumindo a Skynet.
24 de julho de 2004 – Sem conseguir localizar o paradeiro de John Connor antes do Dia do Julgamento Final, a Skynet envia um novo modelo de Exterminador, a T-X, para matar os tenentes da Resistência – mas, eventualmente, a T-X encontra Connor, que é protegido por um T-850 também enviado do futuro. Apesar de tentar, o futuro líder humano não consegue evitar um novo Dia do Julgamento Final, que acontece após o Departamento de Defesa dos EUA acionar a Skynet.
2018 – John Connor encontra Kyle Reese pela primeira vez. Além disso, é neste ano que a liderança da Resistência é morta pela Skynet, abrindo espaço para que John Connor se torne o líder deles. Ao mesmo tempo, a mesma Skynet avança com seus experimentos para combinar a fisiologia humana com as máquinas. Wright surge como o primeiro ciborgue, criado para se infiltrar na Resistência enquanto acredita que ainda é humano. Ao mesmo tempo, o primeiro T-800 é ativado.
2029 – Após anos de luta, a guerra entre as máquinas e a Resistência chega ao seu limite. Como última cartada, a Skynet envia um T-800 para 1984. Kyle Reese, um soldado da Resistência, viaja no tempo para evitar que o robô evite o nascimento de John Connor.
2032 – A Skynet continua ativa, enviando um T-850 com uma programação próxima a do Exterminador que viajou até 1995 para encontrar John Connor. Enganado pela máquina por conta do seu sentimento com o Exterminador, Connor é morto. Porém, a Resistência, por meio de seus tenentes e os filhos de John Connor, continua sendo uma pedra no sapato da Skynet. As máquinas enviam a T-X até 2004 para matar todos eles antes do Dia do Julgamento Final. Para protegê-los, a Resistência reprograma e envia ao passado o T-850 que matou John Connor.
Atenção: alguns SPOILER! do novo filme, apesar de algumas datas preencherem gaps dos dois primeiros filmes.
1973 – Após o insucesso das tentativas anteriores, a Skynet envia um T-800 para matar Sarah Connor quando ela ainda era criança. Um outro T-800, enviado por alguém desconhecido, não chega a tempo o suficiente para salvar seus pais e, após destruir o inimigo, passa a proteger Sarah.
12 de maio de 1984 – Kyle Reese é enviado para proteger Sarah Connor e, sem saber, ser o pai do futuro líder da Resistência. Ao chegar ao passado, se depara com uma Sarah (e uma realidade) bem diferente, que os fazem pular direto pra 2017 e evitar o Julgamento Final.
1997 e 2004 – O Dia do Julgamento Final não acontece, já que não foram deixadas partes do T-800 em 1984, o que não deu à Cyberdyne a tecnologia para criar a Skynet até essas datas; isso porque toda a treta do primeiro filme é eliminada logo nos primeiros minutos. Cria-se uma outra realidade.
2004 – Nasce Kyle Reese.
2014 – Um novo modelo de Exterminador é enviado do futuro pra garantir que a Skynet exista, numa linha do tempo alternativa criada depois que o Dia do Julgamento Final é evitado. É John Connor, que teve seu DNA alterado e agora é parte humano, parte máquina. A Gênesis começa a ser desenvolvida pela Cyberdyne.
Outubro de 2017 – A Gênesis entra em operação, revelando ser a Skynet. O Dia do Julgamento Final DEVERIA, mas não acontece; Kyle, Sarah e Papi vivem felizes até um pouco depois dos créditos, quando descobrimos que a Skynet ainda vive (e é quem provavelmente decide matar Sarah Connor criança)
2029 – Após anos de luta, as máquinas e a Resistência chegam ao seu confronto final. Como última cartada, a Skynet envia um T-800 para 1984. Kyle Reese, um soldado da Resistência, viaja no tempo para evitar que o robô evite o nascimento de John Connor – só que, enquanto isso, o próprio Connor é atacado em 2029. Com a mudança cronológica acontecendo durante o salto temporal de Reese, o soldado passa a ter conhecimento de duas linhas temporais distintas: a do filme original e aquela gerada a partir da chegada dos T-800 em 1973 — uma timeline onde John Connor não existe.
Agora, pare por um segundo e pense nas seguintes palavras: Exterminador do Futuro 6...