Você conhece a Mia Khalifa? | JUDAO.com.br

Ela tem 21 anos, nasceu no Líbano e merece nosso respeito.

Mia Khalifa, que um dia foi chamada de Mia Callista, nasceu em Beirute, no Líbano, no dia 10 de Fevereiro de 1993, e se mudou com seus pais pros EUA quando tinha apenas 11 anos. Formada em história da arte pela Universidade do Texas de El Paso, Mia se mudou pra Miami e desde Outubro do ano passado Mia tem trabalhado como atriz, já tendo trabalhado em 12 produções.

Body Made for Sex, Head Shot, Big Tit Brunette Loves Hard Cock, She’s Lovin’ It and Havin’ It Her Way são alguns dos filmes protagonizados por ela. Sim, Mia Khalifa é uma atriz pornô.

Apesar de um histórico (deletado) no /r/GoneWild como “dirtychemswife”, Mia só foi descoberta pela indústria pornô em Agosto de 2014, numa lanchonete em que alguns funcionários do Scoreland.com costumam almoçar, e toda a história foi sendo contada no blog do site, onde a chamavam de “Garota Peituda que trabalha na Lanchonete”, o que até deu nome a seus dois primeiros trabalhos por lá.

Com seu talento e potencial sendo exibido a quem quisesse ver, Mia logo foi contratada pelo BangBros que, em 14 de Novembro do ano passado, lançou Mia Khalifa is cumming for dinner, parte da série “Stepmom Videos”, em que madrastas trepam com os namorados de suas enteadas AND suas enteadas. Quatro dias depois, o filme foi liberado no PornHub e, a partir daí, sua vida nunca mais foi a mesma.

Cena do jantar em "Mia Khalifa is cumming for dinner". Kibe recheado, claro!

Cena do jantar em “Mia Khalifa is cumming for dinner”. Kibe recheado, claro!

A busca pelo nome dela foi tão absurda que, em menos de um mês, ela conseguiu DESTRONAR Lisa Ann do ranking de atrizes pornô do PornHub — e que, como você deve imaginar, tem nomes como Asa Akira, Sasha Grey, Alexis Texas, Tori Black, Gianna Michaels, Remy Lacroix e Kim Kardashian. Já são mais de 600 mil seguidores no Twitter e Instagram, atenção de jornais, TVs... Por quê?

Além de uma tatuagem escrita كلنـا للوطـن للعـلى للعـلم, que se fala mais ou menos “Koullouna lil-watan, lil’oula lil-‘alam”, que significa algo do tipo “todos por nosso país, pela nossa bandeira” e está nos primeiros versos do hino do Líbano (e outras relacionadas), Mia usa uma hijab (“o vestuário que permite a privacidade, a modéstia e a moralidade, ou ainda ‘o véu que separa o homem de Deus'”, que você provavelmente conhece como o véu que as mulheres muçulmanas usam pra esconder os cabelos) durante boa parte de Mia Khalifa is cumming for dinner — uma parte em que ela tá pelada e trepando.

Se já não é fácil ser mulher na sociedade em que vivemos, imagina uma que faz o que bem entende com o seu corpo e, ao mesmo tempo, comete o absurdo de “desrespeitar” uma religião?

“Sua cabeça vai ser cortada em breve, inshallah”, “Mia Khalifa é a coisa mais feita da história. Desculpa”, “Você percebe que você vai ser a primeira pessoa no Fogo do Inferno, né?“, “Você é gostosa, mas também uma decepção e vergonha pro nosso país“, disseram no twitter alguns, teoricamente, seres humanos à Mia, que passou também a ser fortemente criticada pela mídia libanesa. Teve um cara que chegou a postar uma montagem de uma decaptação do IS dizendo “em breve”.

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Viu ali a tattoo que tanto ofendeu a galera?

Viu ali a tattoo que tanto ofendeu a galera?

Suas respostas, ainda bem, encaixam direitinho com a ideia de ter feito o vídeo com a hijab. “Eu quero mesmo pegar um bronze”, disse ao imbecil que comentou sobre o Fogo do Inferno; “Seu pau duro deve estar bem confuso”, respondeu ao cara que até a acha gostosa mas, também, uma vergonha ao Líbano.

“Eles tem vergonha por eu estar ‘reinvidicando’ o Líbano — como se eu tivesse escolha”, disse, em entrevista à Newsweek, onde ela ainda fala sobre a reação dos seus pais que, nos EUA, se afiliaram ao partido Republicano, não falam mais com ela e a fazem se sentir culpada pela vergonha que eles sentem. “O Oriente Médio não tem coisas mais importantes pra se preocupar além de mim? Que tal encontrar um presidente? Ou conter o IS?”

“Eu nasci no Líbano, mas moro nos EUA desde os 11. Ainda me machuca saber que meu país tem nojo de mim”, disse Mia. “Eu tenho orgulho do Líbano, é só ver 3/4 das minhas tattoos. Eu não queria envergonhar ninguém. Não era minha intenção quando as fiz”, disse a um seguidor que pediu que ela não generalizasse ninguém em suas respostas.

Mia Khalifa

De fato, há libaneses que se solidarizam com Mia. Se solidarizam tanto que, entre 15 de Novembro e 07 de Janeiro, as buscas por seu nome no PornHub aumentaram em mais de 1000 vezes, assim como as visitas vindas do Líbano. Só entre os dias 03 e 06 desse ano, o país respondia por 25.8% das visitas ao site e, junto com Síria, Jordânia e Egito, somava 65,6% do total.

Só pra comparar, o Brasil foi responsável por 1.2% das visitas durante o período, com os EUA logo atrás, com 0.9%. ¯\_(ツ)_/¯

No momento em que escrevemos isso, Mia Khalifa ainda é a primeira do ranking de pornstars do PornHub e o tal do vídeo já foi visto mais de 13 milhões de vezes. Ela continua com sua carreira (ainda que diga que não pretende continuar com ela pra sempre), ativa em redes sociais, postando fotos do que faz, do que gosta, do jeito que faz, do jeito que gosta. E, se depender de nós, vai continuar fazendo tudo isso.

Mas ela ainda é uma garota de 21 anos, cujos pais se sentem envergonhados, ameaçada de morte, simplesmente porque nasceu num lugar específico e se orgulha disso, porque faz o que quer com seu corpo e se orgulha disso.

Essa, senhoras e senhores, é Mia Khalifa.