Novo filme do cineasta nerd que Hollywood ama odiar e odeia amar é o segundo de sua trilogia canadense – mas também marca a sua volta a um tipo de humor que sempre caracterizou sua “obra”
“As filhas de Johnny Depp e Kevin Smith são amigas balconistas que lutam contra um exército de minúsculos nazistas feitos de salsicha”. Se você precisasse definir Yoga Hosers, o mais novo filme de Kevin Smith, em menos de 140 caracteres, definitivamente seria desta forma que rolaria. Percebe um padrão aqui? BALCONISTAS. Sim, o Vulture, que assistiu ao filme na edição deste ano do Festival de Sundance, confirma o que muita gente imaginou ao ler esta breve sinopse e, depois, teve praticamente certeza assistindo ao primeiro trailer: “Yoga Hosers é o Kevin Smith das antigas, para o bem e para o mal”.
Basicamente, um mergulho em seu passado antes mesmo que ele resolvesse tirar do papel O Balconista 3 e Barrados no Shopping 2. Sabe aquele papo de aposentadoria, que o próprio Smith alimentou um tempo atrás? Pelo menos por enquanto, esquece.
De acordo com o crítico Bilge Ebiri, o cineasta traz de volta tudo aquilo que ele sabe fazer de melhor. “É uma variação do velho Smith de sempre: bobo, sem limites, estúpido, engraçado. Mas que ainda se mistura com elementos daqueles filmes de terror da sessão da meia-noite que ele simplesmente não poderia ignorar”. O jornalista admite que a chance de que o filme seja amplamente odiado é grande. Mas... “Me processem: eu achei surpreendentemente engraçado. E bizarro”.
Kevin Smith nunca foi mesmo, nem de longe, uma unanimidade. Mas mesmo os seus maiores detratores vinham se perguntando quanto tempo demoraria até que ele resolvesse fazer um filme baseado em uma história em quadrinhos, justamente nesta fase em que os gibis andam dominando as telonas.
Afinal, estamos falando de um fanático por HQs, que já escreveu títulos tanto pra Marvel (Homem-Aranha, Demolidor) quanto pra DC (Arqueiro Verde, Batman), que vive colocando referências a respeito em seus filmes e, diabos, tem até um reality show ambientado em sua loja de quadrinhos. Pois bem: apesar de não ter sido inspirado em um gibi, ele defende que Yoga Hosers é sim um filme de quadrinhos. Ou quase isso.
“Ao invés de um cara salvando o dia, nossos anti-heróis são as criaturas mais formidáveis e temidas que o ser humano já encontrou: duas garotas de 15 anos”, explica Smith ao THR. Pense que teremos inclusive uma participação especial de ninguém menos do que Stan Lee, repetindo a parceria de Barrados no Shopping e pronto, vai faltar só a vinheta da Marvel no começo. ;)
Segunda parte de sua chamada “Trilogia True North”, sendo uma espécie de continuação do asqueroso Tusk, Yoga Hosers conta a história de Colleen Collette e Colleen McKenzie (respectivamente Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp, e Harley Quinn Smith, filha do próprio diretor... Yup, o nome dela é esse mesmo), duas melhores amigas adolescentes da cidade de Winnipeg que já tinham sido apresentadas em Tusk.
Elas amam ioga, vivem grudadas em seus smartphones e têm, juntas, um emprego depois da escola como balconistas de uma loja de conveniência chamada Eh-2-Zed. Em uma sala nos fundos, elas ensaiam as músicas de sua banda, Glamthrax, que toca uma versão pop punk de I’m The Man – do Anthrax, não por acaso um grupo liderado por Scott Ian, que é tão entusiasta da cultura pop quanto o próprio Kevin Smith.
A vida das meninas parece que vai mudar radicalmente quando elas acabam sendo convidadas para uma festa de veteranos por um dos caras mais lindos da escola. Mas um mal ancestral se esconde em sua própria loja: um exército de minúsculos Bratzis, nazistas feitos de bratwursts (um tipo de salsicha alemã) e que têm uma verdadeira sede de sangue. Em seu caminho, elas ainda vão encontrar com satanistas, com fascistas canadenses há muito desaparecidos e com Guy Lapointe (Johnny Depp), lendário investigador da cidade de Montreal que também já tinha dado as caras no filme anterior.
Programado para estrear oficialmente só no dia 29 de Julho – com direito a uma “turnê” do próprio Kevin Smith, que vai viajar com o filme para apresentá-lo pessoalmente em alguns cinemas selecionados, entre os meses de junho e julho – Yoga Hosers teve sua primeira apresentação pública em Janeiro, na telona de Sundance, a meca do cinema independente americano. Com direito até à distribuição de um gibi escrito por ele mesmo, Yoga Hosers: When Colleens Collide, no qual descobrimos como as meninas se conheceram.
Para Smith, a apresentação teve sinônimo de nostalgia pura, já que seu primeiro filme, O Balconista (Clerks), de 1994, abriu as portas para ele justamente em Sundance. Na época, um filme estrelado apenas por seus amigos mais próximos, bancado com US$ 27.000 e financiado usando uma dúzia de cartões de créditos estourados.
Pula pra 2011, ainda em Sundance, com Smith agora longe de ser um zé ninguém, já um sujeito relevante dentro de um nicho específico da cultura pop, uma espécie de superstar do mundo dos podcasts. Depois de uma apresentação de seu Seita Mortal (Red State), eis que ele toma o microfone e, diante de uma plateia de executivos em busca de filmes para distribuir, diz que não está disposto a vender o filme pra ninguém – e que vai lançá-lo por conta própria. Tá bom, a estratégia não foi a mais bem-sucedida do mundo, mas ali ficou claro que o diretor estava querendo voltar ao seu jogo, à sua zona de conforto, deixando pra trás a experiência de rodar com grandes estúdios como a Warner (Tiras em Apuros, com Bruce Willis, pode ser o motivo que você procura).
Basicamente, foi o momento em que o sujeito decidiu parar de achar que podia brincar de fazer blockbusters e resolveu se focar na produção de coisas esquisitas que sua base de fãs tanto adora. Ou, como disse o Verge em sua resenha do filme: “É quando Kevin Smith para de se importar – e Yoga Hosers é a prova de agora ele se importa menos do que antes”, afirma o crítico Bryan Bishop. “Mantendo desde o começo a premissa de que não se importa mais em agradar a ninguém além de si mesmo, ele se torna imune às críticas. (…) Smith se dá total liberdade criativa e o direito de se divertir fazendo as coisas que gosta de fazer. Não fique puto se o filme não for bom: ele não estava tentando fazer um filme bom, de qualquer forma”.
No elenco, estão ainda Justin Long, Haley Joel Osment, Natasha Lyonne, Adam Brody, Jason Mewes e o próprio Smith, que vive os Bratzis (naquela que parece ser, pelo menos pelo trailer, uma das utilizações mais toscas de CGI da história). Mas não ache que ele vai parar por aí: o final da trilogia já está definido e vai se chamar Moose Jaws. O título não é por acaso: “será uma espécie de Tubarão, só que com uma morsa”, explica ele.
E sim, as Colleens vão aparecer mais uma vez. Estaria o diretor planejando construir novos Jay e Silent Bob pra geração atual? Veremos! ;)
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