40 anos atrás é hoje em Rede de Intrigas | JUDAO.com.br

Se estivesse vivo, Sidney Lumet provavelmente teria uma crise de risos com panelas a bater

Profético é pouco para Rede de Intrigas, filme de Sidney Lumet lançado em 1976. A crise do jornalismo, a histeria coletiva causada por apresentadores inescrupulosos, o sensacionalismo, o dinheiro tomando conta do noticiário… Tá tudo lá. E você precisa ver.

Disponível na Netflix, o filme traz um elenco espetacular para contar uma história que abusa de acidez e humor negro. Um veterano âncora de televisão (Peter Finch), prestes a ser aposentado pela emissora em que trabalha, declara em seu programa que na semana seguinte estourará os miolos ao vivo.

As consequências da sua bravata o fazem um hit televisivo, rapidamente transformado em uma espécie de profeta pela produtora interpretada por Faye Dunaway. Tudo para desgosto de seu ex-editor, na pele do ícone da Hollywood clássica William Holden.

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De âncora de telejornal, o apresentador ganha um programa no qual divaga em tons apocalípticos sobre a tensa realidade americana da época, às voltas com a Guerra do Vietnã, o escândalo de Richard Nixon, a crescimento das drogas perigosas e uma incômoda estagnação econômica.

A famosa rebordosa de pó que foi parte dos anos 70.

Rede de Intrigas segue assustadoramente atual, mesmo com seus 40 anos completados agora. Se estivesse vivo, Sidney Lumet provavelmente teria uma crise de risos ao ver a patética bateção de panelas que marcaram os pronunciamentos da presidenta golpeada Dilma.

A diferença é que as colheres de prata contra as Le Creuset não criaram um bordão tão inesquecível quanto aquele eternizado no filme.

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A lenta transformação do jornalismo em entretenimento , que no Brasil vai de Datena e Rezende espetacularizando a violência a Bonner e Renata interpretando grampos ilegais, é retratada fielmente pelo preciso roteiro escrito por Paddy Chayefsky.

Lumet, como de costume, usa de discrição e elegância para deixar sua história fluir sem chamar atenção para si. E, brincando com a estética televisiva — com direito até a um narrador de documentário em alguns pontos do filme — o diretor fez um dos mais incisivos estudos sobre os donos do poder midiático e sua falta de escrúpulos.

Se você não vai ver o filme (ou se vai, sem problemas também ) preste atenção pelo menos na seguinte cena. Um Ned Beatty possuído declama um monólogo que se tornou um dos símbolos do filme. E, em sua assustadora contemporaneidade, vai fazer sua espinha gelar. Tanto quanto gelou a espinha do atônito Haward Beale.

Indicado a várias categorias no Oscar de 77, Rede de Intrigas levou quatro: roteiro original (Paddy Chayefsky), ator (Peter Finch), atriz (Faye Dunaway) e Atriz Coadjuvante (Beatrice Straight). Só não levou mais pois no mesmo ano estavam entre os indicados Rocky, Todos os Homens do Presidente e Taxi Driver.

Eis um filme que é um produto típico da Hollywood dos anos 70. Destemido, inteligente, ousado e bem escrito pra cacete. E, nesse caso aqui, profético para caralho.

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