Cinema, quando é bom, é ótimo. Filmes até podem realmente ser “só” bons, como é o caso de A Travessia. Mas o cinema, bem feito, esse não tem limites... Exatamente como é o caso de A Travessia.

Este filme, em particular, faz bem o seu papel de contar a história de Philippe Petit (vivido por Joseph Gordon-Levitt), um acrobata francês que sente a necessidade de, da mesma forma que começa a fazer malabarismos com objetos que encontra, prender a sua corda em dois pontos e atravessá-los — e que, como você pode supor por isso, é um megalomaníaco e, muitas vezes, um puta de um escroto.

Acompanhamos, sem perda de tempo, desde o momento em que ele se apaixona por toda essa brincadeira, num circo, até realizar seu sonho — caminhar numa corda bamba entre as duas torres do World Trade Center. Mas no exato momento em que ele sai de uma ponta e consegue chegar na outra, o filme deixa de ser só um filme. Não é mais uma história.

O que passamos a sentir, fisicamente até, é cinema.

Assisti ao filme na sala IMAX do Espaço Itaú, em São Paulo. As poltronas, que estão longe de qualquer conforto, pareciam querer me tirar dali. Perdi a conta de quantas vezes eu fui até a beirada, querendo mesmo era levantar. Eu suava. Os óculos 3D, uma outra grande merda dessa sala, pareciam não funcionar mais. Incomodavam. Cheguei a tirá-los por alguns segundos, algumas vezes, mas não dava pra assistir ao filme com aquela imagem dobrada.

Na vida real, Philippe Petit ficou por cerca de 45mins na corda. Ajoelhou, brincou com policiais e gaivotas, deitou. Ele fez a travessia OITO vezes.

Eu não faço a menor ideia de quantas vezes ele atravessa a corda no filme. Porque isso não importa. Eu sabia que ia dar tudo certo. Mas também não importa. O diretor Robert Zemeckis parece que sabe exatamente como atingir cada ponto do nosso cérebro pra que nos sintamos EXATAMENTE naquela situação. E pra que, a cada segundo, a gente pense que vai dar merda. Que ele vai cair... Que nós vamos despencar.

SESSENTA E UMA CÂMERA filmando Joseph Gordon-Levitt em A Travessia. CINEMA, BITCH!

Saí do cinema cansado, quase 00h. Só queria dormir. Acordei e senti aquela dor no corpo por alguns segundos. E eu só fui ao cinema...

A Travessia é um bom filme. Mas é daqueles que não só merecem como PRECISAM ser vistos na maior tela, com o melhor som. Foi pensado pra isso. E o resultado é uma experiência cinematográfica impressionante que, pelo menos por enquanto, nenhum monitor ou televisão com home theater que você tenha em casa vai conseguir te fazer passar.

Não deixe essa oportunidade passar.