A voz do Angra quer mostrar a própria voz | JUDAO.com.br

O guitarrista Rafael Bittencourt, principal porta-voz da banda brasileira na atual formação, vai lançar um DVD solo e fala ao JUDÃO sobre suas canções e, claro, sobre o parceiro Kiko

Talvez você esteja achando estranho a gente se referindo ao Rafael Bittencourt, guitarrista do quinteto brasileiro de heavy metal Angra, como “a voz da banda”. Bom, vamos esquecer por um momento o fato de que ele também canta – e muito! – no mais recente disco de inéditas dos caras, o ótimo Secret Garden. E vamos nos lembrar que, sim, ele tem sido a grande voz dos caras nos últimos tempos, principalmente depois da saída do vocalista Andre Matos. Voz, essencialmente, no sentido de PORTA-VOZ.

Enquanto Kiko Loureiro, o amigo de tantas jornadas e o outro sobrevivente da debandada de membros originais que daria origem ao Shaman, assumia o papel do guitar hero intocável, do todo-poderoso senhor dos solos e da guitarra, Rafael saiu da casca low profile e foi tomar conta das entrevistas, das declarações oficiais. Com Secret Garden, pós-Edu Falaschi, veio o italiano Fabio Lione para os vocais – mas Rafael, ainda mais à vontade como uma espécie de co-frontman, veio cada vez mais pra frente do palco.

Não poderia existir, portanto, momento mais apropriado para a gravação de seu primeiro DVD solo, fazendo o registro de um show ao vivo, em novembro. Data e local ainda não foram revelados, mas o projeto já está para pré-venda na plataforma de financiamento coletivo Kickante. O que significa que ele vai, sim, ser gravado de qualquer forma – mas os primeiros a comprarem por lá terão direito a recompensas especiais, incluindo ter a foto na capa do DVD.

Rafael_03“O repertório representará a transição entre o momento que eu estava há sete anos atrás quando gravei o Brainworms I e o momento que estou hoje”, diz, lembrando de seu primeiro (e variado) disco solo, numa entrevista exclusiva para o JUDÃO. “Quero enfatizar músicas em português, que é algo para o qual não há muito espaço no Angra. Então, começar com algumas do Brainworms I, passar por alguns covers internacionais que representem minhas influências, alguns covers nacionais e possivelmente alguma música inédita minha. Ainda não sei se faço algum cover do Angra. Afinal, não quero que pensem que eu estou negando minha carreira no Angra, quando estou apenas construindo uma imagem paralela”.

O multi-instrumentista agradece o fato de que, segundo ele, os fãs já terem entendido que sua linguagem pessoal não é fundamentada no heavy metal e sim no rock de maneira geral, passando por vários estilos. “Minha influência é Rush, Queen, Raul Seixas e até Janis Joplin. Então, o cara que procura meu som está familiarizado com isto. A música Nacib Véio mistura Raul, Raimundos, Elis Regina e Rush e tive uma aceitação muito grande com ela, que chega a destoar do resto do álbum Brainworms I”, conta. “Muitos fãs vêm me dizendo que querem ouvir mais deste tipo de direcionamento. Acho que se isto é feito dentro do Angra, a rejeição será muito maior. Até porque os japoneses e europeus não têm a referência de Elis Regina ou Raul Seixas”.

Até o momento, o line-up de músicos que vão estar ao seu lado no palco não foi revelado – mas a questão que fica é: algum dos seus parceiros do Angra, pelo menos, está confirmado? Afinal, é recorrente vê-los uns nos discos dos outros – no primeiro disco do Bittencourt Project, por exemplo, lá estavam Kiko e Felipe Andreoli, baixista da sua banda original. “É possível que sim. Mas não há esta obrigação”, despista. “Por um lado, é sempre bom ter seus colegas de banda celebrando contigo e endossando suas vitórias individuais. Porém, alimento o desejo de construir uma imagem como um artista que não dependa do Angra. Acho que isto me dará liberdade para arriscar por outros territórios artísticos que o Angra não possibilita. Porém, eu quero muito que o Kiko participe, mas em novembro ele estará superatarefado com o Megadeth”.

Por último, ele revela algo que pouca gente imaginaria. “Quero convidar o Edu Falaschi. Estou torcendo para ele aceitar”. Junte isso ao fato de que, recentemente, Rafael e Andreoli estiveram tocando em um show do Almah, a nova banda de Falaschi, para entender que a relação entre eles sempre foi muito boa – e que a treta que culminou na saída do cantor, além de seu problema de saúde que ocasiona o refluxo, teria sido com o Kiko, conforme corre à boca pequena. Rafael não comenta.

O músico prefere falar deste novo momento. E do quanto está à vontade agora, também como cantor. “Adoro cantar. Sempre cantei pra compor, pra dirigir, pra tomar banho ou até para atormentar os que estão ao meu redor”, brinca. “Mas, não tinha a confiança de cantar profissionalmente. Hoje tenho esta confiança porque entendo que temos que fazer na vida o que gostamos e queremos, dando aos outros o direito de não gostarem. Deixar de fazer com medo do julgamento alheio é fomentar a própria frustração”.

Ele conta que, agora que Secret Garden está na rua e ainda falta tempo para um novo disco de inéditas da banda, existe espaço para uma continuação de Brainworms. “Provavelmente. Espero que em breve. Espero ter dentes e não precisar de fraldas geriátricas quando acontecer”, diverte-se. Ele revela que agora sente que consegue trazer um pouco do Bittencourt Project pra dentro do Angra e também fazer com que o Bittencourt Project se diferencie mais do Angra também. “Basicamente, as músicas do BP serão mais direcionadas para a cena brasileira e latino-americana e o Angra permanecerá destinado à cena internacional”, solta, para depois admitir. “Falei um monte e não expliquei, né? Hahahahahaha. Bom. Espere e verá”, dispara, numa piscadela.

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Tá bom, mas...e o Kiko?

Esta é a pergunta que o Rafael mais está acostumado a ouvir nos últimos meses, neste momento em que o parceiro de banda está envolvido com o novo disco do Megadeth. Afinal, existe um substituto para o Kiko em vista? A boataria tem dado conta de que, com o fim do power trio nacional Dr.Sin, outra instituição do rock pesado brasileiro, o guitarrista Edu Ardanuy seria a escolha ideal e estaria até em conversas com o Angra. Rafael meio que confirma. “Conversamos com o Edu, mas conversamos também com vários outros guitarristas”, diz, em tom misterioso.

Até o momento, o que se sabe é que Kiko estará com a banda no Rock in Rio, no palco Sunset, dividindo o show com Dee Snider (Twisted Sister) e com a cantora alemã Doro Pesch. Além disso, a intenção é que o músico brasileiro também participe dos planos da gravação do DVD de 25 anos da banda, em 2016. Mas de resto, ainda é tudo obscuro. “O fato é que não temos certeza sobre quais os shows o Kiko estará e em quais precisaremos de alguém. Por conta disto, ainda não conseguimos fazer uma proposta concreta para ninguém”, explica. “E obviamente, ninguém quer assumir algo incerto. Mas, em breve decidiremos e anunciaremos o que será feito”.

Mas se o Rafael pudesse escolher uma banda para embarcar numa empreitada tipo esta, do amigo Kiko, qual seria? Indeciso, ele dispara um monte de opções – que, obviamente, ajudam a traçar um retrato de suas influências musicais bastante variadas. “Eu ficaria indeciso entre Pink Floyd (de guitarrista base, apenas para assistir aos shows de graça no mundo inteiro), Peter Gabriel (nesta eu iria pagando pra tocar ou mesmo de roadie), Metallica (caso o Kirk estivesse impossibilitado) ou Rush (porque você reparou que eu penso pequeno). Mas aceitaria também no U2 e no Soilwork”.