Asterix e uma aldeia de irredutíveis gaulesas | JUDAO.com.br

Nova animação, que estreia essa semana no Brasil, a primeira a ter um roteiro 100% original e não inspirado em uma HQ específica, dá mais espaço para as mulheres da aldeia — conforme dá pra ver neste vídeo exclusivo pro JUDAO.com.br

No mês de outubro, um dos personagens mais longevos dos quadrinhos europeus completa 60 anos desde a sua publicação original — e para celebrar, Asterix ganhou mais uma animação para os cinemas, que foi assistida por mais de 4 milhões de pessoas só na França. Mas estamos falando de um presente de aniversário que precisava realmente ser especial e que, na essência, é justamente diferente não só de qualquer uma das 15 adaptações cinematográficas da HQ lançadas até o momento, animadas ou live-action, mas também de seus gibis.

Porque estamos falando, pra começar, que este Asterix e o Segredo da Poção Mágica é uma das raríssimas histórias 100% originais escritas especificamente para os cinemas, sem se basear em qualquer material pré-existente. A única vez em que isso aconteceu foi com Os 12 Trabalhos de Asterix, de 1976, que no entanto foi escrito e dirigido diretamente pelos criadores dos personagens, a dupla René Goscinny e Albert Uderzo. Agora, enquanto nos quadrinhos temos Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (arte) na difícil missão de substituir os dois autores que não estão mais entre nós, no cinema a missão de fazer algo inédito ficou a cargo dos codiretores Alexandre Astier e Louis Clichy.

Na real, não é a primeira vez que os dois trabalham com Asterix, já que tinham dirigido Asterix e o Domínio dos Deuses, de 2014, primeira iniciativa com animação e também o inaugural a ter a famigerada opção 3D. E enquanto Clichy, ex-animador da Pixar envolvido com produções como WALL·E e Up: Altas Aventuras , se envolve bem mais com os aspectos técnicos, a história tá nas mãos de Astier, ator que inclusive já tinha vivido um papel coadjuvante no live-action Asterix nos Jogos Olímpicos (2008).

“Asterix é, claro, algo que eu conhecia desde que era criança”, explica ele, em entrevista ao Film Inquiry. “Me sentir no direito de fazê-los falar como eu queria, claro, é intimidador. Tem que ser Asterix, mas tenho que encontrar meu lugar nisso. Se eu tenho algo como um pouco de estilo, talvez eu precise colocá-lo lá dentro e espero que isso não estrague o personagem. O desafio é fazer isso sem qualquer material original pra me ajudar. Tem que ser Asterix e eu ainda tenho que ter algo a contar”.

No fim, apesar de termos Asterix e Obelix na narrativa, Astier acabou optando por fazer uma história na qual eles não eram necessariamente os personagens principais. Na trama, ao cair de uma árvore durante a colheita de visco, o velho druida Panoramix decide que é hora de repassar seu manto e garantir o futuro da aldeia. Acompanhado por Asterix e Obelix, ele parte em uma viagem pela Gália em busca de um jovem druida bom e talentoso para transmitir o segredo da poção mágica. É quando entra em cena o seu antagonista, o druida malvado Sulfurix, que obviamente quer roubar a fórmula secreta...

Uma das primeiras novidades desta história acaba sendo, além do papel ampliado de Panoramix, a chance de vermos as mulheres da irredutível aldeia de gauleses tendo a chance de mostrar a que vieram. Porque são personagens como Boapinta (esposa do chefe do grupo, Matasétix) e Sra. Decanonix (a musa do ancião da comunidade) que acabam tendo o papel de defensoras da aldeia assim que as tropas romanas surgem em mais uma tentativa de dominação enquanto grande parte dos homens estão fora.

Em outras ocasiões, a opção de vermos mulheres bebendo a poção que dá superforça aos gauleses nem era sequer sugerida, neste filme elas tomam essa decisão sem consultar ninguém justamente para proteger suas casas e suas famílias. E tome socos e pontapés pra todos os lados.

O vídeo lá em cima, que você vê em primeira mão aqui do JUDAO.com.br, mostra um pouco do que podemos esperar nesta nova pegada — que, esperamos, faça o caminho inverso e contamine o trabalho de Ferri e Conrad nos gibis.

A busca do druida, aliás, faz com que os diretores possam se mergulhar numa questão mais filosófica: em se existindo uma poção mágica que permite que os fracos possam lutar com os fortes, por que mantê-la apenas nas mãos dos gauleses? Panoramix a criou para proteger um pedaço da Gália do domínio de Julio César, mas será que a poção não ajudaria ao restante do mundo? É aquela coisa toda de “por que não compartilhar o conhecimento com o mundo?” VS. “o que aconteceria se esse conhecimento caísse nas mãos erradas?”.

“Eu tentei algo que é meio proibido em Asterix, tenho que admitir”, explica Astier. “Eu também falei sobre idade e sobre morte, que é algo normalmente não permitido nas histórias. Na verdade, eu pensei que a resposta seria um NÃO quando fiz a proposta original, mas para a minha surpresa, foi um SIM, então tive que fazê-lo. Mas foi muito desafiador porque eu tinha que encerrar com o Asterix daquela mesma forma que ele começou. No meio do caminho, no entanto, pude discutir o futuro do vilarejo, das pessoas e dos estados que resistiam aos romanos. Tomara que tenhamos sido bem-sucedidos”.

Astier, meu querido: histórias sobre resistência andam sendo MUITO bem-vindas no mundo de hoje, tá? ;)

Asterix e o Segredo da Poção Mágica chega aos cinemas brasileiros no dia 19 de Setembro, em versões legendadas, com Christian Clavier, ator que viveu Asterix em dois filmes live-action, assumindo a voz do personagem em substituição ao ator Roger Carel, que se aposentou da dublagem; e em versões dubladas, com Gregório Duvivier no papel do pequeno guerreiro gaulês.