Pelo menos é o que Frank Miller está prometendo pra essa nova continuação do clássico, que deve girar em torno da libertação da Cidade Engarrafada de Kandor
Em 1986, Frank Miller ajudou a mudar o rumo dos quadrinhos de super-heróis com O Cavaleiro das Trevas, um verdadeiro divisor de águas para todos os autores que viriam nos anos seguintes (junto com Watchmen, é bom que se diga). Em 2001, Frank Miller não mudou rigorosamente um milímetro do rumo dos quadrinhos de super-heróis com O Cavaleiro das Trevas II, um verdadeiro espetáculo de vergonha alheia que jamais deveria ter sido publicado e que fez diversos autores apaixonados pelo original se perguntarem “MAS GENTE?”.
No dia 25 de Novembro, agora de 2015 mesmo, sai o primeiro número de O Cavaleiro das Trevas III, minissérie em OITÔ edições que é continuação direta do universo futurista/apocalíptico que Miller criou não apenas para o Morcegão, mas para todos os grandes heróis da DC (e que, vamos lembrar, não é considerado parte do canône para efeitos de cronologia oficial da editora). A pergunta que fica no ar ainda é: será que realmente precisa? Há quem diga, nos bastidores, que a DC está apostando neste projeto para ajudar Miller, visivelmente acometido e debilitado por uma doença sobre a qual nem ele e nem ninguém fala.
“O final épico que você não esperava está aqui porque você pediu! O Cavaleiro das Trevas se ergue novamente para enfrentar o nascimento da raça superior”, é o que diz brevemente a sinopse da DC Comics a respeito da obra, fazendo referência à Master Race do subtítulo em inglês. Bom, olha só, nem vou entrar muito no mérito desta coisa do “porque você pediu”, já que aquela segunda parte não me convence de que tinha lá muita gente pedindo por mais não... Mas que tal pensar no quanto o conceito da “raça superior”, algo intimamente ligado à ideologia do nazismo, diz a respeito da história que vem por aí?
“Na verdade, é algo feito mesmo para provocar. E parece que está funcionando”, brinca Brian Azzarello, que é co-roteirista de O Cavaleiro das Trevas III junto com Frank Miller, em entrevista ao Comic Book Resources. “Definitivamente, você vai descobrir que o título se encaixa totalmente com a história assim que começar a lê-la”, completa Andy Kubert, o desenhista – não, não é Miller que vai desenhar, diferente das duas partes anteriores, o que já era de se esperar depois do tenebroso trabalho na parte II.
Conversando com o jornal francês Le Monde, Frank Miller deixou claro que seu trabalho tem a intenção de incomodar. “Eu quero reações iradas. A maior parte dos críticos vai ficar enfurecida e eu estarei feliz por causa disso. É o que me dá a sensação de que conseguir alcançar algo”.
A tal “raça superior” do título, segundo Miller, são os kryptonianos. Mais especificamente, os kryptonianos que viviam há anos presos na Cidade Engarrafada de Kandor, que em Cavaleiro das Trevas II é capturada por Brainiac para tentar acabar com a confiança do Superman. “Na história, Batman liberta milhões de seres que ficam imediatamente superpoderosos quando expostos ao Sol amarelo, como o Superman. Então, Batman, Superman e os outros heróis mascarados devem se juntar para impedir a conquista da Terra”, explica ele. A idéia é que desta vez o Superman vai desempenhar um papel ainda mais importante – mas Batman, claro, é o protagonista.
“O que define o Batman não é a sua força física ou a sua capacidade de sair dando socos certeiros por aí, mas o fato de que ele é o homem mais inteligente do mundo. No passado, quando ele enfrentou o Superman, ele ganhou. Agora, ele enfrentará milhões tão fortes como Superman... mas se tivesse que apostar, eu ainda apostaria no Batman”, diz Miller.
Ele admite, no entanto, que esta situação é casca grossa demais para que o Batman dê conta 100% sozinho. “Felizmente, a DC Comics tem um vasto panteão de heróis, um exército que vai estar ao seu lado”, aposta o autor, sem contar muito. Já sabemos, por exemplo, que o Átomo/Eléktron vai estar no time, depois de ter sido libertado de uma placa de Petri na qual estava preso em DK II para se juntar à rebelião de Bruce Wayne. O Arqueiro Verde, o velhote comunista sem um dos braços e destaque do primeiro Cavaleiro das Trevas, também deve dar as caras. Capitão Marvel e Ajax, o Caçador de Marte, morreram e, em teoria, estão fora da brincadeira.
Do time poderoso formado em DK II, podem ser resgatados nomes como a Mulher-Maravilha, Flash, Homem-Borracha, Homem-Elástico, Questão e mesmo o Lanterna Verde, que agora vive com a família fora do Planeta Terra. E ainda personagens novos, que de alguma forma Miller deve aproveitar, como Lara, a superpoderosa filha de Kal-El e Diana, e Hawkboy, o filho do Gavião Negro que vive na Costa Rica e matou Lex Luthor como vingança pelo assassinato de seus pais. “Nós vamos continuar a história dos personagens que vocês já viram antes”, resume Azzarello, em tom misterioso.
Mistério, no entanto, não é exatamente como a gente pode definir as páginas finais do primeiro número, que o CBR teve a chance de ler e trazem uma “revelação impressionante”, devida e abertamente comentada por Azzarello: quem veste o uniforme do Batman não é Bruce Wayne, mas sim Carrie Kelley, a Robin do primeiro Cavaleiro das Trevas e a Catgirl do segundo. O milionário estaria, digamos, morto. Mas vai, fala sério, ele está MESMO morto? “Ah, vai, por que vocês estão perguntando isso mesmo?”, brinca Azzarello. “É um gibi. Quando é que alguém fica REALMENTE morto?”. Para quem se lembra de Cavaleiro das Trevas II, Bruce não estava exatamente em sua melhor forma no final, depois da luta contra o Dick Grayson (usando a roupa e a imagem do Coringa) superpoderoso graças a uma manipulação genética (não pergunte, é mesmo tão ruim quanto parece). Trata-se de um senhor de idade, com quase 60 anos. Mas ele é o Batman, né? O mais Marvel dos personagens da DC*.
Aliás, é justamente a questão de como retratar o impacto dos anos que se passaram que Miller considera como seu grande erro em DK II (ainda bem que ele enxerga ALGUM, pelo menos). “Quando comecei a trabalhar nesta série, eu estava obcecado com a ideia de saber como a aparência física dos personagens ficaria, com o tempo, todos afetados pelos combates. Agora eu percebo que o impacto da idade sobre o físico de um personagem está longe de ser a coisa mais importante que ocorre à medida que envelhecemos”, explica. Tanto é que ele promete abordar agora a questão da idade de uma maneira muito diferente. “Há muitas outras coisas que vêm com a idade: a maturidade, a experiência, que são tantas coisas que mudam o que aconteceu com Batman com o passar do tempo”.
Miller afirma que o Batman tem passado por várias fases ao longo dos anos. “Quando o descobri ainda criança, aos cinco anos de idade, ele era um pai rigoroso, uma figura paterna resoluta. Depois, comecei a ver uma coisa mais política, mais filosófica. As histórias evoluíram. E ele passou de um vigilante selvagem autonomeado para uma figura de autoridade, quase com um emblema próprio da polícia. Nos meus roteiros, ele se tornou um anarquista – e em Cavaleiro das Trevas III, ele vai se tornar uma figura verdadeiramente revolucionária”.
Quando questionado pelo Le Monde sobre a tal faceta anarquista do Morcego, Miller diz, quando você é um adepto da anarquia, considera quase que automaticamente que a ordem existente é corrupta e destruir é a primeira coisa que você quer fazer. “A luta irlandesa pela independência, assim como a resistência francesa, mostrou-nos que poderia ser necessário tomar as ruas para levantar-se contra a tirania. Às vezes, a única maneira de garantir que o mundo faz sentido é destruir a ordem existente”.
No fim, o escritor diz que esta é justamente uma das vantagens (e diversões) de se trabalhar com a figura do herói convencional. “Podemos sempre voltar, visitá-los e transformá-los”.
* Referência obrigatória à Marvel
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