A Comic-Con ainda pode ficar sem San Diego | JUDAO.com.br

Organização do evento ainda quer se manter na cidade onde tudo começou. Mas eles também já estão recebendo propostas pra um Plano B, pro caso de tudo dar errado…

A San Diego Comic-Con é o principal evento de cultura pop do mundo. Desde 2010, quando atingiu a lotação atual, reúne mais de 130 mil pessoas com seus ídolos do cinema, quadrinhos, TV, games e cultura pop em geral. Uma convenção mega importante que tem um grande problema: não há mais pra onde crescer, fisicamente falando. Algo que pode botar em cheque a importância da SDCC, principalmente com o crescimento de eventos como a New York Comic Con – que é organizada por outra galera.

A San Diego Comic Convention, empresa que organiza o evento que, oficialmente, é chamado de “Comic-Con International: San Diego”, sabe do desafio para se manter relevante no futuro. Por isso, após alguns rumores sobre abandonar a cidade natal, conseguiu em 2012 a aprovação de um plano de expansão. O Centro de Convenções, que hoje tem 57 mil metros quadrados no exhibit hall, seria ampliado em 33% até 2016 com um investimento de US$ 520 milhões e, em contrapartida, a cidade ampliaria as taxas hoteleiras dos turistas pra pagar as contas. Pelo lado da Comic-Con, o contrato com a cidade seria estendido para além de 2017. O acordo atual termina no próximo ano.

No entanto, já estamos em 2015 e nenhum tijolo foi colocado nessa expansão. É que, no ano passado, o projeto foi considerado inconstitucional por conta justamente dessa história de taxação de estadias, que não teria sido aprovada como se deve. Ou a Prefeitura encontra uma outra forma de financiar a obra ou nada feito.

Digamos que os organizadores e os políticos locais vivem um impasse. A Prefeitura não quer perder um evento que bota San Diego, California, no mapa da cultura pop, traz 130 mil pessoas pra passarem ao menos uma semana por lá no verão AND gastar US$ 177 milhões, de acordo com estimativas recentes. É muita grana.

Pra você ter uma ideia, o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 movimenta R$ 240 milhões (US$ 92 milhões, no câmbio de hoje), enquanto o Salão do Automóvel de São Paulo injeta outros R$ 258 milhões (US$ 100 milhões) na cidade. Já a Copa do Mundo trouxe R$ 1 bilhão pra capital paulista. Basicamente, uma SDCC é quase meia Copa do Mundo.

Só que acontece todo ano.

San Diego BOMBANDO durante a Comic-Con (Thiago Borbolla / JUDAO.com.br)

San Diego BOMBANDO durante a Comic-Con (Thiago Borbolla / JUDAO.com.br)

Os organizadores também não querem deixar a cidade, muito por conta do público adorar San Diego e por toda a estrutura existente no entorno, mas sabem que podem ser obrigados a fazer isso caso não haja uma solução – sem falar que, na visão deles, aumentar ainda mais as estadias dos hotéis não é um caminho. “Nosso dilema é muito simples”, contou David Glazer, o porta-voz da Comic-Con, ao Bleeding Cool. “Nós nos confrontamos com falta de espaço e diárias de hotéis caras para os nossos visitantes. Atualmente, por limitações de espaço no centro de convenções, a Comic-Con implantou um limite de visitantes, assim como de exibidores”.

Com o impasse sendo público e os ganhos financeiros sendo tão claros, outras cidades estão se oferecendo pra receber a convenção. Uma matéria recente do LA Times revelou que Los Angeles e Anaheim seriam as principais candidatas pra ~roubar a convenção. “As propostas que rebemos são incríveis, não é uma decisão fácil”, disse Glanzer ao jornal.

Anaheim é, como você deveria saber, a cidade da Disneyland e também fica na Califórnia, longe cerca de 2h de San Diego. Há um centro de eventos lá que tem 75 mil metros quadrados e que recebe a Disney D23 Expo (que é bienal) e a WonderCon, sendo essa última também organizada pela mesma equipe da SDCC. Só que é difícil acreditar que eles queiram ter os dois grandes eventos na mesma cidade. Pior: julho, mês de férias, faz com que os hotéis da região fiquem bem ocupados com os turistas que vão pra Disney. Imagina então adicionar mais uns 150 mil visitantes nessa equação...

Só que a possibilidade de Los Angeles está sendo encarada com alguma seriedade. Assim como San Francisco. O JUDÃO apurou que a San Diego Comic Convention entrou em dezembro com pedido de registro da marca San Francisco Comic-Con no United States Patent and Trademark Office, o equivalente americano a um órgão de registro como o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) aqui no Brasil. O mesmo órgão no último ano deu encaminhamento ao registro de Los Angeles Comic-Con pela mesma empresa.

Isso pode significar algumas coisas. A primeira delas é que eles apenas quiseram garantir que ninguém faça um evento concorrente nas duas grandes cidades californianas, área de atuação deles, depois de todo aquele rolo com a Salt Lake Comic Con. Só que como eles já possuem o registro de “Comic-Con”, com hífen, tal atitude não tem muita necessidade. Por outro lado, pode ser uma reserva de mercado, pro caso da mudança pra alguma dessas cidades de fato se concretizar.

WonderCon em tempos de San Francisco (Scott Beale / Flickr)

WonderCon em tempos de San Francisco (Scott Beale / Flickr)

As duas cidades são grandes concorrentes a receber o evento, sim. Só que há também uns poréns em ambos os casos. LA está longe de ter o charme de San Diego, mas tem praticamente toda a indústria da cultura pop por lá, facilitando a vida de muita gente. Hotéis não faltam e há um centro de eventos com 66 mil m² para exibições. Só que o trânsito é ruim, o transporte público não é uma maravilha, é mais suja, poluída, e com toda a certeza a cidade e a população não abraçariam o evento como acontece na cidade atual...

San Francisco é mais fria e, até agora, não tinha aparecido nos boatos sobre ~tirar a Comic-Con da cidade natal. Só que o registro revela que há fumaça aí. Na cidade do Dirty Harry há o Moscone Center, que possui um exhibit hall de 65 mil m² e, antes de ser remodelado, recebeu a própria WonderCon entre 2003 e 2011. Por outro lado, as estadias por lá costumam ser mais caras do que são vistas na atual sede.

Entramos em contato com a San Diego Comic Convention, que até o fechamento dessa matéria não nos contou detalhes sobre esses planos e como as duas cidades se encaixam neles.

De qualquer forma, podemos dizer que eles ainda não desistiram de San Diego. Primeiro, no discurso. “Nós nascemos em San Diego, nós amaríamos ficar em San Diego, porém precisamos tomar uma decisão que em última análise beneficie nosso público porque, sem eles, não haveria evento. É por isso que continuaremos o processo de negociação seriamente, ou até as negociações chegarem a um impasse”, disse David Glazer.

Isso também se reflete nas atitudes. No mesmo dia que entrou com o registro de San Francisco Comic-Con, os organizadores também pediram o registro de San Diego Comic Con International, sem hífen, provavelmente para se proteger pro caso da Justiça entender que o registro anterior deles não compreende a variação sem hífen, com defende o pessoal de Salt Lake.

Outro detalhe é que um desses novos pedidos pro nome da SDCC trazia, na descrição, o uso de “transmissão de vídeo-on-demand”. Diria que eles estão pensando em transmitir os painéis (mas provavelmente não os seus conteúdos, como trailers e vídeos exclusivos) via internet. É algo que a New York Comic Con já faz e, enquanto a mudança ou a ampliação não saem, pode ajudar a conter a vontade de quem quer tanto visitar a SDCC, mas não consegue chegar perto nem dos ingressos...

Quer saber? Anaheim, San Francisco, Los Angeles, sofá de casa... Nenhuma dessas opções terá nem um terço da fodacidade da atual sede, que realmente abraça o evento movimentando do hotel mais afastado a todos os bares e baladas do fantástico Downtown. San Diego pode até viver bem sem a Comic-Con, mas a Comic-Con nunca mais será a mesma sem San Diego. E a cidade está bem segura desse discurso. “Eu não acho que nenhum desses locais que estão tentando competir pela Comic-Con vão oferecer algo tão bom quando San Diego”, afirmou Steven Johnson, porta-voz da companhia que cuida do Convention Center da cidade, ao LA Times.

Que eles aprovem logo a construção do puxadinho e aí fica tudo certo. ;)