Obrigado demais.
OBRAS DO ACASO David Bowie costuma ser colocado na mesma e abrangente caixa do “classic rock”, ao lado de Stones, Beatles, Who, Hendrix... Mas é claro que essa caixa nunca serviu para Bowie.
Inquieto, ele nunca se contentou com o presente. E sempre olhou para frente. Nunca existiu um disco acomodado de Bowie. Mesmo os seus trabalhos menos celebrados podem ser acusados de qualquer coisa, menos de conformados e comuns.
Bowie fez arte.
Em suas mais variadas formas e intenções. Quando era roqueiro, resolveu virar soulman. Quando era ícone alternativo, decidiu brincar de crooner. Enquanto tocava em rádios roqueiras cheirando naftalina, apontava caminhos para a música eletrônica.
Quanto renasceu mais uma vez, morreu no terceiro dia.
E, como não poderia deixar de ser, transformou sua saída de cena em um acontecimento artístico. Uma encenação que começou com lançamento de The Next Day em 2013 e teve seu ato final há poucas horas, comovendo milhões de espectadores de sua tragédia.
Ninguém sabia exatamente o que se passava com Bowie, especialmente no que se referia à sua saúde. Hoje descobrimos que há 18 meses ele lutava contra a doença que o levaria embora. E o disco lançado na sexta-feira passada, dia de seu aniversário, Blackstar, ganhou outro significado.
O símbolo maior é a música Lazarus, nome do famoso defunto ressuscitado por Jesus na história bíblica. Se a música não foi pista suficiente do climax que estava por vir, seu clipe esfregou na cara de todo mundo imagens impactantes de Bowie preso numa cama, assombrado pela morte e pela inspiração.
Bowie transformou sua morte em arte. Conscientemente. De forma planejada. Não teria um jeito mais grandioso de partir do que esse.
Por isso, por mais triste que estejamos hoje, por mais estranho que pareça viver num mundo sem Bowie, temos esse conforto. Ele se foi como quis. De uma forma totalmente coerente e respeitosa com sua história.
Fazendo arte.
Vai em paz, Bowie. Obrigado demais.
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