Desajustados do mundo, uni-vos! | JUDAO.com.br

Uma imersão num mundo onde todos são desajustados, principalmente porque todo excluído é, assim que nasce, descartado do seio da sociedade

Desde que o mundo é mundo, desajustados, vez por outra, são o centro das atenções no cinema. Assim são Mad Max e, ainda mais, Furiosa, mesmo em meio a um apocalipse onde todo mundo é bizarro. E eles conseguem se destacar entre tantos personagens num ano recheado de megaboga blocksbusters. O inconformismo com o estabelecido inspira e ajuda a abrir nossos muitas vezes fechados e acomodados corações e mentes, e nos lembram, afinal de contas, o que envolve ser, de fato, humano.

Muita gente defende que esse talvez seja o grande papel da arte, o de não deixar que a gente seja engolido pela grande máquina de salsicha do sistema. E é realmente irônico que essa indústria de ideias embutidas tenha que se abrir a algo que pode enfraquecê-la para seguir viva.

Babe

Encaramos muitos anos de produções aguadas ditando o tom da telona. Chegamos ao limite de ter filmes como Shakespeare Apaixonado ganhando Oscar de Melhor Filme, e até Babe, o Porquinho Atrapalhado indicado a este mesmo prêmio. Com o tempo, as bilheterias dos cinemas começaram a derrapar, até que os blockbusters “com roteiro” se mostraram viáveis, e roteiristas, diretores e até mesmo o elenco do cinema independente foram ganhando espaço e fazendo bonito.

No entanto, podemos discutir esse trânsito mais a fundo num futuro texto. A verdade é que fiz essa introdução toda para indicar dois filmes independentes sobre desajustados, que acho fundamentais pra essa gente jovem e bonita que frequenta este JUDÃO nosso de cada dia se sentir mais à vontade nesse mundão véio sem porteira.

O primeiro é Últimas Conversas, de Eduardo Coutinho, grande documentarista, morto ano passado em meio a uma tragédia familiar. Este filme é uma imersão num mundo onde todos são desajustados, principalmente porque todo excluído é, assim que nasce, descartado do seio da sociedade, de certa forma.

Coutinho nos conduz por esse mundo tão próximo com rara habilidade e sem esconder que ele mesmo é um desajustado incorrigível e apaixonante. Uma belíssima despedida e emocionante corte final de João Moreira Salles.

A Delicadeza do Amor ou, como chama o título original, muito mais legal, “A Delicadeza”, é minha segunda indicação. O amor entre uma mulher linda e bem sucedida deve se dar com um homem charmoso e igualmente encaixado em seu status quo, correto?

Porém, e a vida desta mulher é atropelada por um descomunal porém, às vezes as coisas são como acabam sendo e não como tem que ser. Ainda bem. Oxalá seja assim com todo mundo, as histórias que quebram o coro dos descontentes são as melhores.

É difícil assistir e não se apaixonar pelo charme xarope de Audrey Tautou, pelo carisma de François Damiens e pela gente mesmo, quando o filme termina e a gente dá aquele suspiro de amor ao desajuste social, esse nosso companheiro inseparável.