Um filme de super-heróis (ou quase isso) que a indústria afirmou não saber como vender. Adivinha o motivo…?
Inclusão e diversidade em Hollywood são assuntos que nunca ficam velhos e precisam ser sempre abordados, já que as coisas andam a passos de formiga na indústria (e, vamos ser honestos, igualmente na vida). Pois enquanto o mundo prestava atenção em Vingadores: Ultimato, um OUTRO filme de gente superpoderosa nada ortodoxo entrou em cartaz nos EUA.
Dirigido por Julia Hart, Fast Color se passa em um futuro próximo e conta a história de uma mulher (Gugu Mbatha-Raw) com habilidades sobrenaturais que está sendo caçada por forças desconhecidas. Sem qualquer lugar para ir, ela decide retornar para a casa de sua família, de onde fugiu há muito tempo. Enquanto está sendo perseguida pelo xerife da cidade, ela começa a consertar os relacionamentos com sua mãe (Lorraine Toussaint) e sua filha (Saniyya Sidney), prejudicados após sua fuga.
Você ouviu falar desse filme? Pois é, poucas pessoas ouviram. Inicialmente exibido no SXSW em 2018, esse é o terceiro filme escrito por Hart e apenas a sua segunda direção na carreira. Mesmo com muitas críticas positivas, a produção estreou nos EUA somente em 2019, mas não exatamente como ela imaginou que seria. Sendo exibido em apenas 25 cinemas dos EUA, Fast Color arrecadou apenas pouco mais de U$ 76 mil dólares desde sua estreia em 19 de abril.
Uma semana após a chegada do filme às telonas, Hart e Mbatha-Raw participaram de uma sessão de perguntas e respostas moderada pela crítica de cinema e jornalista Yolanda Machado em Glendale, condado de Los Angeles. E, durante essa conversa no cinema Laemmle Glendale, Hart criticou justificadamente como a luta por inclusão em Hollywood é basicamente papo furado, já que todos falam sobre a necessidade de mulheres e minorias contarem histórias, mas não apoiam essas produções.
“Não havia um único anúncio [impresso] para este filme em qualquer lugar, e é um belo pôster com o rosto dessa linda mulher”, afirmou Hart, falando sobre a atriz Mbatha-Raw.
A diretora revelou que encontrou problemas para fazer o marketing do filme, porque os “guardiões brancos masculinos” da indústria afirmaram não saber o que fazer com seu filme... porque eles não sabiam como comercializá-lo. Eles não faziam ideia de PARA QUEM era este filme.
Um dos problemas expressados pela diretora era justamente que esses “guardiões” não se parecem com as pessoas contando ou protagonizando essas histórias e isso impacta negativamente como os filmes são comercializados. “Precisamos continuar comprando ingressos para esses filmes, precisamos continuar fazendo esses filmes e precisamos provar que estão errados porque estão errados”, argumentou Hart.
Co-escrito com seu marido Jordan Horowitz – sim, o produtor de La La Land -, Fast Color foi distribuído nos EUA pela Codeblack Films, uma empresa de entretenimento que se concentra em filmes que visam o público afro-americano. Em 2012, a empresa fechou um acordo de distribuição com a Lionsgate, mas o contrato foi encerrado no início de 2019 — então agora a Codeblack Filmes está funcionando basicamente de forma autônoma.
Hart ainda observou que muitas pessoas gostaram do filme após a primeira exibição do SXSW e, de fato, a produção está com belos 80% de aprovação no Rotten Tomatoes após 69 avaliações, com muitos críticos enaltecendo a interpretação da atriz principal. Portanto, o problema está longe de ser a qualidade.
Ainda durante essa conversa, Mbatha-Raw apontou que “as pessoas devem ter escolhas e as pessoas devem ter representação”. E ela não está errada. É incompreensível para mim, que gosto de ficção científica, de histórias de super-herói e trabalho com cinema, que eu só tenha ouvido falar desse filme por causa de uma reclamação da diretora sobre falta de espaço.
Disponível em apenas 25 cinemas em um país tão grande como os EUA, dificilmente o público conseguirá conhecer essa produção pra saber se estão realmente interessados nessa história. Enquanto não houver uma distribuição e uma divulgação justa, o distribuidor continuará argumentando que não sabe para quem deve vender essa história ou que o filme não tem público. Claro que não tem: ninguém sabe que ele existe!
Imagina se um Pantera Negra da vida não contasse com a estrutura de marketing e distribuição bilionária da Disney?
Passou da hora de Hollywood começar a colocar esse falatório todo em prática e dar espaço para novas histórias, contadas por novas pessoas. E essas pessoas existem, estão aí, só falta espaço para elas aparecerem.
Julia Hart não está nada errada em reclamar.
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