Discografia! Sepultura: Roots (1996) | JUDAO.com.br

O disco mais importante da trajetória do Sepultura completa 20 anos – que tal relembrarmos um pouquinho dos motivos de sua importância, hein? \m/

A-Arca JUDÔNICA tem como INTUITO resgatar algumas das melhores publicações dos 16 de existência do Judão... e d’A-Arca. Republicaremos por aqui algum artigo, entrevista, podcast ou qualquer coisa que tenhamos feito na nossa vida que faça algum sentido nos dias de hoje. Gotta get back in time!

Parece ter sido providencial que, no mesmo ano em que Roots, disco clássico do Sepultura, completa seus 20 anos de idade, duas notícias aparentemente sem relação se entrelacem.

Ao mesmo tempo em que Max e Iggor, os irmãos Cavalera, anunciam uma turnê em que vão executar o disco na íntegra, a atual formação do Sepultura vai lá e segue a tradição de inovação lançada pelo próprio Roots e toca num bloco de carnaval roqueiro com Carlinhos Brown – o mesmo sujeito que cantou com eles em Ratamahatta, aliás. Metal novamente cruzando seu caminho com música brasileira.

Tudo faz muito sentido, não? Ainda mais se pensarmos que Roots foi o último álbum de Max como vocalista da banda. :D

Para celebrar estas duas décadas, fomos buscar uma matéria especial que fizemos sobre Roots como parte da antiga série Discografia Judônica – matérias indicando álbuns clássicos de pop, rock clássico, metal, punk, indie, blues, jazz, soul, R&B, black music, MPB, eletrônico, rap, hip hop e tantos outros gêneros que você puder imaginar.

Tenho certeza que os fãs das antigas podem ficar enfurecidos e vociferar contra este humilde escriba por ter colocado Roots, justamente ROOTS dentre todos os discos do Sepultura, como destaque das matérias desta série especial. Calma que eu explico: tudo bem, você pode argumentar que Arise ou principalmente Chaos A.D. são as bolachas que, de fato, alavancaram o grupo brasileiro ao estrelato metálico mundial, mexendo com os ouvidos dos fãs gringos.

Concordo, tudo bem. E sei também que o não falta é fã do Sepultura que simplesmente ODEIA este disco.

Mas o caso é que Roots é, sem dúvida, o divisor de águas não apenas para o Sepultura, mas também para uma generosa fatia de bandas que se seguiram depois, fazendo o que se convencionou chamar por alguns de “groove metal”.

Sepultura-Roots-Large_band

Inspirado no ótimo filme Brincando nos Campos do Senhor (1991, dirigido por Hector Babenco), Max Cavalera levou sua trupe para uma incursão no trabalho percussivo de grupos como o Olodum, da Bahia, além de mergulhar na afinação baixa das guitarras de grupos como Deftones e Korn.

O resultado influenciaria não apenas o Soulfly, projeto de Max pós-Sepultura, mas também um número considerável de bandas do chamado nu metal, que passaram a usar e abusar de elementos percussivos tribais em seus trabalhos.

Roots dividiu os fãs? É obvio que dividiu, o disco está longe de ser uma unanimidade. Mas além de ter a canção que se tornou hino da banda (Roots Bloody Roots), de execução obrigatória em todos os seus shows, a bolacha aproximou o heavy metal de um público fora do nicho, com canções como Ratamahatta – que traz a inusitada participação do músico baiano Carlinhos Brown –, e isso sem perder o seu peso característico.

Há quem o chame de “batucada metal”, tratando o termo como depreciativo. Mas é impossível negar a importância e ousadia desta obra, que marcou época justamente pela coragem de experimentar o cruzamento de metal com música tipicamente afro-brasileira.

CURIOSIDADES

• A banda ficou tão empolgada com a incorporação de elementos tribais em seu som neste disco que uma das faixas, a instrumental Itsári, foi gravada ao lado dos membros da tribo indígena dos Xavantes, em sua terra natal, no Mato Grosso. “De certa forma, acho que nós, como banda, temos muita coisa em comum com os Xavantes. Também somos marginalizados pela sociedade, já que nossa música e estilo de vida demoram para ser assimilados e respeitados pela sociedade”, afirmou certa vez Iggor Cavalera, ainda com um único G no nome.

• O vocalista do Faith No More, Mike Patton, amigo de longa data dos integrantes do Sepultura, é um dos vocalistas convidados da faixa Lookaway, ao lado de Jonathan Davis, o líder do Korn, e do DJ Lethal, conhecido pelo trabalho com o Limp Bizkit.

• As últimas palavras da canção Cut-Throat são Enslavement, Pathetic, Ignorant, Corporations, formando a expressão EPIC. Trata-se justamente do nome da gravadora com a qual o Sepultura teve problemas durante o álbum anterior, Chaos A.D (1993).

Dictatorshit fala sobre o golpe militar que assolou o nosso país no começo da década de 60.

• As letras de Attitude foram escritas em parceria com Dana Wells, enteado de Max Cavalera, que também foi responsável pelo conceito do clipe da música, estrelado pela experiente família Gracie, muito antes da febre do MMA. Foi a morte de Dana que deu início aos eventos que colocaram Max em conflito com os companheiros de banda (incluindo seu irmão), levando à sua saída do Sepultura. Mas isso é outra história.

• Martin Popoff, um dos mais importantes jornalistas especializados em rock pesado, colocou Roots na 11ª posição da lista de melhores discos de metal de todos os tempos. “Uma obra-prima alcançada por uma banda com um imenso coração e um intelecto maior ainda”, diz ele.

• Atualmente, além do Soulfly, Max mantém uma banda paralela ao lado do irmão Iggor, com quem finalmente fez as pazes. O nome é sintomático: Cavalera Conspiracy. Mesmo com tantos desmentidos, os boatos sobre a reunião dos dois com Andreas e Paulo Jr. para uma turnê com a formação clássica continuam pipocando há anos.

• Em 2013, o Sepultura procurou novamente o produtor Ross Robinson para trabalhar em seu disco The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart. O resultado da nova parceria acabou sendo o melhor álbum da banda na fase Derrick Green.

LINE-UP
Max Cavalera – Vocal/Guitarra
Andreas Kisser – Guitarra
Paulo Jr. – Baixo
Igor Cavalera – Bateria

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS
DJ Lethal – Scratch em Lookaway
Jonathan Davis – vocais em Lookaway
Mike Patton – vocais em Lookaway
Carlinhos Brown – vocais, Berimbau, Timbau, Wood Drums, Djembê, Xequerê e Surdo em Ratamahatta
David Silveria – bateria em Ratamahatta

TRACKLIST
Roots Bloody Roots
Attitude
Cut-Throat
Ratamahatta
Breed Apart
Straighthate
Spit
Lookaway
Dusted
Born Stubborn
Jasco
Itsári
Ambush
Endangered Species
Dictatorshit
Canyon Jam