Dunga é filho da burrice | JUDAO.com.br

Pra gente como ele, é mais importante estar certo do que estar junto

Na última quinta-feira, no horário do jogo do Brasil com o Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia (sim, Rússia, meu amigo!), que vai acontecer em 2018, eu estava no indefectível Platibanda, bar velho guerreiro de uma Vila Madalena que praticamente não existe mais, matando a saudade de um amigo que mora no Canadá e dá as caras uma vez por ano, quando muito.

No interior do citado logradouro rolava a peleja da selecinha brasileña numa tevezinha camarada, mas estávamos sentados em uma mesa na calçada e não pareceu uma troca justa entrar para dar atenção ao time do Dunga, sob pena de abrir mão da brisa morna que vinha da rua.

SUDÁFRICA - BRASIL

Fosse uns anos atrás, seria impossível me convencer a não assistir a um jogo do time da CBF. Desde 2006, no entanto, a tentação de ignorar ou mesmo torcer contra foi me contaminando pouco a pouco. Aquele time cheio de craques, com o tal quadrado mágico, formado por Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano, que na época ainda era Imperador, apesar dos 100 quilos com o qual surrava a balança, não tinha alma e era comandado por um Parreira totalmente defasado, que não conseguia colocar ordem em seu fanfarrão elenco, fosse nos bastidores, fosse nas quatro linhas.

De lá pra cá, a coisa só piorou. Em 2010, com o citado Dunga, que nunca antes na história deste país, ou de qualquer outro, havia treinado uma equipe de futebol, que andava com lista negra de jogadores e imprensa a tiracolo, que levou Grafite pra Copa do Mundo, que permitiu que Jorginho, seu assistente, na época, integrasse um pastor evangélico à concentração da equipe, como se faltasse fanatismo religioso no futebol brasileiro. Deu no que deu, Kaká praticamente encerrou a carreira (o que veio depois é só picaretagem) após jogar no sacrifício, com problemas sérios de coluna, como os que levaram o tenista Guga à aposentadoria, Robinho foi espremido como se o técnico quisesse fazer um litro de suco com apenas uma laranja e por aí vai.

Kaká

Chegou 2014, a Copa foi no Brasil e vimos um show de tática, um desfile de futebol bem jogado, toque de bola, artilharia pesada, e gols, muitos gols, foi o melhor mundial que eu acompanhei na vida, a despeito da destruição total do time de Luis Felipe Scolari, herdeiro da defasagem e falta de postura do Parreira de 2006 e da herança nula da administração Dunga de 2010.

Estamos numa época em que a estratégia dentro das quatro linhas é um conceito evoluído, onde Guardiola, Klopp, Ancelotti, Luis Enrique, Sampaoli, Pekerman e Simeone, entre tantos outros, e, aqui no Brasil, Tite, Roger Machado e Levir Culpi, entre poucos outros, fazem a diferença. A maioria deles tem como característica não complicar, unir o elenco em torno de envolver o time adversário, não errar fundamentos como passe e cobertura na defesa e, nos momentos de dificuldade, reagir dentro do que foi treinado, sem desespero ou faltas absurdas.

A Espanha, que ganhou a Copa de 2010, tinha como base o Barcelona. A Alemanha, que ganhou em 2014, tinha como base o Bayern e o Borussia, o melhor de cada um. Dunga não enxerga um palmo à frente do nariz. Se ele levasse isso em consideração, lembraria que o meio de campo do Corinthians, por exemplo, é a base do líder do campeonato, que a zaga e os laterais do Grêmio tem aplicação técnica e tática impressionante, que os meninos (Ricardo Oliveira joga como um garoto) do ataque do Santos são incrivelmente eficientes juntos.

A despeito dessas opções, o vídeo abaixo mostra como a selecinha brasileña parecia um bando, enquanto Chile era um time.

https://www.youtube.com/watch?v=1h-34OnmjCw

Dunga nunca escalaria baseado em conceitos táticos de outros treinadores. Pra gente como ele, é mais importante estar certo do que estar junto, e é aí que dá tudo errado. Imagina que o cara simplesmente queria que os jogadores tivessem alma de pugilistas na partida. Sim, quando a gente espera beleza, ele quer sangue.

Dunga é filho da burrice e do vício, de uma CBF que após ver seu time ser triturado ano passado, o chamou para voltar, contratou o empresário de fama questionável Gilmar Rinaldi para ser seu chefe, que confiou a renovação dos talentos a um brucutu chamado Gallo, que tem seu ex-presidente, José Maria Marin, refugo da ditadura militar, preso na Suíça e seu atual, Del Nero, trancado no escritório com pavor de viajar para fora do país e acabar também encarcerado.

Sonho com o dia que veremos de novo, seja nos bastidores, seja em campo, a Seleção Brasileira voltar do limbo e jogar como o projeto Coisa Fina, do KL Jay, toca, tão ensaiado quanto alerta para o improviso, divertido, sorridente e sempre pronto pra outra.