A notícia chega exatos 15 anos desde que um primeiro filme foi lançado – deixando um sabor amargo na boca…
Uma disputa judicial que já durava uns bons anos nas terras distantes de Hollywood foi finalmente resolvida e teve seu final feliz anunciado esta semana. Os bardos mandam avisar que Dungeons & Dragons, a mais popular franquia de jogos de RPG de mesa do planeta, enfim terá sua ambientação de fantasia novamente adaptada para os cinemas. E mais: pelas mãos da mesma Warner, que levou para as telonas a obra de Tolkien, justamente o criador do mundinho de elfos, anões, dragões e a porra toda que é a influência máxima para a criação de D&D.
“Estamos empolgados em trazer o mundo de Dungeons & Dragons à vida na tela grande”, afirma Greg Silverman, o chefão da área de desenvolvimento criativo da Warner. “Esta é a mais conhecida marca de fantasia, um gênero que tem os fãs mais apaixonados. D&D tem infinitas possibilidades criativas, dando aos nossos cineastas imensas oportunidades para mexer tanto com os fãs quanto com pessoas que não conhecem a propriedade”.
O julgamento dos direitos foi para resolver a CONTENDA entre a produtora Sweetpea Entertainment e a gigante do mundo dos brinquedos Hasbro, atual detentora do D&D enquanto marca de jogo. Tudo começou láááááááá em 1994, quando o jovem diretor Courtney Solomon, na época um estudante de cinema com 19 anos, comprou os direitos para fazer um filme baseado em D&D da TSR, que criou o jogo em 1974. Quando a TSR foi comprada pela Wizards Of The Coast, ele renovou o contrato com a Sweetpea, sua produtora, em 1998. E eis que, dois anos depois, lançaria o tal filme, que por aqui foi batizado de Dungeons & Dragons – A Aventura Começa Agora. E dirigido pessoalmente pelo próprio Solomon.
Apesar da presença de um nome consagrado como Jeremy Irons (que, anos depois, afirmou que topou participar do filme porque precisava pagar o castelo que tinha acabado de comprar), o filme de D&D é, na falta de uma palavra melhor, uma bosta. “Uma aventura para principiantes muito mal-escrita e comandada por um mestre tão iniciante quanto”, disse um grande amigo na época. Pois é. Dos efeitos especiais toscos às interpretações equivocadas, nada funciona. A cereja do bolo é o Marlon Wayans no elenco, interpretando o seu papel de sempre, só que numa ambientação de fantasia medieval. Não, não e não. O resultado foi um fiasco de público e crítica, distribuído nos EUA pela New Line Cinema (a mesma que, no ano seguinte, faria um caminhão de dinheiro com um certo Frodo Bolseiro).
Enfim, o rolo começou porque, um ano antes, em 1999, a Hasbro – dona, por exemplo, dos Transformers – compraria a Wizards of The Coast e se tornaria dona de D&D. A relação entre Solomon e a Hasbro nunca foi das melhores, já que a companhia começou a cobrar que a Sweetpea fizesse a sua parte e mantivesse a franquia aquecida nas telonas. Bom, aí o Solomon se mexeu e “terceirizou” os direitos para a Silver Pictures, do produtor Joel Silver, subsidiária da New Line. O resultado foram duas continuações pavorosas para a televisão, ambas beirando a vergonha alheia: Dungeons & Dragons 2 – O Poder Maior (2005, lançado em DVD por aqui pela Flashtar) e Dungeons & Dragons 3 – O Livro das Trevas (2012, lançado em DVD por aqui pela PlayArte).
Especialmente estes dois filmes, de qualidade bastante questionável, ajudaram a acender o fogo da fúria da Hasbro – e o acordo de US$ 4 milhões que a Sweetpea tinha fechado para garantir os direitos para a Warner fazer um filme não ajudou em nada. Especialmente porque, vejam só, a Universal andava de namorico com a Hasbro para tentar emplacar uma superprodução inspirada em D&D. Ou seja: vamos todos pra frente do juiz resolver esta pendenga.
“A Hasbro tem o direito de fazer filmes baseados em suas propriedades”, afirmou, durante o julgamento, o advogado Jeremy Goldman. “O Sr. Solomon perdeu sua chance com Dungeons & Dragons — ele manteve os direitos durante 20 anos”. E sobre os filmes para a TV, a companhia argumentava que não podem ser considerados continuações pelos padrões da indústria. “Ele falhou em transformar D&D numa franquia, numa trilogia. (...) Apesar do nome, o terceiro filme não tem nem qualquer ligação direta com o primeiro”. Isso é verdade, embora, dada a qualidade de ambos, juro que não consigo enxergar vantagem em qualquer das hipóteses...
Bom, resolvida a questão, a Hasbro ganhou os direitos sobre D&D e, vejam só, engavetou o acordo com a Universal. O tal filme inspirado no jogo vai sair pela Warner. E mais: com produção de Brian Goldner e Stephen Davis (ambos da Hasbro), Roy Lee (de Uma Aventura Lego) e a inesperada dupla Allan Zeman e Courtney Solomon, da Sweetpea.
Sim, sim, isso mesmo. A gente te explica: Solomon tinha um acordo com a Warner e estava brigando na justiça com a Hasbro. Perdeu os direitos para a Hasbro e vai ser produtor do filme que eles vão fazer com a mesma Warner. Hollywood, né? ¯\_(ツ)_/¯
“Solomon e Zeman serão os produtores de tudo que tenha relação com D&D para o cinema e para a TV”, diz o comunicado oficial para a imprensa. “Estamos achando o máximo que a nossa amada propriedade vai finalmente chegar às telonas depois de 20 anos – e que isso será pelas mãos da Warner Bros., responsável pelas maiores franquias de fantasia das últimas décadas”, afirmou o titio Solomon, complementando o release.
Embora ainda não tenha um diretor confirmado, já se sabe que existe até um roteiro pronto, escrito por David Leslie Johnson (Fúria de Titãs 2). Mas, pelo que diz Stephen Davis, vice-presidente executivo e chefe do departamento de conteúdo da Hasbro, na comunicação para a imprensa, já dá para saber mais ou menos qual vai ser a pegada da história. “Esta é uma grande oportunidade de trazer a rica fantasia de Forgotten Realms à vida”.
Ora, vejam só.
Criação de Ed Greenwood, Forgotten Realms é talvez uma das ambientações/campanhas mais conhecidas do mundo de D&D. As aventuras se passam em Abeir-Toril, mundo ficcional do qual faz parte o continente de Faerûn – e têm um quê de multiverso ao abordar um antigo reino que foi aos poucos se afastando da Terra e sendo esquecido. As tramas são fortemente focadas em magia, no aspecto místico e sobrenatural, e nas questões das mais diferentes religiões. É em Forgotten Realms que vive, por exemplo, um dos mais icônicos personagens da mitologia do D&D, o poderoso mago Elminster (que lembra bastante o Gandalf, para efeitos de comparação). E é no mundo de Forgotten Realms que se passam justamente as aventuras da série de videogames Baldur’s Gate.
Sou obrigado, no entanto, a seguir o que muita gente comentou nas redes sociais e dar um bom conselho para a Warner: esqueçam este roteiro aí, que tem grandes chances — VAMO COMBINÁ — de ser uma porcaria. Que tal vocês se inspirarem num desenho animado de 1983, que também era uma adaptação baseada no jogo, e que fez um relativo sucesso entre meninos e meninas que são, hoje, marmanjos como eu? Um desenho que, originalmente, se chamava Dungeons & Dragons também. Mas que, aqui no Brasil, acabou batizado de... Caverna do Dragão?
Sei lá... Só uma ideia. :)
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