Com o objetivo de ser a cereja do bolo de uma semana nerd para entrar para a história, primeira prévia tenta ser épica e bombástica mas soa apenas… nhé.
Esta foi mesmo daquelas semanas memoráveis pra gente aqui no JUDÃO, sabe? Pô, a gente finalmente pôde assistir a Vingadores: A Era de Ultron – cuja resenha só sai no próximo dia 21, quando acaba o embargo, coisa e tal. Poucas horas depois, pudemos nos deleitar com um pico de pura paixão nerdística que foi aquele “Chewie, we’re home” do novo trailer de Star Wars: O Despertar da Força. Tudo lindo, tudo sensacional.
...aí vem alguém, em algum cinema brasileiro, vai e vaza o tal do trailer de Batman VS. Superman.
A escola Marvel de hype demonstrou que a melhor coisa a se fazer, nesse caso, é divulgar o vídeo oficial — que é, também, a maneira como o diretor quer que todo mundo veja seu trabalho que, não por acaso, seria exibido primeiro em cinemas IMAX. Apesar de umas boas horas de atraso, seguiram a cartilha e acabaram lançando o trailer oficialmente nessa sexta (17). Em HD, aquela porra toda. Tá bom, agora sim.
Vamos encerrar a semana nerd pré-feriado com chave de ouro, né? Não, infelizmente não. Porque este teaser de BvS não é, vá lá, ruim. Mas é, hum, na falta de uma palavra melhor, nhé. Do tipo que não empolga o tanto que deveria. Porque, sim, ele deveria. A função de um teaser, um trailer, ou qualquer caceta de material de divulgação, é sempre deixar com vontade de ver o filme, não é? Pois não foi desta vez.
Tá bom, tá bom, a gente sabe que é só um teaser, ainda vem muito mais por aí. Mas, vazado com câmera tremida ou em gloriosa alta definição, ele não passa de uma colagem de cenas que no fim das contas oferecem muito pouco, de novo. Podia mostrar bem menos e empolgar bem mais. Bastava saber O QUÊ mostrar. Pois é nos pequenos detalhes, nas sutilezas, que moraria a diferença aqui — e não é como se eles não soubessem disso, porque acertaram em cheio na Comic-Con do ano passado.
O uniforme do Batman? Pffff. A gente já tinha visto nas fotos. A cara do Ben Affleck grisalho? A gente já conhece. O Batman usando a armadura inspirada no Cavaleiro das Trevas de Frank Miller para encarar o Azulão? Novidade nenhuma. O clima sombrio e pretensamente realista, herança da bat-trilogia de Christopher Nolan, continua presente, e isso a gente também imaginava. Tem batwing e batmóvel (com tiro, porrada e bomba)? Isso a gente também já conhecia de outros carnavais. Me diz aí, então, Snyder: o que você entregou pra gente com este vídeo além de uma colagem de informações que a gente já tinha? Nada, né?
Até a história básica do filme, que todo mundo já sabia, está praticamente confirmada. O Supinho praticamente arrasou Metrópolis e uma parte de Smallville (ou Pequenópolis para os velhos, como eu) em sua batalha contra o exército kryptoniano de Zod em O Homem de Aço. Agora, o mundo se divide.
Existem aqueles que o admiram e veneram como a um deus, cercando-o e estendendo as mãos como que pedindo uma benção – e talvez até formando um exército com o seu símbolo para defendê-lo. E existem aqueles muitos que tem medo, que o consideram uma ameaça, um monstro, um falso deus.
Ou, como diz aquela que parece ser a voz de Lex Luthor, um demônio. “Demônios não vem do inferno abaixo de nós. Eles vem do céu”.
Pra dar conta desta criatura alienígena de capa vermelha e sem cueca por cima da calça, eis que Bruce Wayne sai da aposentadoria e volta a envergar a roupa de morcegão. Pronto. Esta parte vocês já sabiam. E o que mais? Que outra provocação Zack Snyder nos traz? Nenhuma. Se muito, o único ponto de real discussão aqui é a frase dita em off quando surge o rosto do Batflleck – e cuja voz é bastante similar à de Jeremy Irons, aqui o fiel mordomo Alfred: “É assim que começa. A febre. A raiva. A sensação de não poder fazer nada que torna homens bons... em crueis”.
De quem ele está falando? De seu próprio mestre, que vai vender a alma ao diabo para deter o alterego de Clark Kent? Do próprio último filho de Krypton? Ou quem sabe da população que, raivosa, se volta contra o Superman?
Aliás, será que tudo isso é culpa do Lex Luthor, botando um contra o outro?
E por falar em voz, preciso confessar: Affleck, a cada mês que passa, me convenço mais e mais de que você vai ser um bom Batman. Tinha lá minhas ressalvas com o senhor no começo porque, sejamos honestos, você não é lá o melhor ator de todos os tempos e seu retrospecto como diretor é bem mais interessante do que sua carreira como intérprete – mas, como bem disse Matt Damon, Batman não é Shakespeare. Vamos nessa. Te juro que, diferente do que muita gente por aí pensa, a sua presença é a coisa que MENOS me preocupa neste filme. Mas cara, faz uma força aí, vai? Fala com a galera da Warner para você não ter que dar uma de Christian Bale e fazer esta voz gutural babaca para o Batman? E ainda cheia de efeitos eletrônicos? Qualquer coisa, pode dizer que foi a gente que pediu. Ou, sei lá... Fala que foi a Ana Maria Bahiana!
Aquela estátua do começo do vídeo, erguida sabe-se lá por quem para um sujeito que destruiu mais da metade da cidade, me lembra da estátua que, nos gibis, estava no memorial do Superman... para lembrar a cidade de sua morte. Seria isso uma pista? Seria ela uma imagem que, ao invés de abrir o filme, vai fechá-lo?
Ela me parece tão sintomática quanto a frase que abre o teaser: “é realmente surpreendente que o homem mais poderoso do mundo seja uma figura controversa?”. Uma controvérsia que existe tanto no próprio filme (“seria o Superman um anjo ou demônio?”) quanto fora dele, entre os fãs mais devotados (“este lado sombrio não é o retrato que se espera ver do Superman”, reclamam alguns).
Olha só, a gente quer gostar deste filme, na real. Mesmo. A gente quer ter a chance de ver sempre bons filmes, de celebrar a cultura pop. Seja Marvel, DC, Star Wars ou Star Trek. Super-heróis ou de espiões, de caubóis, de astronautas. Estamos mesmo torcendo a favor.
Mas queremos saber a favor do que vamos torcer. E isso a Warner não deixou a gente saber ainda.
Você provavelmente não sabe, mas, sei lá, há uns dez anos existia um ótimo site do herói, Superman.ws, no qual os caras tinham feito uma enorme pesquisa sobre o Homem de Aço. Lá eles valorizavam aquele Superman clássico, da Era de Prata, com mega-super-poderes, o representante da verdade e da justiça, aquele que inspirou todos os outros super-heróis da ficção. Só que, pra eles, o herói estava morto. Morreu em 1986, quando a DC publicou a minissérie O Homem de Aço, fazendo um reboot no Azulão pelas mãos do John Byrne – um cara com, até então, uma carreira intimamente ligada à Marvel.
Naquela época, a DC já tinha percebido que aquele Supinho classicão não tinha mais o mesmo espaço no mundo. O novo Homem de Aço matava (sim, afinal ele matou o Zod, Quex-UI e Zaora, além do Apocalypse) e, aos poucos, foi se tornando mais próximo dos heróis que fazem sucesso hoje. Não, Kal-El não dá seus grunhidos, nem anda por aí fumando, mas tá longe de ser aquele herói de OUTRORA – e, até podemos dizer, mais próximo daquele criado por Jerry Siegue e Joe Shuster, que deixou a população linchar um meliante em Action Comics #1.
Coincidência ou não, Homem de Aço foi justamente o título do reboot do Superman nos cinemas. Assim como John Byrne fez há quase 30 anos, Zack Snyder deixou de lado as clássicas interpretações anteriores. Vimos um Superman despreparado, que indiretamente traz o perigo pra Metrópolis e diretamente é responsável por destruir boa parte da cidade. Um alien que mais inspira medo do que devoção.
Não acredito na Nolanização do Supinho. Simplesmente tiraram o que ele tinha como único, porque não vendia, e deram o que qualquer um pode ter, porque vende. O trailer de Batman VS. Superman só continua com esse clima.
E é por isso também que não empolga.
Eu dou de ombros pra esse Azulão. Ele não me diz nada. Não tem carisma pra se dar ao direito de estar em um dilema sobre ser útil ou não pra Terra. É a mesma coisa do Batman do Ben Affleck: ele ainda não disse a que veio. Só fez uma provocação, poucas horas depois de Han Solo dizer o que todo mundo já sabia: ele e Chewbacca estavam em casa.
Um copo de Coca logo depois de uma barra de chocolate.
Fazer heróis lutarem entre si antes de serem amiguinhos é sim uma boa fórmula. Olha só: até o próprio Byrne fez em Homem de Aço. Só que isso não significa que Snyder e a Warner precisam tacar fogo no mundo pra iniciar o seu Universo DC. Eles precisam de muito mais do que isso: precisam inspirar as pessoas. Afinal, porrada qualquer filme pode ter. Mas só grandes personagens vão empolgar e segurar a bronca do universo coeso que eles querem criar.
A Disney já sabe muito bem disso. Vamos esperar pra que a Warner não tenha que aprender isso na marra...
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